sexta-feira, 30 de outubro de 2015

PUJYA GURUDEVSHRI RAKESHBHAI - PARTE II - VÍDEOS


VÍDEOS SOBRE PUJYA GURUDEVSHRI RAKESHBHAI E A MISSÃO SHRIMAD RAJCHANDRA DHARAMPUR


SHRIMAD RAJCHANDRA MISSION DHARAMPUR - AN INTRODUCTION


Este vídeo mostra tudo que Pujya Gurudevshri Rakeshbhai tem feito em prol da sociedade e da espiritualidade. Apresenta um pouco de sua vida e suas realizações.







AVALANCHE OF SPIRITUALITY AS PUJYA GURUDEVSHRI RAKESHBHAI

Estes dois vídeos mostram a visita de Pujya Gurudevshri Rakeshbhai aos Estados Unidos e Canadá











SHRIMAD RAJCHANDRAI'S BIRTH ANNIVERSARY CELEBRATIONS 2014

Este vídeo mostra as comemorações, no ano de 2014, do aniversário (ele faria 147 anos) do Param Krupalu Dev Shrimad Rajchandra (Shrimad Rajchandra). Foi uma semana de festividades e muitas demonstrações de devoção.  





EXPERIMENTE SER SEU PROFESSOR - Pujya Gurudevshri Rakeshbhai



Experimente Ser Seu Professor



Pujya Gurudevshri Rakeshbhai


"Eu sou, apenas, razoavelmente bom; continuo a cometer os mesmos erros sempre e sempre. Eu sou um perdedor." Muitas vezes ouvimos de nós mesmos e de outros esse tipo de declaração. Pugya Gurudevshri nos convida a uma viagem de 
compreensão mais profunda, para descobrirmos porque isso acontece e como podemos nos beneficiar com nossas próprias experiências.


Os seguidores de todas as religiões acreditam que suas escrituras  têm uma solução para qualquer situação. Os muçulmanos  acreditam que tudo foi explicado no Sagrado Alcorão. Os cristãos  acreditam  o mesmo sobre a Bíblia Sagrada. Os hindus  acreditam  que no Santo Gita encontrarão soluções para tudo. Mas, apesar dessas soluções, por que os problemas não terminaram? Apesar de todas as respostas, por que existe tal infelicidade e confusão?


Em uma  escola as crianças são convidadas a resolver problemas de matemática. As respostas à estes problemas são dadas no fim do mesmo livro. Os estudantes copiam daí as respostas e pensam que os problemas ficaram solucionados. Mas as respostas são, apenas, informações. Saber, somente, a resposta não resolve o problema. Entre a pergunta e a resposta existe um método de se chegar a essa resposta. Onde está esse processo? Sem o processo qual o proveito de ter uma resposta. Ela se torna um empréstimo, ela é de outra pessoa. Na realidade, ela nem sequer pode ser chamada de uma solução. Os seres iluminados alcançaram a resposta através de sua própria experiência; eles pagaram o preço por isso. Você não pagou o preço. Se você crê ter atingido a verdade, isso é apenas uma ilusão sua.


Os santos dizem que você deve aprender a partir de suas próprias experiências. Porém todos nós acreditamos que as experiências dos ignorantes não têm nenhum valor. Dizemos: "O que se pode aprender através das próprias experiencias quando não se tem conhecimento algum? De que serve, pois tal consolo dos santos? Estamos tão iludidos que, continuamente, estamos caindo na mesma cova. Por isso devemos aprender com as experiências deles."



Aprenda Com Suas Experiências

Os santo dizem que é preciso primeiro entender o que significa aprender com a própria experiência. Que estado  vai lhe proporcionar paz e alegria e que estado vai levá-lo a inquietação e a dor - isso você deve aprender com suas própria experiências. Permaneça atento a elas.

As pessoas não são sensíveis em relação as suas experiências. Elas não permanecem conscientes e, portanto, perdem o aprendizado que teriam através delas. Por ser assim a única solução que encontram é acreditar no que os outros dizem, ou o que os livros ensinam. Mas os outros falam de suas próprias experiências. Se as suas circunstâncias e seu estado interior não coincidem com o deles, então as palavras dos outros não irão beneficiá-lo, e podem até,  muitas vezes, revelarem-se prejudiciais.


É preciso estudar as Escrituras, tendo em mente que  as instruções dadas foram para quem, quando e onde. Caso contrário essa informação emprestada não será benéfica. O que é necessário é o entendimento, não, apenas, a imitação cega. As lições mais importantes  são  aquelas extraídas da própria vida. E essas lições somente são aprendidas quando você está consciente de suas experiências.



