sexta-feira, 24 de julho de 2015

LIVRO: A CIÊNCIA DO KARMA


LIVRO: A CIÊNCIA DO KARMA

De Gnani Purush " Dadashri" 

Originalmente compilado  em gujarati pela Dra. Niruben Amin





Gnani Purush Dada Bhagvan (Dadashri)





Dra. Niruben Amin


CLIQUE AQUI PARA ACESSAR:



A NUDEZ DOS MONGES DIGAMBARA

A NUDEZ DOS MONGES JAINAS DIGAMBARA



monge Shri Vibhanjan Sagar Ji


Para os jainistas a nudez é uma virtude. Não a nudez exibicionista e vaidosa, mas a nudez natural, aquela que expressa a simplicidade, a igualdade, o desapego, a não ambição. Os monges jainas Digambara por andarem nus são exemplos dessa virtude. 

Poder-se ia dizer, por rejeitarem os bens materiais - dinheiro, propriedades, objetos, inclusive roupas para vestir - eles denunciam o quanto nós, pessoas comuns, estamos distantes desta desambição e desprendimento e o quanto nos falta para atingirmos um patamar de sublimidade. 

Digambara significa vestido de espaço - vestido de norte, sul, leste, oeste, céu e terra). Mas com isso não queremos dizer que um Digambara se torna um Digambara apenas porque anda nu. Queremos dizer que por ter optado por não proteger seu corpo com panos demonstra sua natureza suave, calma, pacífica; expressa isso em seus atos, palavras e pensamentos - este é o seu comportamento para consigo mesmo e para com os outros. 



monge Muni Pulak sagar Ji


Um outro nome para Digambara é Nirgrantha. Todo monge Digambara é um Nirgrantha. Nirgrantha quer dizer "livre de amarras", "liberto de apegos". Aquele que se liberta dos apegos não dá chance para que a ira, o orgulho, a maldade, a cobiça, os maus costumes, os pensamentos sexuais contaminem a sua alma. Um Digambara abdica das roupas, mas não só. Abdica, também, da riqueza, de ter dinheiro, uma família, um emprego, uma vida social,  conforto, enfim, de todos os objetos que uma pessoa comum acha serem importantes ou imprescindíveis. Ele procura vivenciar a simplicidade, a naturalidade, a inocência, a ausência de desejos - almeja só a libertação. Esse estilo de vida é considerado desejável em muitas religiões. Quase todas as Escrituras religiosas pregam isso. O próprio Siddhartha Gautama - O Buda - confessou que, no princípio de sua senda espiritual vivia nu, vagava com os pés descalços, comia suas refeições nas palmas das mãos e cumpria meditações e austeridades rigorosas. Isso prova que o Buda, também era um Nirgrantha. Porém, mais tarde, ele preferiu abandonar essas práticas e adotar o caminho do meio. 

No jainismo diz-se que aqueles que são livres de apegos são por excelência peritos no conhecimento da alma. Os monges Digambara ao dispensar as vestes, ter como posse apenas um espanador  e praticar os Mahavratas (ou seja, os cinco grandes votos que são: usar sempre de não violência, abster-se de mentir, não roubar, manter o celibato e renunciar a todos os bens) conquistam um estilo de vida que propicia viverem em função da alma e não do corpo. A não preocupação ou interesse com as coisas mundanas torna-os, completamente, livres para desfrutar o prazer de conhecer quem verdadeiramente são - almas puras. 



Acharya Marahaj Bharat Bhushan


Um Digambara considera  que o corpo físico é a principal causa de todos os males, por isso a sua indiferença por ele. Por causa do corpo - sua manutenção, desejos sexuais, vaidades tolas, ganância por exagerado conforto e bem-estar,  etc. - o homem comete uma série de violências - violências contra a natureza e contra seus semelhantes. Todas essas violências um monge Digambara rejeita. 

