quinta-feira, 26 de abril de 2018

JAINISMO E OS ANIMAIS - por Jean Nakos


JAINISMO E OS ANIMAIS

Por Jean Nakos

Já houve quem dissesse que as religiões são os piores inimigos dos animais. Isso não é inteiramente falso. Os sacrifícios e matanças ritualísticas pagãs, bramânicas, judaicas, muçulmanas, etc., as refeições "tradicionais" (a base de peru, cordeiro, etc.) que entram, fora dos locais de culto e contexto litúrgico, feriados cristãos (Natal, Páscoa), com a aprovação entusiástica de Igrejas, são uma parte muito importante da crueldade humana sobre os animais.

Querem justificar essa situação dizendo que " matar dentro de um contexto de sacrifício religioso não é matar", ou ainda "os animais foram considerados dignos de serem objeto de sacrifício". Onde existe honra em matar um animal (muitas vezes de forma cruel) e ser ele comido por humanos que se acham espiritualizados? As religiões judia e cristã sabem bem que originalmente, o Deus da Bíblia ordenou dieta vegetariana para todos os homens e animais:

"Eu dou toda erva com sementes, que está sobre a superfície da terra, e toda a árvore que dá fruto e tem semente; isto será para a carne. Para todos os animais selvagens, todas as aves do céu, para tudo que se arrasta sobre a terra e que é vida animada, eu dou toda erva verde como alimento" e assim foi. Gênesis 29, 30 1.)

Mesmo religiões asiáticas tradicionais consideradas mais benevolentes para com os de outras espécies (várias correntes hindus, budistas, taoístas, etc) não souberem ou não puderam evitar a creofagia e o abuso de animais. Certamente, para essas religiões o homem não é a medida de todas as coisas, nem ele domina a criação. No entanto, essas religiões sucumbiram mais ou menos, cada qual a seu modo, a "lei do peixe", ou  o que nós, ocidentais, chamamos de "lei da selva": o grande come o pequeno.

Com respeito a essa questão, somente uma religião não rendeu-se a "lei do peixe" - o jainismo, hoje em dia, a menor religião (de menos adeptos), dentre as principais religiões da Índia. Certamente, que há budistas, hindus e taoístas conscientes desta causa e que são vegetarianos por convicção religiosa (Este é também o caso de minorias judaicas, cristãs e muçulmanas). Mas na verdade, apenas o jainismo continua a prescrever o vegetarianismo absoluto e a não violência para com todas as espécies de vida. As outras grandes religiões asiáticas permitiram que interpretações frouxas e pragmática alterassem  a mensagem a favor dos animais, corrompendo assim o que deveriam transmitir. 

Essa resistência do jainismo, eficaz e persistente durante milênios, influenciou, decisivamente, dois gigantes do pensamento e da moralidade do século XX - Mahatma Gandhi e Albert Schweitzer, dois grandes defensores da causa animal.

Origem do Jainismo

Até meados do século XX na Europa, os historiadores religiosos tendiam a ver o jainismo como uma dissidência do hinduísmo. Essas considerações apareceram, algumas vezes, no século IX a.C., com o ensinamentos de Parhvanatha, e, algumas vezes, no século VI a.C. com os ensinamentos de Mahavira, um contemporâneo de Sidharta Gautama, o Buda histórico. Hoje em dia, os historiadores da religião começam a dar mais credibilidade a versão tradicional  jainista. Esta afirma que o jainismo não é uma dissidência do hinduísmo. A justiça indiana parece ter provado que isto está certo: depois da apelação civil Nº8595 de 2003, o Supremo Tribunal da Índia, em 2006, declarou que, realmente, a religião jaina não é uma parte da religião hindu.

De acordo com a versão tradicional, o jainismo seria a religião mais antiga da Índia, com origens pré-ariana e pré- védica. Evidências arqueológicas sugerem que a civilização do Vale do Indo (que existiu de 2500 até 1750 a.C.) foi uma civilização vegetariana que se baseou no princípio da Ahimsa (não violência). Detalhe importante: o jainismo segue a tradição ascética e não a tradição sacerdotal e sacrificial.

Segundo a tradição, o jainismo se desenvolveu graças aos ensinamentos dos 24 Tirthankaras
* (Fazedor de vau - título que corresponde ao do profeta em outras religiões) neste ciclo de idades**, que através de seus esforços com base em um ascetismo extremo alcançaram a iluminação e a libertação (Moksha). O penúltimo Tirthamkara foi Parhvanatha e o último Mahavira. A doutrina jaina, como a conhecemos, chegou até os dias atuais quase que inalterada desde a época de Mahavira 2500 anos atrás. O jainismo se espalhou por toda a Índia e vários reis e imperadores o adotaram como religião oficial.

* Tirthankara - No jainismo , um Tirthankara (do sânscrito "Fazedor de vau") é um ser que conseguiu livrar-se do ciclo de renascimentos e por isso, se propõe a ensinar aos outros como também faze-lo. A palavra é sinônimo de "Jina" que quer dizer "vencedor".

** Segundo o jainismo, o tempo é eterno e cíclico. Em cada ciclo existem sempre vinte e quatro Tirthankaras. Todos os Tirthankaras  foram seres humanos que alcançaram um estado de perfeição espiritual. Os acadêmicos aceitam a existência histórica dos dois últimos Tirthankaras, que são eles: Parshvanata e Vardhamana Mahavira.

A Doutrina Jainista

A maior parte da doutrina jaina é resumida no Ayâram Gassuta, um texto que provavelmente remonta ao século III a IV a.C. que proclama:

"Todos os santos e veneráveis do passado, presente e futuro, todos dizem, anunciam, proclamam e declaram: é preciso não matar ou maltratar ou abusar, ou assediar ou perseguir qualquer tipo de ser vivo, nenhuma espécie animal,  ou qualquer outro ser". Este é o preceito puro, eterno e constante da religião proclamado pelos sábios que compreendem o mundo. A doutrina jaina é muito elaborada. Jaina significa "vencedor; aquele que derrotou os seus inimigos internos, suas más inclinações. O jainismo não acredita na existência de um Ser Supremo, Criador do Universo e Onipotente. De acordo com essa doutrina o universo não foi crido e nem terá fim. Os seres celestiais (os devas) podem influenciar os acontecimentos no mundo, mas eles não tem poder supremo. Eles são uma forma de vida como as outras e estão sujeitos, também a morte e a reencarnação.

A forma de vida humana é privilegiada porque é só por meio dela - por meio de um comportamento absolutamente não violento e uma vida estritamente ascética - que a alma pode se libertar do ciclo de nascimentos e alcançar a bem-aventurança. Com isso se entende que o jainismo é uma religião, particularmente ascética cuja adoção do seu código moral na vida prática é essencial.

Indiscutivelmente, o jainismo tem elementos comuns com diferentes correntes do hinduísmo e do budismo. Porém essas similaridades culturais são mais relacionadas ao teor filosófico delas. Os jainistas não acreditam em Brahma (a única realidade), nem no Trimurti (trindade hindu: Brahma, Vishnu e Shiva) e nem veneram as inúmeras divindades do panteão hindu.

Os jainistas acreditam na permanência dos fenômenos e no retorno cíclico contínuo e eterno das coisas o que os mantem afastados das doutrinas budistas. A diferença, também, aparece quando se considera o cumprimento das obrigações estritas e essenciais, previstos para todos os ascetas e leigos jainistas. Alguns outros pontos em comum existem entre essas duas religiões, sendo o mais importante o vegetarianismo. Só que diferentemente do budismo, para a religião jaina, o vegetarianismo é necessário em tempo integral para todos os fiéis.

O Caminho da Libertação é baseado nas Três Jóias que são a conduta correta, a atitude correta e o conhecimento correto. 