Por Que Os Erros São Repetidos?

Mesmo vacilando mil vezes você ainda pode aprender com seus erros. Quando o mesmo erro se repete uma e outra vez, isso mostra que você não aprendeu o que devia daquela situação. Se você estava triste por ter errado, provavelmente você nunca irá repetir o erro. Mas se você não experimenta dor ao praticá-lo, então ele está prestes a acontecer novamente.

Você argumenta que está tão iludido que continua caindo no mesmo buraco sempre e sempre... Isso só significa que você nunca sentiu que ele é um poço. Outra pessoa disse-lhe que era um poço e você acreditou. Os Iluminados exclamaram que estes eram poços e você começou a papagaiar a mesma coisa.


Os santos podem chamar aquilo de um poço, mas você o vê como um? Dentro de seu coração há o desejo de retornar para aquele buraco, novamente. O dia que você perceber que é um poço, irá parar de cair dentro dele.



A Transformação Não Pode Ser Emprestada

Se você, cegamente, começar a viver as palavras dos Iluminados, sem mudar suas crenças,  irá perceber que sua atração para a cova - o erro - não reduziu. Você ainda tem o desejo de prazeres sensuais e também se sentirá culpado por isso. Aos poucos a hipocrisia e o engano irão defini-lo. 

Quando você não vê que o fumo do cigarro causa dano espiritual, físico e emocional, não consegue deter o desejo por ele. Mesmo depois de ser informado a respeito dos seus efeitos nocivos, se você não está convencido, o desejo permanece. E, além de tudo, ainda desenvolverá um sentimento de culpa que resultará em engano, medo e, finalmente, a hipocrisia de fumar. Tentando mudar somente se baseando no que os outros dizem, sem alterar suas crenças, terá como resultado uma personalidade dividida. 


Sua Própria Fé É Necessária

Você somente experimentará uma transformação dentro de si se manter o controle de suas crenças, pensamentos, emoções e experiências. Uma vez perguntaram a um santo: "Como podemos nos livrar dos vícios?" Ele respondeu: "No dia que vê-los como vícios, você se tornará livre deles". Aquele cuja casa está pegando fogo não perguntará "Como posso escapar?". Ele não irá esperar para saber mais sobre boa conduta ou regras. Ele dará um salto e virá para fora.

Ao permanecer consciente de suas próprias experiências sua ignorância e estupidez serão reveladas. O primeiro raio de conhecimentos amanhece em cima de você. Uma vez que você vê o poço, como um poço, verdadeiros esforços para evitar cair nele começam. Então, funciona assim: você poderá colocar uma tonelada de esforço e ler milhões de livros. Somente isso não o ajudará. Pode mesmo ler o melhor dos livros  e  suas lições não o tornarão melhor. Deve, sim,  haver a sua total compreensão. A consciência de suas próprias experiências é que o farão vigilante.




Despertar

A vida ensina tudo. Pode ser que, apenas, você não queira entender. A vida ensina grandes lições. Você precisa ter despertado para apreender essa lições. Você está dormindo. Seus conceitos podem ser desafiados. Suas crenças precisam ser quebradas. Você somente precisa acordar.

Imagine alguém dormindo, que se aconchegou em um cobertor macio, desfrutando da brisa de uma manhã fria e tendo doces sonhos. Em tal condição esse alguém não gostará caso você tente acordá-lo; mesmo que ele próprio tenha lhe pedido  para fazê-lo em uma determinada hora. Ele não apreciará porque gosta de dormir, ele gosta de sonhar! Mas na inconsciência - não estando consciente - não há progresso; a pessoa permanece no mesmo lugar, indefinidamente.

Há apenas uma solução para a pessoa que sonha - acordar. Uma vez que ela acordar, seus olhos se abrirão; ela, então, verá a verdade com seus próprios olhos. A sensação de que você é religioso, também é um sonho. Mesmo que você se converta em um asceta , isso, também, será somente um sonho porque seus olhos não estão abertos. Acordar e olhar com seus próprios olhos! Eis tudo. A verdadeira religião começa aqui - ver; ver o caminho certo e com a crença certa. Este despertar é importante. Você pode acordar porque você não está morto, está, apenas, dormindo. Aquele que se extraviou pode voltar para o caminho certo. Aquele que caiu pode se levantar. Aquele que é capaz de dormir é muito capaz de acordar. Seu sono anuncia sua capacidade de despertar.