Na verdade, o simples fato de andarem nus dá a esses monges uma motivação à perseverarem em sua vida ascética. O homem comum dá extremo valor a beleza física; isso se dá, principalmente, para que possa dar vazão aos seus caprichos sexuais e apegos mundanos. Abdicando de suas vestes o monge deixa explícito que não se importa com panos, nem outros acessórios que lhe enfeitem o corpo ou mascarem seus defeitos. Abdicando de suas vestes o monge têm a humildade de apresentar a sua anatomia física, sem vaidades, sem competições, sem intenções venais. 




Shri Muni Tarun Sagar Ji


Portanto, todos nós temos que ver com reverência aqueles que são a imagem real da ahimsa, da verdade, do celibato e do desapego, não devemos repudia-los, nem criticá-los. Não devemos, principalmente, alimentar pensamentos maliciosos, libidinosos ao vê-los, mesmo porque, a última coisa que eles encarnam ou simbolizam  é a luxúria; ou melhor, a última porque o seu desapego e ausência de desejos suplantaram tudo isso.


Este vídeo mostra cenas de nudez jain. Qualquer reserva sobre este tópico não assista. O monge que aparece neste vídeo é Muni Shri Pranam Sagar Ji.





quarta-feira, 15 de julho de 2015

MÚSICA JAINA - SAIYAM MARO SWAS



JAIN STAVAN - SAIYAM MARO SWAS





JAINISMO E A CRENÇA EM DEUS - escrito por Jayaram V



JAINISMO E A CRENÇA EM DEUS

POR JAYARAM V


Jayaram V

Ou se está com Deus ou contra Deus, este é um ponto de vista. Eu não creio em Deus, porém creio em mim mesmo, este é outro ponto de vista. Eu não acredito em um Deus, mas eu acredito que o meu ser é divino e portanto o meu Ser é Deus, este é o terceiro ponto de vista. Eu não acredito que Deus exista, mas acredito que algumas almas possam atingir a divindade através da perfeição, este é o quarto ponto de vista. Com exceção do primeiro, o credo do jainismo serpenteia por todas os outras óticas sem comprometer a sua doutrina essencial. Um estrangeiro pode ter dificuldade de classificar o jainismo, simplesmente, como sendo teísta ou ateísta. No entanto, um jaina considera sua fé como teísta porque ele crê na divindade essencial da alma individual e na sua existência eterna em uma realidade eterna que personifica a mais alta perfeição. Na explicação seguinte entenderemos porque isto é assim:

Uma característica interessante de algumas tradições originárias da Índia é a sua descrença na existência do Deus Criador. Samkhya, budismo e jainismo acreditam nas funções previsíveis e rotineiras da Natureza e sua divisibilidade. No entanto, eles não reconhecem a existência transcendental do princípio eterno que, comumente, outras religiões identificam, no campo da filosofia, como sendo causa singular das causas e, na prática religiosa, como sendo Deus. A ideia de que alguém pode ser ateu e, ainda assim, religioso é um paradoxo para muitos, especialmente, para aqueles que são educados na noção de que a crença em Deus e a prática religiosa caminham juntas e não podem ser separadas.


No cristianismo e no islamismo sem o comprometimento com a fé em Deus e sem a submissão a Sua supremacia e a Sua lei inviolável, a pessoa não pode fazer parte da congregação - ou da comunidade de seguidores - e encontrar uma passagem segura para entrar nos portões do céu. Já no hinduísmo, jainismo e budismo a crença em Deus não é um pré-requisito para a prática da religião ou para se alcançar a libertação..


Eles colocam mais ênfase na responsabilidade individual e salvação pessoal baseados em um comportamento justo e uma prática assídua dos ensinamentos deixados por mestres iluminados. Nesta jornada o que os auxiliam são o desapego, a renúncia, a ausência de desejos e a pureza interior. Quando a individualidade de um ser desaparece, ele se liberta das coisas que o definem e o limitam. Quando essas balizas de separação - essas coisas que nos limitam - são obliterados no mundo interior que existe em cada um de nós, tornamo-nos parte do oceano da existência e deixamos de ser indivíduos sujeitos a dualidade e a ignorância. Neste processo se é o caso de recorrer a Deus ou a uma divindade é uma escolha pessoal, depende do caminho e da fé que se elege.