A conduta correta exige a prática de cinco votos:

1 - Ahimsa - é a não violência; não matar, ferir ou prejudicar, intencionalmente, qualquer ser vivo. este princípio aplica-se aos animais e plantas.

2 - Satya - dizer a verdade

3 - Asteya - não roubar; não tomar para si o que não lhe foi dado.

4 - Bramacharya - voto de castidade

5 - Parigraha-tuaga - desapego; desligar-se emocionalmente dos objetos mundanos.

Aqueles que buscam, efetivamente, a libertação absoluta devem seguir os cinco votos, renunciar ao mundo e viver como monges (ou freiras). Já as pessoas que vivem no mundo, procurando apenas eliminar o mau karma, mas valorizando e criando bom karma para renascerem num melhor estado de vida podem praticar os dois últimos votos (Bramacharya e o Parigraha-tuaga) de forma mais flexível. Os monges, também, devem seguir regras específicas de conduta que exigem maior controle das atividades da mente, do corpo e da fala; devem prestar atenção ininterrupta a cada ação, a cada pensamento, inclusive durante o sono. Também devem realizar penitência, meditação e austeridades (tapas) para se livrarem de karmas de vidas passadas.

O mandamento da Ahimsa é essencial. Todos os outros vêm depois dele. Aceita-se até que se viole uma ou mais das outras regras de conduta, mas e esta têm de ser obedecida.  Não é exagero dizer que Ahimsa é o centro da espiritualidade e ética jaina. É o sol que dá luz e vida a todo o edifício jaina.

O mais provável é que essa regra de conduta - a Ahimsa - tenha sido originária do jainismo e não do Bramanismo porque muito bem observou Albert Schweitzer:

" Os jainistas dão, fundamentalmente, uma importância de primeira grandeza para a Ahimsa, enquanto nos Upanhshads, essa regra se mostra um tanto apagada. Além disso, como poderia se conceber que a ideia de proibir  a matança pudesse ter vindo dos bramanistas, uma vez que eles se ocupavam especialmente de assassinatos para fins de sacrifícios?"

Há, portanto, todas as razões para se supor que o Bramanimo é que pegou emprestado esta regra do jainismo.

De acordo com o jainismo, a realidade consiste de dois princípios eternos: o jiva e ajiva (não jiva, ou pugdala). O jiva é composto de um número infinito de unidades espirituais idênticas que chamamos de "almas". O ajiva é matéria, mas um material que inclui o tempo, espaço, movimentos e repouso.

O karma mantém a alma completamente aprisionada na matéria. Todas as almas são iguais e podem ser presas em qualquer tipo de corpo. Após a morte, a alma que não foi capaz de se livrar do karma irá renascer em alguma forma de vida compatível ao seu tipo de karma.

Harshad Sanghrajka que é secretário-geral do Instituto de Jainology Jain, amavelmente nos deu os seguintes esclarecimentos:

"Na ontologia jaina o universo se compõe de Jivas (almas) e ajiva (matéria). A filosofia jaina classifica as almas em duas categorias principais. Há as almas encarceradas na matéria e as almas liberadas. As almas não liberadas existem em formas distintas nos quatro reinos que são: o reino dos seres humanos, o reino dos semideuses, o reino dos seres infernais, o reino da natureza (animais, insetos, plantas, etc). Os ensinamentos contidos nas escrituras e pregados por Mahavira, que viveu, a mais ou menos 2500 anos atrás, classificam o mundo em seis categorias: terra, água, ar, fogo, as plantas e os seres móveis que possuem dois ou mais sentidos. Portanto, todos os elementos da natureza são considerados vida. Este é o verdadeiro significado do porque  a proteção do ambiente. Os seres das cinco primeiras categorias têm um só sentido (o tato) e são as formas inferiores de vida. 

Todos os seres querem viver: nenhum deles quer morrer. Os seres vivos só podem sobreviver alimentando-se de outros seres vivos. Por ser assim precisamos comer. O jainismo permite que se comam as plantas, pois são formas inferiores de vida. Certamente, que isso é contra a Ahimsa, mas é uma violência necessária a ser feita. É por esta razão que os jainistas só estão autorizados a suprir as necessidades básicas. É proibido o desperdício de comida. Os alimentos só devem ser preparados quando necessário, evitando assim a contaminação, o consumo excessivo e o desperdício."

Dissemos acima, no que diz respeito ao animais que o jainismo sempre resistiu com sucesso a "lei do peixe" (a lei da selva). Harshad Sanghrajka disse que, em relação as plantas, o jainismo obedece a lei da necessidade; permite que seus seguidores comam vegetais, embora reconhecendo que isso é contra a Ahimsa. Devemos comer para viver. Os jainistas comem plantas que são,  segundo eles, o único comestível entre as formas de vida "imóvel" e com um único sentido - o tato. Isso quer dizer que as plantas sofrem menos do que as formas de vida "móveis" (homens, animais, insetos) e que tem vários sentidos.

Os jainistas estão cientes que comer vegetais é uma violação do mandamentos da Ahimsa. É por isso que eles se acham no dever de reduzir o "mal" que fazem as plantas, por come-las. Para isso, em primeiro lugar, tomam cuidado para não desperdiçar comida. Por isso o jejum. Muitos jainistas se abstêm de comer um dia por semana. Além de que o jejum (que nem sempre é total) desempenha um grande papel na vida espiritual e moral dos seguidores dessa religião. Ele é, especialmente, praticado quando há festas religiosas.

A forma mais extrema do jejum jaina é chamado de "Sallekhana" ou "Santhara" e, de acordo com certas opiniões, ele é semelhante ao suicídio. Quando uma pessoa decide realiza-lo, deve seguir um ritual adequado. A pessoa deve, gradualmente, deixar de beber e de comer. Esta redução gradual de comida e bebida pode durar anos, em alguns casos.

O "Sallekhana" parece concordar com Albert Schweitzer, que disse que para um seguidor de uma doutrina que defende a negação do mundo (como fazem as doutrinas indianas) a única consequência lógica seria sua saída voluntária desta vida.

 É muito peculiar o significado de karma no jainismo. No jainismo, o karma é uma coisa material que acarreta encargos, como uma droga que produz efeitos. Independente de tratar-se de boas ou más ações, para os jainistas todas as ações geram micropartículas de karma. O karma adere a alma, se mistura com ela e a transforma. A matéria kármica degrada a alma pura. Contaminada por essa matéria, ela vai de ciclo para ciclo, nascendo e sofrendo.

O karma é uma substância invisível que adere à alma e penetra no corpo, determinando como será a próxima reencarnação. Dependendo do karma, a alma não liberada pode renascer como um ser celestial, infernal, humano, animal, etc. A impureza da alma é uma propensão da existência. O sofrimento somente cessará quando se romper a sequência de nascimentos sucessivos. O objetivo final da existência é quebrar a cadeia de nascimentos e alcançar o estado de liberação  chamado Moksha: que é quando a alma goza de bem-aventurança e perfeito conhecimento.

O único estado divino - o paraíso -  reconhecido pelo jainismo é o desfrutado pelas almas livres que gozam de bem-aventurança e perfeito conhecimento. Levando uma vida ascética, piedosa e não violenta, os seres humanos podem destruir seu karma e libertar-se do ciclo de reencarnações... ou, pelo menos, melhorar seu karma para renascer em uma melhor forma de vida e avançar espiritualmente.

A Não Violência Para com os Animais e o Jainismo Contemporâneo

No que diz respeito a não violência para com os animais, é certo que nenhuma grande religião foi tão longe quanto o jainismo:

De acordo com a ahimsa (não violência), os jainistas rejeitam os sacrifícios sangrentos, o uso de carne, caça e pesca e qualquer luta animal. Eles, também, têm o cuidado e o dever de não esmagar, enquanto caminham, insetos e répteis. Em algumas seitas jainistas, os monges utilizam um pano sobre a boca para evitar a deglutição ou respirar os bichos que podem estar no ar. O jainismo, também, se vê obrigado a condenar a agricultura, já que quando o solo é lavrado resulta em prejuízo e sofrimento para os seres que lá habitam.