As religiões indianas não são religiões ateias. No entanto, elas oferecem uma ampla gama de opções para os seus seguidores testarem suas crenças nas águas da vida e fazerem suas próprias escolhas. Além disso, na maior parte das religiões da Índia, a crença em Deus não é um requisito essencial para se alcançar a salvação, embora seja desejável, uma vez que aumenta as chances de alcançar o objetivo final. Essas religiões são muito flexíveis em deixar as pessoas fazerem suas escolhas e encontrarem a verdade através da tentativa e erro, pois depositam fé na doutrina do carma, segundo a qual cada indivíduo está sujeito as consequências de suas ações. O hinduísmo, o budismo e o jainismo acreditam na lei do carma. entretanto, eles diferem no que diz respeito à sua causa e a sua continuidade.


Deus é um grande enigma que ninguém pode, verdadeiramente, compreender. Estudantes da ciência moderna sabem o quão difícil é entender a origem e a natureza do universo material, imaginemos, então, a extensão do problema que é conhecer a realidade invisível e transcendental chamada Deus, a quem não podemos alcançar em circunstâncias normais. Nenhuma mentalidade comum pode, definitivamente, construir a visão do universo material, mesmo que seja parcialmente, usando o campo da observação; e é ainda mais difícil prever o reino espiritual que desafia todas as leis conhecidas da existência e é , ostensivamente, além de nossa percepção.


Estas três tradições sugerem que a aspiração religiosa começa com uma inclinação inata da pessoa, de acordo com o seu carma; em última instância, por meio de auto esforço para se obter uma abertura interior em que a verdade é percebida ou experimentada para além das barreira da mente condicionada e das limitações das escrituras e autoridades temporais.





Portanto, de acordo com o hinduísmo, o budismo e o jainismo a religião é um meio de autodescoberta e esforço espiritual para alcançar a verdade e não deve ser interpretado como um dogma autoritário e coercitivo (que impede a livre investigação e exige a rendição incondicional aos preceitos das Escrituras ou aos ensinamentos messiânicos) que a pretexto de peso da autoridade, muitas vezes, persegue quem blasfema contra ele.

Em todas as religiões indianas o conhecimento adquirido através da experiência pessoal é mais válido do que o conhecimento obtido através das Escrituras ou de ensinamentos. Este último se torna aceitável e importante, mas, aí, não existe a experiência pessoal legítima, nem o conhecimento direto. Pode-se recorrer a fé cega e a autoridade das Escrituras ou de um mestre nas etapas iniciais do esforço espiritual, porém, no final, é, imprescindível, alcançar o objeto de tal fé, em um estado de não-dualidade, para que se experimente a unidade e ser absorvido na mesma.


Neste ponto de vista podemos perceber verdades subjacentes: 


- que a não-violência é o método sugerido para que se alcance a perfeição; a tradição defende que não se pode violar o princípio da não-violência para realizar esse objetivo. 


- da  mesma maneira que muitas dualidades da vida, a fé, que é um facilitador no início, torna-se um obstáculo em algum estágio do caminho espiritual; portanto há que se renunciar a fé para transcender as construções mentais e noções intelectuais e experimentar a verdade diretamente. 


No jainismo e no budismo é dada prioridade ao ensinamentos daqueles que tenham atingido a perfeição e experienciaram a verdade e não a fé cega na existência de um Ser Eterno. Ambas as religiões negam a existência de Deus como uma entidade absoluta e eterna e não reconhecem seu papel como o criador do mundo e da realidade em que vivemos.


No budismo qualquer discussão a respeito de Deus é considerada como inútil, porque ela é de pouco valor na libertação de um indivíduo. Especular é considerado como função de uma mente ociosa  e propensa a distrações. Não leva a mitigação do sofrimento humano, nem a libertação. O que mais importa é o esforço pessoal e a sinceridade com que o caminho óctuplo é praticada. O Buda aconselhou seus discípulos a permanecerem no presente, conscientes de seu imediato mundo perceptível, para conhecerem a verdadeira natureza de sua existência e encontrarem soluções adequadas para o problema dos seus respectivos sofrimentos.


Se o budismo não afirma, nem nega, claramente, a existência de Deus, deixando a questão inconclusiva e sem resposta, já o jainismo tem uma posição bastante enfática ao negar a existência de Deus como um Ser universalmente absoluto responsável pela criação; o jainismo sobre esse assunto não deixa margem para ambiguidades e incertezas.


Entretanto, paradoxalmente, embora o jainismo não acredite na existência do Ser Supremo Universal, não podemos classificá-lo como uma tradição ateísta, uma vez que tem, ostensivamente, elementos do teísmo. O jainismo não reconhece esse Deus, mas defende a fé que há inúmeras almas individuais em diferentes estados de escravidão e perfeição que são tanto divinas, quanto eternas. Isso quer dizer que o jainismo  acredita na natureza eterna das almas individuais que habitam as diferentes regiões do universo, essas almas têm o potencial de atingir seu mais alto estado de perfeição, através de seu esforço individual. O jainismo também repousa sua fé nos ensinamentos de Seres Perfeitos (os Arhats) e a existência de moradas mais elevadas que são povoadas por deuses (os Siddhas). Ambos Arhats e Siddhas são considerados veneráveis e dignos de serem imitados.


Para um jaina, Deus não é o centro do mundo. No entanto, um mundo desprovido de Deus ainda pode ser divino e eterno. O jaina percebe divindade, ou a qualidade essencial que é a perfeição de Deus no reino mais elevado do universo e nas almas individuais, que são intrinsecamente puras e que adquiriram a capacidade da onisciência, onipotência e onipresença através  de suas escolhas e ações. O universo e a alma são realidades permanentes que não podem ser negadas. Mesmo a materialidade de nossa existência não é uma ilusão, mas uma realidade que tem componentes variáveis chamados tattvas. Matéria e substância são reais, assim como as alma o são. De acordo com o Akaranga Sutra: "Aquele que nega o mundo, nega a si mesmo; e aquele que nega a si mesmo , nega o mundo".


Assim sendo, no jainismo Deus é substituído por uma realidade permanente - as almas individuais - que são eternas, incriadas e indestrutíveis. As almas habitam o universo que, também, é incriado e indestrutível. O universo está sujeito ao movimento de prolongados ciclos de tempo repetitivos durante milhões de anos em que as almas passam por fases alternadas de declínio moral seguido de recuperação espiritual, tal qual a mecânica compassada, do dia que é seguido pela noite e a noite pelo dia.


O Deus do jainismo ou o seu princípio superior de existência não é ser um doador de dádivas ou um libertador dos seres, mas possui um estado ideal de pureza eterna e bem-aventurada consciência para que a humanidade possa nele se inspirar e aspirar através da renúncia, do auto esforço intenso e purificação alcançar o mesmo estágio. Um jaina que se compromete a trilhar a senda dos seres Perfeitos, conhecidos como Tirthankaras ou Arhats ou jinas, visa atingir tal estado de divindade não pelo amor a Deus, ou para estar com Deus, ou tornar-se semelhante a Deus porque Ele é um Ser superior, mas para escapar do sofrimento existencial, para recuperar a liberdade perdida da alma. Em suma, no jainismo, não há lugar para o bhakti*.


Nota:

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre

* Bhakti (em sânscrito quer dizer devoção) é uma das três doutrinas ou caminhos básicos prescritos pelo hinduísmo para a liberação espiritual (moksha). De acordo com as características pessoais de cada praticante, pode-se optar por um ou mais destes caminhos, simultânea ou separadamente e a qualquer tempo ou período de vida. São eles:


- Karma - ou o caminho do trabalho com desapego aos resultados ou frutos por ele produzidos.


- Bhakti - ou o caminho da devoção a um dos múltiplos aspectos do absoluto (Braman)


- Jnana  ou gnosis - o caminho do conhecimento, descobrindo a espiritualidade através do inquirir racional.