Esta imagem idílica dos jainistas quanto a questão animal ainda é um pouco moderada. E o primeiro a reconhece-lo foi Schweitzer, que observou que o mandamentos da Ahimsa visa o desejo de permanecer puro da corrupção do mundo e, não, genuinamente, a pena que se tem dos animais - o que sugere uma compaixão passiva e não ativa. Algumas décadas mais tarde, na índia Maneka Gandhi, um político importante e grande defensor dos animais, seguidor da ahimsa e do veganismo (apesar de não ter o jainismo como religião), parece compartilhar a visão de Albert Schweitzer. Em várias ocasiões ele apelou para os jainistas pedindo-lhes para que fossem mais ativos na defesa dos animais. Ele, especialmente, lhes disse:

"Eu não acredito que o ideal do vegetarianismo seja limitado a não comer carne. Todos os caminhos obscuros pelos quais os jainas ainda são obrigados a participar com relação ao consumo de produtos de origem animal (como sapatos, cintos e bolsas de couro, comprimidos vitamínicos, cosméticos, etc.) devem ser abandonados caso queiram ser verdadeiramente vegetarianos. Além disso, eu não acho que adotar a Ahimsa significa ser apenas vegetariano, mas muito mais. 

Ahimsa não quer dizer "viva e deixe viver", mas "viva e ajude a viver". Na verdade, priorizar os animais é uma definição mais positiva de Ahimsa. Minha experiência com os jainistas mostrou que eles são muito mais inclinados a fazer doações para financiar a construção de templos ou rituais do que mostrarem a compaixão ativa pelos animais. Na Índia, muito poucos jovens estão conscientes de que o jainismo é a filosofia mais poderosa e mais profunda do mundo. O jainismo é também uma filosofia econômica muito moderna, pois é simplista demais ver nele somente o aspecto do vegetarianismo religioso".

Na mesma entrevista dada ao jornal da Fundação Ahimsa, Maneka Gandhi observou que mesmo os jainistas mais maduros não entendem o poder que possuem as bases sociológicas e ecológicas do jainismo. Ele disse  que eles não entendem que, se quisessem, poderiam mudar a face da Índia. Ele, também, afirmou que na Índia muitos jainistas ignoram até que ponto os produtos de origem animal são usados na fabricação de utensílios domésticos. Assim, apela para uma campanha de informação destinada aos jainistas sobre a utilização de animais na economia produtivista. Parece que, em certa medida, esse desejo foi cumprido. O Instituto de Jainology Jain e outras organizações  agora fornecem essa informação através  de seus websites e de outras formas.

Em suma, Maneka Gandhi gostaria que o jainismo, uma das religiões mais antigas do mundo, fosse transformada em ideologia moderna, antiprodutivista, social, ecológica, vegana e protetora dos animais. A ideia é atraente, mas como alcançar essa transformação?...


De qualquer forma, por enquanto, o jainismo continua a ser uma religião e, como todas as religiões, sofre, também, uma força de inércia. No entanto, seria injusto insultá-lo uma vez que seus monges e monjas devem ser veganos e seus fiéis devem ser vegetarianos. Esta é a norma. Que outra grande religião faz isso? Mesmo o budismo, que para o ocidental comum parece a epítome da religião não violenta, não de maneira absoluta rejeita a creofagia. Buda em alguns casos considerava legítimo o uso da carne.

Seguindo a tradição, os templos das religiões indianas, muitas vezes anexavam a ele um hospital para seres humanos e um hospital  (ou refúgio) para os animais. Os templos jainas tinham uma conhecida tradição na construção desses abrigos para animais (panjrapoles). Alguns dizem que esse costume não é mais o que era. Segundo Maneka Gandhi, hospitais jainistas para animais quase não existem. Onde existem, não oferecem a experiência necessária para tratar animais doentes, velhos ou quase morrendo. De acordo com uma breve pesquisa realizada, hoje em dia, muitos jainistas se esforçam para não serem apenas vegetarianos passivos (mas, também, defensores da causa animal). Se considerarmos que a Índia tem uma área de 3.268 milhões de quilômetros quadrados e mais de um bilhão de pessoas e que os jainistas representam apenas um por cento - no máximo - da o população deste grande país, podemos dizer que, proporcionalmente, eles são o grupo religioso mais ativo no que se refere a proteção dos animais. Segundo Joelle Secondo, um americano amante dos animais e conhecedor da Índia, quase todas as vacas são abrigadas ou apoiadas por jainistas.

Uma população razoavelmente grande de jainistas vivem no estado de Gujarat, no noroeste da Índia. Em 1980, durante um período de escassez de alimentos no país, os jainistas organizaram um resgate de animais em grande escala. Em 2008 os jainas chegaram a uma decisão judicial que ordenou o encerramento de matadouros locais durante o período de um de seus jejuns religiosos. Essa decisão irritou simpatizantes da exploração animal na Índia e no exterior.

Por outro lado, de acordo com informações, no mesmo estado de Gujarat, existem pelo menos três hospitais/centros de abrigo para animais operando. Todos patrocinados por jainistas. Existem vários outros abrigos similares no resto da Índia dirigidos por jainistas em particular ou com apoio de outras fontes. Nos estados de Gujarat e Maharashta, a organização Samast Mahajan coordena eficazmente uma ampla rede de vigilantes para obter informações sobre as violações da lei sobre o transporte de animais. Dentro dessa organização os jainistas têm um papel de liderança. No Reino Unido os jainistas também apoiam financeiramente vários abrigos.

Não podemos concluir esse tema sem mencionar o grande hospital de Jain Delhi para aves. Este hospital foi fundado em 1956 por jainistas em Chadni Chowk (Delhi) e está localizado perto de um templo. O hospital é um edifício de três andares , que pode acomodar até 10.000 aves. Todo dia ele recebe de 60 a 70 aves doentes ou feridas. A taxa de reabilitação e cura é de 75%. Aqueles que trazem uma ave podem, se assim o desejarem, rezar pela sua recuperação no templo das proximidades. Este hospital para pássaros tem uma unidade de terapia intensiva e um laboratório de pesquisas.

Doutrina Pouco conhecida,  Mas Vanguardista 


O jainismo é uma doutrina geralmente ignorada no pensamento europeu. Schopenhauer - que foi um admirador das doutrinas indianas e defensor dos animais - falava sobre os Vedas, os Upanishads, o Bramanismo e o Budismo. É verdade que em seus dias o jainismo era considerado como uma sub escola  do Budismo. 

Tudo indica que realmente o único filósofo europeu famoso que foi influenciado pelo jainismo foi Albert Schweitzer - influência essa não só manifestada em seu pensamento, mas também no domínio da ação. É interessante notar que Schweitzer quis estabelecer, ao lado de seu hospital de Lambaréné, no Gabão, um abrigo hospitalar para animais...

Maneka Gandhi Nitin Mehta (presidente dos jovens vegetarianos indianos) tem razão para querer promover o jainismo como uma doutrina capaz de dar respostas filosóficas, econômicas, sociais e ecológicas para problemas graves no mundo de hoje. Conforme sabemos, já Mahatma Gandhi, com sua doutrina de resistência não violenta (Satyagraha) inspirada pela Ahimsa, revolucionou a ação política moderna. Quem sabe um outro gênio indiano (inspirado pelo jainismo) não poderia fazer mais pelo bem de todos os seres vivos deste planeta?