Pelo fato do jainismo, hinduísmo e budismo terem coexistido, até os dias atuais, na mesma região e seus proponentes terem interagido com frequência, o jainismo tem traços de ambas as tradições; bem como as outras duas, também, absorveram alguns de seus aspectos. Sendo assim, parece que, em algum período da história do desenvolvimento religioso na Índia, a adoração do Senhor Krishna encontrou seu caminho para o jainismo. Arishtanemi, o Tirthankara 22, está ligado a ele. O resultado foi a origem da comunidade de Vaishnava jainistas, uma sub-seita independente do jainismo, cujos adeptos adoram devocionalmente o Senhor Krishna da mesma forma como os hindus  o fazem. No entanto, essa ramificação foi uma exceção e não deve ser interpretada como prática comum no jainismo.


As Escrituras jainas questionam a existência de Deus tanto lógica quanto teísticamente*. O Mahapurana declara que se deve rejeitar todas as noções de algum Deus criador do universo. Ele pergunta: "Se Deus criou este mundo, onde Ele estava antes da criação e onde está agora e como pode um Deus imaterial criar um mundo material?" E conclui: "Saiba que o mundo é incriado, como o próprio tempo o é, sem começo e sem fim... Incriado e indestrutível, ele perdura sob as compulsões de sua própria natureza, dividido em três seções - o inferno, a terra e o céu.


* Teísmo - é um conceito filosófico-religioso desenvolvido para se conceber o Criador. Esta filosofia defende que este Ser é a única entidade responsável pela criação do universo; é onipotente, capaz de realizar tudo sem a ajuda de quem quer que seja; é onisciente, pois é Aquele que tudo conhece e é possuidor de infinita liberdade e suprema generosidade.


Teísmo é um termo que provem do grego Théos, que significa "deus". Neste sentido , o Teísmo se contrapõe ao ateísmo, que não acredita na existência de uma divindade suprema. A filosofia teísta foi difundida em 1678 pelo filósofo e teólogo inglês Ralph Cudworth, integrante do movimento filosófico conhecido como Platonistas de Cambridge.


O Teísmo pode ser classificado em:


- Monoteísmo - fé em um único Deus.

- Politeísmo - devoção a  diversa divindades.
- Henoteísmo - quando se adora um Deus Superior, mas não se rejeita a existência de outros deuses.

Não é que o hinduísmo não possa responder a uma pergunta tão crucial. No entanto sua resposta não se coadunaria com o ponto de vista jaina sobre o universo e sua natureza eterna. Para um hindu o universo material é irreal e ele veio a existência como projeção ou manifestações de Deus. Para um jaina o universo é real porque a matéria é real e não criada. Embora possa passar por vários estados ou condições o universo sempre esteve aí e deve manter-se sempre, sem começo e sem fim, assim como as almas individuais.


Embora os jainistas não reconhecem a presença de Deus, eles reconhecem a existência de seres superiores chamados Arhats e, no céu, alguns deuses (Siddhas). Os deuses são almas que gozam de uma maior liberdade e um maior grau de pureza, conhecimento e inteligência e são incorpóreos. Os Arhats não têm qualquer interesse nos assuntos profanos. Neste aspecto eles são completamente indiferentes ao que se passa no mundo. No entanto, estão interessados no bem-estar do universo e em ajudar as almas imperfeitas a subirem a escada da pureza e da justiça através de austero auto esforço para que alcancem o mundo dos seres perfeitos.


Os jainas adoram os Arhats não para ganhar favores deles, mas para limpar o seu carma. O próprio ato de adorar os seres perfeitos é interpretado como sendo benéfico, uma vez que tem o efeito purificador de reduzir o fluxo de matéria cármica em seus corpos e, assim acelerar o seu progresso no caminho espiritual. Assim, antes de tudo a adoração aos Arhats não é um esforço devocional mas espiritual (no entanto, algumas seitas jainistas acreditam que os Arhats podem remover o mau carma de quem lhes presta devoção).



sexta-feira, 10 de julho de 2015

O SEGREDO DA ORAÇÃO - Pujya Gurudevshri Rakeshbhai



O SEGREDO DA ORAÇÃO

Prédica de Pujya Gurudevshri Rakeshbhai



Pujya Gurudevshri Rakeshbhai


Certa vez um discípulo perguntou a seu guru: "Como faço para que minhas orações cheguem até Deus?" O guru respondeu: "Pelo que parece você não entendeu o propósito da oração. A oração é para você alcançar a Deus*, não para a sua oração chegar a Deus. Quando uma flor desabrocha ela espalha sua fragrância. Será que a fragrância chegará até alguém? Você não acha que perguntar isso é dispensável? Afinal, a natureza da flor é florescer e, não, garantir que sua fragrância atinja alguém".


Nota: 

"Alcançar a Deus" segundo o jainismo quer dizer alcançar a condição de um Siddha (uma alma liberada). Veja ao final dessa prédica melhores explicações.



Por que essa questão surgiu? Porque a oração não era um sentimento sincero; era apenas uma exigência. Sendo assim havia uma ânsia de descobrir se a solicitação seria cumprida ou não. Uma oração baseada em reivindicações não é uma oração em absoluto. A santidade da oração reside na ausência de desejos. 

A Verdadeira Oração

Jalal ad-Din Rumi (foi um poeta, jurista e teólogo sufi persa do século XIII) dizia a Deus: "Eu sou fraco, ó Senhor! Se algum dia eu pedir alguma coisa a Ti, não me escutes. E, se me escutares, por favor, não me concedas o que Te peço. Deixa que somente Tua vontade se cumpra. Senhor, minha felicidade está no que Te agrada. Eu nem sequer sei o que é bom para mim! O que quer que Tu faças é certo, ainda que, muitas vezes, não entenda os Teus desígnios."

A oração serve para alterar a vontade de Deus ou para nos transformar espiritualmente? A verdadeira oração é aquela que começa com uma intimação para que mudemos a nós mesmos e culmina em um estado silencioso, tranquilo de beatífica serenidade. Qualquer pedido para mudar as circunstâncias não pode ser chamado de oração.  Isso é pura mendicância.



Somente a Oração é Suficiente?

Outra questão que, eventualmente, poderá surgir é, se, apenas, orar de maneira correta é o bastante para que alcancemos a Deus. A resposta é sim. Orar é o suficiente, desde que a oração venha do fundo do coração, seja uma ânsia da alma. Porque a questão é : a oração é sincera ou é emprestada? É algo que você aprendeu a decorar e recita mecanicamente ou ela vem de dentro, de modo voluntário e consciente? Se ela vem das profundezas do seu coração, seguramente, é o suficiente. 


Afinal, como pode a recitação de palavras decoradas - que outra coisa não é senão a verbalização de emoções e anseios de outra pessoa - ser chamada de oração? Aquilo que é emprestado não pode ser uma oração. Não importa quantas vezes você repita as palavras se o seu coração não está presente, se ele não palpita pelo que você diz. Não importa quantas vezes você recite, maquinalmente, preces e  hinos devocionais se isso não é um ato que o motiva a dançar, que o tira do marasmo de sua existência adormecida. Acreditar que uma oração ilegítima irá beneficiá-lo é uma mera ilusão. Somente as emoções suaves, de amor verdadeiro, advindas de seu coração são capazes de transformá-lo, não palavras emprestadas.



Orações Não Podem Ser Ensinadas

Orações parecem ter desaparecido deste mundo, porque elas são ensinadas, em vez de serem acesas para tornarem-se iluminadas. Pelo ensino as orações se tornam artificiais. E uma vez que não são acesas a partir de dentro, a vida permanece vazia e cheira a podridão. Nunca ensine uma oração - decoreba de palavras - a quem quer que seja. O próprio ato de ensinar torna-se inútil.