Nota: O autor deste artigo agradece a Nemu Chandaria, OBE, e Harshad Sanghrajka, respectivamente vice- presidente e secretário geral do Instituto de Jainologia por responder suas perguntas sobre o jainismo.


sexta-feira, 9 de junho de 2017


RELIGIÃO - UMA DIMENSÃO FESTIVA

Prédica de Pujya Gurudevshri Rakeshbhai




A religião significa transformar a vida em uma celebração. A dimensão da religião é a dimensão da festa (festival). Essa dimensão festiva é a coisa mais importante a ser entendida. Mas o que constatamos é que isso - essa consciência, essa vivência - perdemos totalmente. Por festivo, refiro-me a capacidade de desfrutar, momento a momento, tudo o que vem a nós.

Ficamos tão condicionados - vivendo no "piloto automático" - e os hábitos tornam-se tão mecânicos que, mesmo quando não há negócios a serem tratados, nossas mentes funcionam como máquinas. Mesmo quando estamos jogando, nos distraindo, não conseguimos usufruir esse recreio. O que acontece é que se você joga apenas para ganhar, isso torna-se trabalho, não diversão. Sendo assim, o que está acontecendo não é importante. Para você o resultado é importante.

Nos negócios o resultado é importante; na festa o que é importante é o ato. Se você pratica um ato significativo, então você se torna festivo e pode celebrá-lo. Sempre que você está em estado de celebração os seus estreitos limites se rompem. Você não precisa mais deles; você os dispensa. Neste momento, você não está mais escolhendo; porém permitindo que tudo venha. E, no exato instante em que você permite que toda a existência entre, você se torna uno com ela. Há uma comunhão.

Esta comunhão, essa celebração, essa consciência sem escolha, essa atitude não comercial é a religião. A festa é a vivência do momento, o ato, sem se importar com os resultados, nem em conseguir algo. Não há nada a ser alcançado. Você pode aproveitar o que está aqui e agora.


Deixe Fluir

Em qualquer ocasião, o que quer que você receba, aceite-o completamente. Fique contente. Não anseia por algo além do que aconteça.

Costumamos fazer esforços para mudar o curso dos acontecimentos porque nossas mentes foram moldadas para acreditar que certas coisas nos dão felicidade e outras coisas nos dão tristeza. Nossa convicção de que determinado objeto, ou um indivíduo ou uma situação é favorável ou lucrativa resulta em um gosto por ele. Mas se suspeitarmos que esse algo ou alguém nos traga a menor desvantagem ou prejuízo, desenvolvemos uma aversão  e tentamos alterar isso. Acreditamos que: "Isso deve acontecer dessa maneira e não daquela". Essa atitude errada, apenas produzirá queixas; e essas queixas induzirão você a fazer esforços para mudar a situação... o que resultará em decepção.


A corrente do rio da existência, o fluxo natural da vida, o fluxo inerente de mudança de qualquer substância não pode ser obrigado a seguir a direção de nossos desejos. Ele flui de acordo com seu próprio curso natural. Se tentarmos nadar contra a corrente, sentiremos que o rio está se opondo a nós; que o rio está lutando contra nós, empurrando-nos na direção contrária. Mas o rio não nos conhece, nem quer nos combater. Somos nós que estamos lutando com o rio, porque estamos tentando nadar contra a corrente.


Por que nós fazemos isso? Por que não somos positivos para com a vida? Por que temos uma atitude negativa? Por que esse conflito contínuo? Por que não estamos preparados para fluir com a vida em sua totalidade? Qual  a razão por trás de não adotarmos uma atitude de aceitação pacífica?


É o ego. Nosso ego só pode sobreviver se ele nada contra o fluxo do rio, e não se ele estiver em harmonia com o rio. Se temos que aceitar pacificamente tudo o que acontece, isso não engrandece nosso ego. É quando o ego luta - quando diz que não - é que experimenta sua própria existência. Se sempre tiver que dizer sim, não pode sobreviver. Examinemos a nossa mente - a maneira como agimos e reagimos. Note o quão fácil é para nossa mente dizer não, e quão difícil é dizer sim. Porque ao dizer não, o ego é nutrido e, dizendo sim, a nossa individualidade é perdida. Nós nos tornamos uma gota no oceano. No "sim" o ego não sobrevive e é por isso que é tão difícil dizer "sim".




A Gramática da Felicidade e da Tristeza


Então, devemos permitir que a vida nos leve, que os acontecimentos ocorram sem que nada façamos? Devemos simplesmente, nos sentar com os braços cruzados a "ver a banda passar", sem que façamos qualquer esforço?


Aceitar não quer dizer que você tenha de ser preguiçoso ou acomodado. A aceitação não aconselha você a fugir de suas funções, obrigações ou responsabilidades.Saber isto é apenas um ponto para o conhecimento do segredo da felicidade. Não é apenas a mudança externa, mas também uma transformação interna que deve acontecer na vida de um buscador. Portanto, continue com o seu trabalho, porém não interfira. A vida funciona em seu próprio ritmo - às vezes lento e pacífico, às vezes rápido e turbulento. Caminhe com esse ritmo, pois aí reside o verdadeiro significado e felicidade da vida. Estar em harmonia com a realidade, pacificar qualquer situação e aceitar, inclusive, os ruídos desagradáveis - este é o caminho verdadeiro.


Se você entender e aceitar as coisas, elas permanecem as mesmas; se você não as entender ou aceitar, elas, também, continuam permanecendo as mesmas. Mas a nossa felicidade ou tristeza, a nossa aceitação ou oposição, o nosso consentimento ou reclamação, dependem da nossa compreensão, ou da falta dela. A causa raiz da agitação, tristeza ou raiva não é um objeto, um indivíduo ou uma situação, mas a nossa própria atitude. Se entendemos, somos felizes; se não entendemos, somos infelizes - esta é a gramática da felicidade e da tristeza.




Mudança de Atitude


Perturbação significa não aceitação. Embora culpemos as situações externas pelos nossos sofrimentos, na realidade, a culpa está dentro de nós. O obstáculo não está fora, está dentro da mente, nas crenças errôneas lá estabelecidas. A causa raiz do transtorno, tristeza ou raiva não é um objeto, um indivíduo ou uma situação, mas a nossa própria atitude. O que chamamos de perturbação é meramente não aceitação da presente circunstância. No entanto, nós temos a chave para essa questão. Assim como condicionamos a mente, também, podemos descondicioná-la. Não é difícil mudarmos nossa atitude. No momento em que a nossa atitude de não-aceitação é corrigida, no momento que aceitamos a realidade como ela é, a perturbação deixará de existir. Quando nosso foco muda, mudam também as circunstâncias que transformam nossa atitude. A partir daí entramos numa dimensão incondicional de religião, de paz e harmonia.


Aqui uma pequena narrativa para atestar isso. Um viajante temeroso das condições  do tempo, pois disto dependia continuar sua viagem, ou não, perguntou a um pastor: "Como será o tempo hoje?". Supunha, uma vez que os pastores vivem mais perto da natureza, ele teria uma melhor ideia da previsão. O pastor respondeu imediatamente: "O tempo hoje será exatamente como eu gosto." O viajante ficou surpreso e perguntou: "Como você pode ter tanta certeza de que o tempo que far  hoje é exatamente aquele de que gosta?" O pastor explicou: "Senhor, eu aprendi na vida que o que eu gosto nem sempre, exatamente, acontece. Por isso acabei por mudar minha atitude. Decidi, a partir de então, que tudo que a vida me trouxer, eu devo gostar. Com base nesta pratica, posso, então lhe dizer que o clima será exatamente aquele que eu gosto."




Regozije-se! Comemore!


O testemunho acima comporta a simples verdade de que aceitação sincera é um estado de alegria. Agora, nenhum evento ou incidente será capaz de perturbar este êxtase. O favorável ou o desfavorável não é uma questão de um evento externo, é uma questão de preparação da mente. O que quer que aconteça, deixe acontecer... Que seja... sem nenhuma queixa, sem vontade e fazer qualquer alteração.