A verdadeira oração se expressa de diferentes maneira - na forma de lágrimas ou como dança. Não tem nada a ver com o vocabulário. Numa autêntica oração palavras podem ou não estar presentes, mas o que vale mesmo é o estado emocional sincero. Este, sim, é necessário. Portanto a oração não pode ser nem ensinada, nem aprendida. Ela não significa memorizar determinados vocábulos e, em seguida, expressá-los verbalmente. A oração não é um conjunto específico de palavras eruditas que você reproduz, tal qual quando faz exames na escola - escreve o que foi memorizado sem ter entendido nada. A oração deve partir de seu íntimo. Dizer algo que se aprendeu de memória é como encenar uma peça teatral. Tudo que for emprestado, memorizado ou preparado com antecedência não é uma oração. Aquilo, sim, que é seu, espontâneo, que não foi ensaiado, é uma oração. Quanto mais você se preparar -  quanto mais sofisticar sua oração - mais superficial você e ela serão. Para orar, não existe um método, uma rotina.


Não há rituais para o amor. Onde existem rituais, há artificialidade. Você aprende a amar? Quando você tenta estudar técnicas e regras de como amar, isso, torna-se um mero ato externo. Ele se torna postiço, falso. Esse tipo de amor não é real. Você nasce com a capacidade inata de amar; não é necessário estudar como amar. Esta canção já está presente em sua existência. Tudo que você precisa é dar uma oportunidade para que ela se manifeste.


Por exemplo, se alguém quer dormir, o que faz? Será que irá ensaiar como dormir? Será que primeiro se exercitará, fará algum tipo de yoga, ou estudará como isso é realizado? Tudo o que fizer sera, apenas, um obstáculo para dormir. No entanto, muito pode ser feito. Ele pode fechar as cortinas para evitar que a luz entre no compartimento onde pretende se deitar. Ele pode arrumar sua cama de forma agradável e acolhedora. Ele pode ligar o ventilador, etc. Todos estes procedimentos não são feitos para ele ter sono, mas, sim, para superar os obstáculos e desconfortos - luz incidindo sobre os olhos, uma cama desconfortável, calor excessivo, etc. -  que, eventualmente, o impeçam de dormir. Todas as providências que tomar para tornar o ato de dormir mais agradável, será útil, no entanto, elas não poderão lhe trazer o sono; o sono vem por conta própria.


O mesmo acontece com a oração. Basta você afastar-se do barulho que vem do lado de fora. Sente-se sozinho por algum tempo, esqueça o mundo e se conecte com seu eu interior. Cutuque-o. Cave fundo esse eu interior.  Inicialmente, você poderá encontrar, apenas, seixos e pedras, porém se você persistir e continuar a cavar, a profundar-se em si mesmo, um dia, uma fonte de bem-aventurança brotará. Aguarde com paciência.



Implorar não é Rezar

Por que as pessoas continuam a ser as mesmas, depois de orarem? É porque a oração tem sido mal interpretada. É lamentável que a palavra "oração" passou a ser sinônimo de implorar ; a palavra "oração" passou a significar reivindicação e petitório. Pedir qualquer coisa com fé é logo interpretado como oração. Agora, vejamos, se rotularmos uma pessoa que implora por algo como sendo uma pessoa de oração, de que maneira poderemos chamar um mendigo? Durante séculos a mendicância foi realizada com o nome de oração, por isso a oração nunca floresceu no coração para proporcionar alegria.

A oração é um estado sereno da mente e não um hino devocional ou a recitação de um mantra para obtermos a realização de um desejo. Alguns oram na crença de que se pedirem com fé irão recebê-lo. Acreditam que mendigando estão orando e através dessa oração realizarão seus desejos. Mas os seres iluminados dizem que se nos entretemos com desejos tais como "Espero obter isto; espero não obter aquilo; espero que isso aconteça; espero que aquilo não aconteça, etc." de modo algum estamos orando. No momento em que seus desejos são anexados a uma oração uma pedra de moinho fica amarrada em volta do pescoço da ave da oração. As asas da devoção são cortadas. Agora, a ave não será capaz de voar. Ela irá lutar, exaustivamente, em vão. Por final, morrerá.