Nade com a corrente, não se oponha, não empurre. O que quer que aconteça ao seu redor, na sua vida, deixe acontecer. Isso é ser verdadeiramente natural, isso é uma real ausência de esforço; e apenas uma vida sem esforço pode ser uma vida feliz. Quando não a preconceito em relação  a qualquer coisa tal como: "Seria melhor que acontecesse assim... ou não acontecesse assim" não há escolha. E quando não há escolha, não há exigências. E quando não há exigências não há nenhuma expectativa, nem medo que possam perturbar a mente.


Aquele que permanece inalterado pelo mundo externo e está sempre em êxtase é verdadeiramente religioso. Ele se oferece completamente a Deus como um cheque em branco assinado dizendo: "Aceito o que você decidir escrever para mim". Não há escolha, nenhum pedido. Somente o contentamento com o que é recebido.


Se você adotar a atitude de aceitação sincera em relação a cada indivíduo, a cada objeto, a cada evento, então a felicidade, paz e sucesso esperam por você em cada passo que der. Você estará feliz no que quer que aconteça. Seja qual for a situação a felicidade sempre prevalecerá. A fonte do verdadeiro contentamento, a cascata da alegria, surgirão de dentro de você.



sábado, 28 de maio de 2016

PUJYA GURUDEVESHRI RAKESHBAI - SOLIDIFICANDO A MISSÃO

VISITAS DE PUJYA GURUDEVSHRI RAKESHBAI EM 2016 A ALGUNS PAÍSES E CIDADES PARA SOLIDIFICAR A MISSÃO SHRIMAD RAJCHANDRA



Pujya Gurudevshri Rakeshbai na Austrália entre os dias 17 e 21 de março de 2016





Pujya Gurudevshri Rakeshbai em Singapura entre os dias 22 e 24 de março de 2016





Pujya Gurudevshri Rakeshbai na Malásia entre os dias 25 e 29 de março de 2016





Pujya Gurudevshri Rakeshbai em Hong Kong entre os dias 31 de março e 3 de abril de 2016





Pujya Gurudevshri Rakeshbai em Ahmedabad entre os dias 22 e 24 de abril de 2016





FIQUE SEMPRE FELIZ - Pujya Gurudevshri Rakeshbai


FIQUE SEMPRE FELIZ

Prédica de Pujya Gurudevshri Rakeshbai


Pujya Gurudevshri Rakeshbai


Aquele que percebeu a felicidade suprema deseja o mesmo para todos. Por estar  experimentando a felicidade fica, surpreso ao ver os outros afogados na dor e no sofrimento, quando, na verdade, sabe, agora, que não há nenhuma razão para tristezas.

A dor e o sofrimento repousam sobre falsos apoios. Você é o progenitor de sua dor. Somente você é o construtor de sua pira, somente você a acende, somente você dá combustível ao fogo, e logo depois clama por libertar-se da dor; no entanto se recusa a afastar-se dela.

Verifique Sua Elegibilidade

Os iluminados podem desejar, rezar e até mesmo abençoá-lo para a felicidade, mas você não irá beneficiar-se, pois você é como um pote que se encontra de cabeça para baixo quando chove. Como o pote ficará cheio se ele acredita ser esta a maneira correta de posicionar-se? Mesmo que milhares de nuvens derramem água sobre ele, permanecerá vazio.

Algumas potes podem não estar de cabeça para baixo, porém estão rotos. Mais ainda, se orgulham de assim serem. Se eles consideram seus buracos como ornamentação, então, mesmo virados para cima, sob forte chuva permanecerão vazios. Eles poderão até ficar cheios, mas, quase de imediato, tornam-se vazios novamente.

Um homem foi até um faquir Sufi e lhe confessou: Estive com muitos santos, mas o meu problema continua por resolver. Agora, eu vim a você com grande esperança." O faquir disse: "Eu estou indo para um poço. Venha junto comigo. O problema pode ficar resolvido enquanto pego a água. Mas tenho uma condição. Enquanto estiver buscando a água, você não deve falar, mesmo que tenha dez milhões de razões para o  fazer. Se você puder manter seu controle, eu prometo que irá resolver seu problema." O homem pensou: "Que me importa se ele está buscando água? Por que eu deveria falar?" Mas um embaraço surgiu quando o homem viu o faquir pegar a água com um balde que tinha muitos buracos. Uma, duas, três vezes... cada vez que o faquir colocava o balde no poço e o trazia de volta, estava vazio. O homem não conseguiu manter a calma e deixou escapar: "Mesmo que você tente toda a vida este balde não ficará cheio nunca." O faquir disse: "Você quebrou a condição. Pode ir embora. Você não é elegível para tornar-se meu discípulo. Se você sabe tanto, qual a necessidade de vir a mim?"

O homem saiu dali, porém as palavras do faquir ficaram martelando em sua cabeça. Ele percebeu que, certamente, existia alguma mensagem secreta nelas. Não conseguiu dormir naquela noite. Ele foi novamente até o faquir, curvou-se em seus pés de lótus e proferiu: "Por favor, me perdoe, eu não poderia cumprir sua condição." O faquir então lhe explicou: "Eu que tenho muito a lhe dizer. Se o balde tem buracos, ele nunca ficará cheio - mesmo que você tente enche-lo a vida toda, mesmo que o poço esteja repleto de água. Agora, verifique o seu "balde" se, também, não está rachado. Em outras palavras, se você não se abrir para os iluminados, se ainda insistir fortemente em ter falsas crenças, então o seu "balde" não será enchido com o néctar da sabedoria; e mesmo que fique cheio por alguns segundos, logo em seguida, esvaziará.


Pare de Criar Obstáculos

A cada momento o néctar está sendo derramado. Há a presença do Divino em todos os instantes. Há luz ao seu redor, no entanto você permanece na escuridão. Certamente, seus olhos estão cerrados. Você chora que há escuridão, mas não abre os olhos! Você, por certo,  deve ver algum ganho ou algum conforto em manter os olhos fechados. Você criou um forte vínculo com o sofrimento.

Os Iluminados cumulam-no de bençãos. Eles desejam o seu bem-estar, que sua vida se torne perfumada e cheia de música e dança. Eles querem que o lótus dentro de você floresça. No entanto, isso só é possível se você permitir que aconteça. Você se mantém erigindo obstáculos. Ninguém pode força-lo a ficar feliz.

Todo o seu entendimento está enraizado na tristeza. Apesar de  você dizer que quer ser feliz, seus esforços nesse sentido fazem-no ficar triste. Sua vida está correndo em uma pista errada. Se você quer ser feliz, terá que mostrar disposição para mudar seus pontos defeituosos. Sem seu próprio apoio as benção não darão frutos.




A Religião é a Arte da Felicidade

Se você se torna verdadeiramente religioso, certamente, se tornará feliz, pois religiosidade é ser feliz sempre. Porém suas crenças sobre religião são tão rígidas que não há espaço para uma transformação. Você está apto para se tornar triste, mas não preparado para mudar sua perspectiva. Você sequer pode ver uma pessoa religiosa feliz e nem pode imaginar uma pessoa feliz sendo religiosa. Você vinculou a religiosidade com o sofrimento. No entanto, a religião é, sem dúvida, a aniquilação de todas as dores.

Você fala de libertação, no entanto toma o caminho do sofrimento. Você planeja em prol do sofrimento e espera obter felicidade. Você está enganando a si mesmo; fazendo uma paródia de si mesmo. Você joga a casca de banana, escorrega sobre ela e, depois, chora. Se perceber que só você é responsável por isso, poderá efetuar uma revolução. Você poderá tornar-se, verdadeiramente, religioso.

O religioso não cria tristeza. Por isso, ele está sempre feliz. Religião é a arte de ficar feliz, é um meio de permanecer alegre. Religião significa alegria - felicidade e contentamento, sempre. Geralmente, você se sente feliz, somente quando seus desejos são satisfeitos. Agora, comece a trabalhar no sentidos de ser feliz sempre. Para permanecer feliz, "ser feliz sempre", pratique a religião.

Aqueles que são falhos ao enfrentar o mundo, que experimentam stress mental, que são infelizes, inquietos ou perturbados vão a lugares religiosos para se livrar de sua dor e tristeza. Por causa disso, lugares religiosos tornam-se como hospitais. Dar-se conta de seu fracasso e tristeza esse é o primeiro passo de sua peregrinação espiritual, mas se ficar preso aí, continuará a ser infeliz. Já se tem o entendimento correto da dor e o desejo de livrar-se dela, então se tornará possível alcançar o que almeja. Comece com uma resolução positiva: "Quero praticar a religião, quero ser feliz e pacífico e isso é possível. Atitudes negativas, tal como "Estou triste e continuarei a ser infeliz" nunca o libertará do sofrimento.




O Entendimento Incorreto da Religião

Aquele que está sempre feliz, sua vida, se torna livre de dores, angústias, stress e sofrimento. (Ver nota no final deste parágrafo). Sua personalidade torna-se, pacífica, alegre e livre de ansiedades. Essa pessoa só obtém graças divinas. Somente tais candidatos se qualificam para alcançar moksha (salvação ou libertação). Uma pessoa infeliz, triste e perturbada não pode atingir os portais da morada de Deus (do seu Eu Verdadeiro). Então, por que as pessoas ditas religiosas parecem sérias, tristes, torturadas, tensas? Ser religioso é sinônimo de estar triste ou é o oposto disso?

Nota: Comumente entendemos que para sermos felizes temos que, primeiramente,  nos livrarmos das dores, angústias, stress e sofrimento. Mas aqui Pujya gurudevshri Rakeshbai nos ensina tal qual os Princípios de Física Quântica e do Pensamento Positivo - as leis de atração - que para atrairmos determinada coisa temos que, antes, ter pensamentos e sentimentos equivalentes. Se portanto cultivamos pensamentos e sentimentos mórbidos, tristes, angustiosos, violentos,  isso irá nos causar infelicidade. Já se cultivamos pensamentos e sentimentos de paz, amor, alegria, prosperidade isso nos levará a ser, cada vez, mais felizes. 

Não compreender a religião a partir de um Sadguru (um mestre que sabe o que realmente é religião) leva à crença errônea de que uma pessoa religiosa deve ser triste e séria. Acredita-se que aquele que é feliz e sorridente é alguém superficial e que aquele que é triste e grave é alguém profundo. Mas, na verdade, o aspirante que permanece sempre feliz é que é verdadeiramente religioso. Sua felicidade se expressa como música, dança, amor e compaixão. A religiosidade não é o desamparo do doente. É uma ventura. A religiosidade é cheia de zelo, festividade, heroísmo e esforço certo.

Hoje em dia, o homem pensa duas vezes antes de dar um sorriso. Ele fica feliz de forma refreada. Mas a felicidade deve ser natural e constante, e refletir a verdadeira natureza do Ser. Por compreenderem a natureza do dharma de forma incorreta, as pessoas se comportam de maneira estranha, como aquele que toma o voto de "não ser feliz". Oferendas e adorações cheias de tristeza não são de todo aceitáveis pelo Divino. Cada momento deve ser gasto na felicidade e tais momentos, somente eles, deveriam ser oferecidos aos pés de Lótus do Senhor. Isso é adoração real.

Como devemos começar a fazer isso?

Os santos nos guiam:
1- Em primeiro lugar comece por onde você consegue ficar feliz.
2- A seguir, vença os eventos onde há menos chances de ficar feliz.
3- E depois disso, conquiste aqueles momentos em que lhe parece impossível ficar feliz.

Embarcar na jornada da felicidade. Isso por si só é a verdadeira peregrinação.


terça-feira, 26 de abril de 2016

A PRESENÇA MILAGROSA DO MESTRE - Pujya Gurudevshri Rakeshbai


A PRESENÇA MILAGROSA DO MESTRE



Shrimad Rajchandra e Pujya Gurudevshri Rakeshbai 


O que acontece quando o discípulo se encontra com o Mestre (Guru)? Por que a partir daí o discípulo vê mudanças em seu estilo de vida, comportamento e pensamento? Por que isso parece uma transformação miraculosa? Pujya Gurudevshri explica como o discípulo se rende, floresce e alcança a iluminação na presença de um mestre realizado.



Quando um grande Mestre espiritual nasce na face da Terra, inevitavelmente, aspirantes de todos os lados se sentem atraídos para ele. Aqueles que anseiam pela libertação cantam-lhe louvores e embarcam na jornada espiritual.


O aspirante pode evoluir e alcançar a iluminação, tal qual uma semente que tem a possibilidade de crescer e transformar-se em uma árvore, mas se esquece disso. O Guru faz com que ele se conscientize desse seu potencial infinito. Inspirado pelo mestre, quando o discípulo se rende as suas instruções e investiga as camadas mais profundas de sua própria consciência, ele rompe todas as barreiras terrestres para dar vazão ao seu pleno potencial que se estende até os céus da eternidade. Tenha confiança no Guru compassivo. Prepare-se para ser enterrado como a semente e atingir grandes alturas espirituais.



A coragem de mergulhar no desconhecido é despertada após juntar-se ao Guru. O aspirante desenvolve fé nele. O sentimento de surtos de entrega ao ego perece. Sua vida sofre uma enorme transformação, que se reflete em seus conceitos, suas respostas e sua conduta. Na convivência com o Guru, um amante dos prazeres sensuais se converte em um amante do Divino. Todas essas mudanças ocorrem em um curto espaço de tempo, o que faz com que esse acontecimento seja tomado como um milagre e o Guru acaba por ser visto como sendo o autor do milagre.


Milagre ou Lei Natural?

No mundo exterior as coisas precisam de tempo para mudarem, mas a transformação no mundo interior precisa apenas de consciência. Quando o aspirante desperta, tudo muda em um instante. O despertar é uma revolução e não uma evolução. Evolução - crescimento - precisa de tempo, porém revolução acontece de repente e transforma tudo. Não há nenhum atraso. No momento em que percebe a sua natureza divina, você torna-se iluminado. Humanamente, é difícil compreender uma mudança tão importante dar-se de forma tão inesperada, entretanto, por que não pode acontecer? Se você acende  uma lâmpada em uma casa sombria e escura o que ocorre com a escuridão? Será que ela permanece ou desaparece? Quanto tempo demora para que isso aconteça? Mesmo que a obscuridade lá exista há anos ela não demora a desaparecer. Ela é removida instantaneamente. Tão logo você acende a lâmpada a escuridão não existe mais. Para você isto parece um milagre ou pensa nisso como sendo uma lei natural? Dá-se o mesmo com a presença do Sadguru (verdadeiro mestre). A transformação parece um milagre, mas é uma lei eterna.


Você, também, quer aprender a se transformar porque sempre se esforçou para afastar a escuridão de sua ignorância, de seus pensamentos e de suas atividades pecaminosas. Para a maioria dessas coisas o que tem conseguido é reprimi-los. Você não pode lutar contra a escravidão. Para removê-la é necessário luz e não poder. Basta, então, que você se vire para a iluminação. Você não tem que trazer a luz. Ela já está dentro de você, é você. Você tem, simplesmente, que tornar-se ciente disso. Isto pode ser realizado em um segundo. O ponto é esse; é isso que o faz transformar-se. Incomensurável é a graça do Guru que o aponta para você e o motiva a fazer esta mudança. Ele trata da sua doença - ele trata a sua ignorância com a luz do conhecimento. Você chamaria isto de um milagre? Não é natural vermos uma doença ficar curada quando, ao paciente, é administrado o medicamento adequado?