A oração é para você conhecer Deus. A oração é para você alcançar a Deus. A oração, portanto, não deve ser uma cópia porque ela é diferente para cada um de nós. O caminho de cada um de nós é diferente, de igual modo, a maneira como expressaremos o nosso modo de ser e amar é  diferente. Mas uma coisa é certa -  a nossa oração é diferente, o nosso modo de expressá-la é diferente, mas o estado interior de onde elas emergem é o mesmo. A oração é uma dança interior, uma explosão de alegria, um estado de bem-aventurança.


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Deus no jainismo

(segundo a Wikipédia, a enciclopédia livre)

O jainismo rejeita a ideia de uma divindade criadora responsável pela manifestação, criação ou manutenção deste universo. De acordo com a doutrina jaina, o universo e seus componentes (alma, matéria, espaço, tempo e princípios do movimento) sempre existiram. Todos os componentes e ações são regidos por leis naturais universais e uma entidade imaterial como Deus não pode criar uma entidade material como o universo. O jainismo oferece uma elaborada cosmologia, incluindo os seres celestiais (Devas), mas esses seres não são vistos como criadores; eles estão sujeitos ao sofrimento e mudam como todos os outros seres vivos, e, finalmente, atingem a libertação.


Jainistas definem divindade como a qualidade inerente de qualquer alma e é caracterizada por felicidade infinita, poder infinito, conhecimento puro infinito (Kvala Jnana) e perfeita paz. No entanto, estas qualidades são subjugadas devido a carmas da alma. Aquele que atinge este estado de alma perfeito através da crença correta, o conhecimento correto e a conduta correta pode ser chamado de um deus. Esta perfeição é chamada kevalin ou Bodhi. Uma alma liberada - liberta de misérias, dos ciclos de renascimento, do mundo, dos carmas e, finalmente, liberta, também, do corpo - torna-se um deus. Essa libertação chama-se nirvana ou moksha.


Se a divindade é definida como um estado de ser em que a alma se liberta dos karmas e realiza a iluminação aquele que existe em tal estado é um deus; da mesma forma, aqueles que alcançam tal estado, também, são chamados de deuses ou Tirthankaras. Assim, Rishabha, era um deus ou Tirthankara, mas ele não foi o único Tirthankara; houve muitos outros. No entanto, a qualidade divina é a mesma em todos eles. Devido a isso o jainismo pode ser definido como politeísta, monoteísta, não teísta, transteísta ou ateu, dependendo da definição de deus que cada um dê.


O jainismo não ensina que se dependa de qualquer ser supremo para que se atinja a iluminação. O Tirthankara é um guia e mestre que aponta o caminho para ela, porém a luta para atingí-la é encargo de cada um de nós. Recompensas morais e sofrimentos não são tarefas de um ser divino, mas  um resultado de uma ordem padrão inata do cosmos - um mecanismo de auto-regulação em que o indivíduo colhe os frutos de suas próprias ações através do funcionamento do karma.


Os jainistas acreditam que, para atingir a iluminação e, finalmente, a libertação de toda a ligação cármica, deve-se praticar os princípios éticos, não só no  pensamento, mas, também, nas palavras e ações. Tal realização, através de trabalho persistente ao longo da vida, para com nós mesmos, é considerado tal qual observar o Mahavrata (os Grandes Votos).


Os deuses no jainismo podem ser assim classificados: em deuses encarnados - também conhecidos como Arihantas* - e os não encarnados, deuses sem forma, que são chamados de Siddhas. O jainismo considera como devas (deuses) e devis (deusas) as almas que habitam os céus devido aos seus atos meritórios que praticaram em suas vidas passadas. Portanto,  até mesmo estas almas que habitam agora os céus para uma vida fixa  e útil tiveram que se submeter a reencarnações sucessivas como seres humanos para alcançar a libertação final (moksha).



* Os Arihantas podem ser de dois tipos: 

1. Samanya kevali - Arihantas que estão interessados em sua própria libertação.

2. Tirthankara kevali - 24 guias espirituais humanos que depois de se tornarem Arihantas mostram aos outros seres humanos o verdadeiro caminho para a salvação.