O Fenômeno do Despertar

A admiração é apenas porque o fenômeno do despertar está além da compreensão intelectual. O despertar traz consigo a iluminação. A iluminação é comparada ao surgimento, de uma só vez,  de milhares de sóis deslumbrantes e nuvens de néctar regando a felicidade do Ser. Este fenômeno não é para ser intelectualizado ou escrever ensaios sobre ele; deve ser experimentado e, quem o faz, se deleitar com a experiência. Aceite a possibilidade disso acontecer; este  é o primeiro raio de luz tocando o seu coração cheio de escuridão.


Celebre! Deixe que o primeiro raio se expanda. Cante , baile e alcance o Deus interior. Desperte. Mude sua visão. Sintonize o seu Eu e vá além do ciclo de nascimento e morte.


Isso não é impossível. O impossível nunca pode acontecer. Se a transformação teve lugar é, simplesmente, porque era possível. Uma vez que essa transformação não aconteceu com você em muitos nascimentos, você o vê como um milagre. Além disso, você nunca sonhou com tal esplendor espetacular que é o seu verdadeiro Eu. Quando a noite escura da ignorância se retira e surge a luz das auroras de Realização, as experiências espinhosas da vida transitória se transformam em flores perfumadas da eternidade. Lembre-se, a Realização não é inatingível. Retire a tampa da ignorância e desvende o seu Eu glorioso. Quando você percebe o seu ser tão, distintamente, separado do corpo, sua vida é, instantaneamente transformada.



Grato Pela Benevolência do Guru

O discípulo após a experiência sem precedentes da Autorrealização fica imensamente grato ao Guru; sente que este o transformou de um mendigo em um príncipe. A palavra "obrigado" parece uma expressão muito trivial para expressar sua gratidão. Seu coração e seus olhos transbordam de sentimentos de endividamento. Ele é incapaz de os reter dentro de si. O que ele pode oferecer para aquele que o abençoou com o infinito, o eterno, o divino?


No entanto, o Guru renega este ato feito ao discípulo. O Guru diz que não fez nada e ainda revela ao discípulo: " Você já tinha as jóias, mas não estava ciente delas. Devido a isso você vagou no mundo, na esperança de encontrar felicidade, no entanto, em contrapartida sofreu apenas stress, falhas, negatividades e limitações. Com isso, perdeu a esperança. Você perdeu a fé em si mesmo. Sua tigela de desejos satisfeitos sempre permaneceu vazia. Você nunca se preocupou em olhar para dentro de si mesmo. Eu, simplesmente fiz você ficar ciente de seu tesouro escondido. Você confiou em mim, cavou o seu interior e encontrou o tesouro. Você acha que eu te dei tudo isso, mas não é verdade. Qualquer um que penetra em seu próprio interior encontra esse tesouro"


A Chave Está em Abrir os Próprios Olhos

Acredite no Guru e em suas palavras. Renuncie ao seu antigo hábito de manter seus olhos fechados para a verdade. Atreva-se a abrir os olhos e alcançar a sua riqueza que é a verdadeira felicidade. O Guru está pronto para mostrar o caminho para todos, mas quem realmente quer olha-lo? Você tem medo de perder o seu ego. Você não é capaz de perceber o benefício de tornar-se livre de seus grilhões. Você nem sequer se atreve a tratar, humildemente, qualquer assunto com seu Guru porque isso, também, implica em reduzir o seu ego. Como você pode ser preenchido se não quer se curvar, se entregar e nem buscar?


Aquele que entrega a sua cabeça, alcança tudo. Você só atingirá a iluminação através da virtude de rendição. O ego é o preço que você tem que pagar para o eterno. Os sentimentos de fé e rendição abrem as portas de seu coração e revelam as jóias que se encontram dentro.


Nenhuma revolução pode ocorrer sem essa rendição ao Guru. Não há a experiência da paz sem que se abra mão do ego em seus pés de lótus. O Mestre ajuda o despertar do discípulo. O discípulo quando se encontra pela primeira vez com o Guru, esse encontro, parece não ter nenhum valor; porém o toque "milagroso" da graça do Guru faz desse encontro algo inestimável. Essa é a benevolência do Guru.



sexta-feira, 22 de abril de 2016

GRANDES MESTRES JAINAS DIGAMBARA - ACHARYA BHADRABAHU I


GRANDES MESTRES JAINAS DIGAMBARA


ACHARYA BHADRABAHU I




Atualmente os jainistas aderem a uma das duas grandes ramificações da sua religião - Digambara ou Svetambara. Porém na antiguidade havia apenas uma tradição jaina e um homem chamado Bhadrabahu tem a distinção  de ter sido o líder dessa comunidade ainda não dividida. Bhadrabahu foi o último indivíduo a ter atingido  Shrut Kevalin (aquele que tem o conhecimento máximo das Escrituras),  a autoridade sobre os textos originais dos 14 Purvas (ensinamentos transmitidos por Mahavira e os outros Tirthankaras)

Os ensinamentos do onisciente Senhor Mahavira e dos outros Tirthankaras foram agrupados em textos que formaram as 12 Angas e os 14 Purvas - as Escrituras jainas. Os Purvas foram considerados como parte da décima segunda Anga, intitulado Drishtivada. Estes textos foram passados de mestre para discípulo por um sistema bem regulado da tradição oral e mnemônica*. Os mestre os recitavam e os discípulos os memorizavam. Todos os princípios jainas são baseados nesses textos.

* mnemônico - é um conjunto de técnicas utilizadas para o processo de memorização. Consiste na elaboração de suportes como os esquemas, gráficos, símbolos, palavras ou frases relacionadas com o assunto que se pretende memorizar. Recorrer a esses suportes promove uma rápida associação e permite uma melhor assimilação do conteúdo. Está comprovado que a memória humana armazena informações com mais facilidade quando estas são associadas a sequências organizadas e simples que vão ajudar a gravar eficazmente os dados. Os mnemônicos podem ser criados livremente, desde que façam sentido para quem memoriza. Caso seja uma sequência complicada, o resultado não será eficaz.

Após o Senhor Jambu (século V a.C.) que foi o último ser humano a atingir a onisciência (kevala jnana)
*, monges e estudiosos jainas foram guiados, apenas, por estes textos. Aqueles que conheciam  todos estes textos são chamados de Shrut Kevalins, indicando que eles tem a sabedoria dos textos mas não a onisciência (kevala jnana). Conforme mencionado Acharya Bhadrabahu  foi o último Shrut Kevalin. Uma vez que já houve outros acharyas jainas com o nome de Bhadrabahu, muitas vezes, ele é referido como Bhadrabahu I.

*kevala jnana - significa onisciência no jainismo e é traduzido como conhecimento absoluto ou conhecimento supremo. Kevala jnana é uma qualidade intrínseca de todas as almas. Esta qualidade é encoberta por partículas cármicas que cercam a alma. Cada alma tem o potencial para obter a onisciência através do desprendimento dessas partículas cármicas. As Escrituras jainas falam  de doze etapas pelas quais a alma atinge este objetivo. Uma alma que alcançou kevala jnana é chamado de kevalin. De acordo com o jainismo, somente um kevalin pode compreender os objetos em todos os seus aspectos e manifestações; os outros só são capazes de conhecimento parcial. Os pontos de vista das duas seitas do jainismo - Digambara e Svetambara divergem entre si sobre o assunto kevalin. De acordo com os Digambaras, um kevalin não sente fome ou sede; já os Svetambaras, acham que um kevalin tem necessidades humanas normais. De acordo com ambas as tradições o último kevalin foi um discípulo de um dos  onze principais discípulos do útimo Tirthankara, Mahavira; seu nome foi registrado como Jambu. Acredita-se pois que, depois de Jambu ninguém mais teve a capacidade de obter kevala jnana. 

Bhadrabahu nasceu em Pundravardhan, atual Bangladesh. Durante o seu tempo, a capital secundária dos Máurias foi a cidade de  Ujjain. Bhadrabahu foi capaz de prever através de percepções extrassensoriais (jnan nimita = cognição sutil  de causas e efeitos) que iria ocorrer uma grande fome durante 12 anos no norte da Índia. Ele alertou que a fome tornaria a sobrevivência dos monges muito difícil, já que  se tornariam um fardo para uma sociedade, também necessitada. Sendo assim, ele migrou com um grupo de monges para o sul da Índia levando com ele Chandragupta, o fundador do Império Máuria* que, também, se tornara monge.

* Ímpério Máuria ou Mauria - foi um poderoso Estado, geograficamente extenso da Idade do ferro da Índia governado pela dinastia Máuria (entre 322 a. C. - 185 a.C.) O Império foi fundado em 322 a. C. por Chandragupta Máuria que tinha derrubado a dinastia do império Nanda. O Império Máuria foi um dos maiores impérios do mundo em sua época e o maior da história do subcontinente indiano.

Enquanto Bhadrabahu estava fora, os monges que permaneceram no Norte perceberam que as Escrituras sagradas estavam sendo esquecidas. Um monge chamado Sthulabhadra convocou então um conselho para compilar as Escrituras Purva. No entanto, por saber que o seu conhecimento dos textos eram imperfeitos, ele queria Bhadrabahu por perto para ensinar-lhe os pontos que faltavam em sua memória.

Bhadrabahu ensinou Sthulabhadra, mas o proibiu de escrever nos Purvas sobre certos assuntos  (manifestações de poderes extra físicos) uma vez que achou que, com o passar do tempo, eles seriam motivo para corrupções. Desse modo o conhecimento original e que, de todo, não foi integrado nos 14 Purvas morreu com esses dois homens.

Bhadrabahu, até hoje, continua sendo reverenciado como um exemplo de dedicação aos princípios do jainismo original. Depois dele a Sangha foi dividida em duas linhagens. Os monges Digambara pertencem a linhagem do Acharya Vishakha e os monges Svetambaras seguem a tradição de Sthulabhadra. Bhadrabahu compôs, também, alguns textos. Na tradição Svetambara as obras Brihatkalpa, Vyavahara e Nisitha são consideradas suas.

Durante doze anos Bhadrabahu esteve no Nepal para praticar a "Mahaprana Sadhana" que são exercícios de meditação yoguica. Segundo os Digambaras, Bhadrabahu morreu após praticar Sallekana (O voto de Sallekana é observado pelos ascetas jainistas e por alguns devotos leigos no final de suas vidas, quando então reduzem gradualmente a ingestão de alimentos e líquidos até morrerem).

Upsargahara Stotra

Acharya Bhadrabahu tinha um irmão chamado Varahamihira. Esse irmão era um proeminente astrônomo, matemático e astrólogo. Os dois irmãos moravam no mesmo reino. Quando nasceu um dos filhos do rei, Varahamihira declarou que ele viveria cem anos, porém Bhadrabahu o contradisse afirmando que viveria apenas sete dias e que  a criança seria morta por um gato. No oitavo dia, o principezinho morreu por causa de uma maçaneta de porta que caiu em sua cabeça - a maçaneta tinha uma imagem de gato esculpida nela. Devido a essa humilhação Varahamihira deixou o reino e faleceu depois de algum tempo.

Após sua morte Varahamihira tornou-se um Vyantar (segundo os jainas um tipo de Deva ou semideus - na maioria dos casos voltados para o Mal). Os jainistas passaram a acreditar que Varahamihira os torturava e aterrorizava, especialmente, aqueles que eram discípulos  e seguidores de Bhadrabahu. Por causa desse fato Acharya Bhadrabahu, então elaborou uma oração mântrica para o 23ª Tirthankara - Parshvanath - e invocando, também, Dharanendra
*, o assistente de Parshvanath. Essa oração é chamada de Upsargahara Stotra, também conhecida como Uvassagaharam Stotra. Como efeito disso Varahamihira foi derrotado e a sociedade jaina ficou aliviada. Essa oração mântrica ainda hoje é famosa entre os jainista e eles a cantam com devido respeito e fé. Na verdade esta oração fez o nome de Bhadrabahu imortal entre os ascetas jainistas.

* Dharanendra - é o deus assistente (Yaksha = classe de espíritos da natureza benevolentes) de Parshvanatha, o vigésimo terceiro Tirthankara do jainismo. Ele goza de uma vida religiosa independente e é muito popular entre os jainistas. De acordo com a tradição Digambara, quando Parshvanatha era um príncipe, ele salvou duas serpentes que estavam presas em um tronco que serviria para um ritual de fogo do yogi Kamath. Mais tarde essas cobras renasceram como Dharanendra - o rei do submundo naga e Padmavati. Dharanendra e Padmavati, então, abrigaram Parshvanatha quando ele foi assediado por  Meghalin (Kamath renascido). (Ver mais detalhes abaixo)

Os jainistas acreditam que ao evocarem esses dois semideuses - Dharanendra e Padmavati - através deste Stotra (ode, elogio, hino de louvor) eles vêm a Terra para protegê-los ou atendê-los. Em sua forma original essa oração era muito poderosa. Logo as pessoas começaram a usá-la, excessivamente para coisas menores ou concretizar desejos materiais insignificantes. Temendo o uso indevido do mesmo, dois gathas (versos) foram suprimidos deste Stotra. Hoje, composto apenas de duas estrofes em alguns livros, ele ainda ocupa o lugar de destaque e é considerado mais poderoso do que qualquer outra oração.

Dharanendra e Padmavati - Um dia, caminhando tranquilamente pela floresta, o príncipe Parshvanatha viu o famoso yogi Kamath, realizando um ritual de fogo. Imediatamente descobriu a presença de duas cobras presas nos troncos que ardiam. No intuito de salvá-las, solicitou a Kamath que interrompesse o ritual e as retirasse dali. O yogi ficou enfurecido por ter sido interrompido e ignorou o pedido. Parshvanatha foi, então, até a fogueira e retirou as cobras de lá. Só que já estavam mortas. O príncipe apiedado delas começou a recitar o Namaskara Mantra sobre os seus corpos. Com isso fez com que as cobras renascessem no céu como deuses - o deus Dharanendra e a deusa Padmavati. Os anos se passaram, Kamath morreu e renasceu como Meghmali, o deus da chuva. Por esse tempo o príncipe Parshvanatha já havia renunciado ao seu reino para seguir o caminho da renúncia. Certo dia, ele sentou-se no silêncio da floresta em meditação profunda. O deus da chuva, Meghmali, de sua morada celestial o observou. reconheceu-o como sendo o seu antigo antagonista e ficou enfurecido. Decidiu vingar-se dele e descarregou sobre Parsvanath uma chuva violenta. A águas começaram a subir em torno do ex-príncipe, no entanto por estar em meditação profunda, permaneceu alheio ao perigo. As águas turbulentas elevaram-se cada vez mais e logo ameaçavam afogá-lo. Do céu, Dharanendra e Padmavati - as antigas cobras - testemunharam a cena e desceram rapidamente para salvar Parshvanatha. A deusa Padmavati formou uma flor de lótus sob ele e o levantou para que ficasse por cima  das águas e Dharanendra com seu corpo criou uma espécie de toldo sobre sua cabeça, protegendo-o assim do dilúvio. Abrigado conforme estava Parshvanatha pode continuar sua meditação e logo alcançou a iluminação. Quando Meghmali viu que seus esforços foram em vão, tornou-se humilde e procurou perdão.