Viver Sabiamente

Sendo assim, a primeira coisa que deve ser feita é acordar. Cultivar a consciência de suas próprias experiências. Mude a direção de seus olhos dos eventos externos para as mudanças internas que ocorrerão. Estabeleça a relação correta entre a causa e o efeito. Viva a vida com sabedoria. Viva com consciência. Pergunte a si mesmo: "O que eu estou fazendo?", "Por que estou fazendo isso?", "O que eu quero?". Pare de justificar ou dar desculpas pelo que lhe acontece e pelo que faz alegando ser motivado pelo destino, carma, tempo, etc. Aceite a realidade. Faça aquilo que lhe trará felicidade e deixe de lado aquilo que lhe faz sofrer. Se é a ira que lhe causa dor, renuncie a ira. Se a meditação lhe proporciona felicidade medite cada vez mais. Dirija a energia usada na raiva para a meditação. Com isso uma transformação irá acontecer. 

Se você pode perceber que tem uma dor de cabeça ou uma dor de estômago, por que não pode reconhecer o sofrimento de sua alma? Você está em tal sono profundo que nem sequer é capaz de perceber a dor? Não, você não está só sonolento. Existe outra questão - você não deseja reconhecer a dor.

O que quer que aconteça em sua vida, saiba-o com a consciência absoluta. Procure as causas do sofrimento. No diagnóstico, por si só, está o remédio. Você deve encontrar a causa do sofrimento dentro de si mesmo. Ao encontrar a causa ele se extingue. Você ficará livre dele! Você só precisa acordar! Não peça uma lista do que deve fazer e o que não deve. Procure despertar. Uma vez que acordar tudo que é inútil se desprenderá de sua vida e o que é valioso permanecerá.


sábado, 24 de outubro de 2015

ACHARYA TULSI - DA SEITA JAINA SVETAMBARA TERAPANTH


ACHARYA TULSI




Acharya Tulsi nasceu no dia 20 de outubro de 1914, na cidade de Ladnu, no estado indiano de Rajastão e faleceu no dia 23 de junho de 1997. Tulsi foi iniciado na vida monástica com 11 anos de idade. Ele foi um importante líder religioso jaina. Foi autor de mais de cem livros e foi, também o fundador do movimento Anuvrata e do Instituto Bharti Jain Vishva. Pertencia a seita Svetambara Terapanth (Em 1936 foi nomeado pelo Acharya Kalugani para ser seu sucessor fazendo dele o nono Acharya da Terapanth Sangha), mas foi um incansável defensor da unidade jaina, independentemente das diferenças sectárias. Ele propôs uma cooperação harmoniosa entre as várias seitas e como resultado foi criado o Saman Suttam* - um texto compilado das Escrituras e aceito por todos os jainistas.

Saman Suttam - é um texto religioso criado  em 1974 por uma comissão composta por representantes de cada uma das principais seitas do jainismo para reconciliar os ensinamentos da religião. O texto é compreendido de 24  capítulos que abordam os seguintes temas: os princípios essenciais da filosofia jaina, sua doutrina, seu código de ética e processos de avanço espiritual.


Movimento Anuvrata

Em 1949 o Acharya Tulsi  lançou o Movimento Anuvrata (anu = pequeno; vrat = voto) que é uma versão menos rígida dos Mahavratas (os 5 votos dos monges que são não-violência, não-posse ou renúncia de todos os bens, não roubar, não mentir e celibato). O movimento visa o cidadão comum. Incentiva as pessoas a aplicarem os Anuvratas em sua vida diária, tanto em situações pessoais quanto em suas relações interpessoais. O movimento, também, considera que a religião, ou doutrina, não é para garantir a felicidade em vidas futuras, mas, também para alcançar a felicidade na vida presente. O Movimento Anuvrata, após a morte do Acharya Tulsi continuou sob a liderança de seu discípulo Yuvacharya Mahapragya (o décimo Acharya da Terapanth Sangha), falecido em 2010. Atualmente o Movimento segue através do empenho e dedicação do Acharya Mahashraman (o décimo primeiro Acharya da Terapanth Sangha).


Acharya Mahapragya



Acharya Mahashraman


A iniciativa de Acharya Tulsi de criar o Movimento Anuvrat, conforme ele mesmo declarou, foi porque "havia resolvido lançar uma cruzada contra a imoralidade na vida social e dedicar toda a minha vida a causa da não-violência e da unidade de todos os seres humanos". Ele jogou fora o jugo de dogmas sectários e exortou os jainistas a se voluntariarem para uma vida disciplinada de um Anuvrati. Ele disse: "Se um átomo tem em si o poder monstruoso para destruir o mundo, o que foi demonstrado no holocausto, e sem precedentes, em Hiroshima e Nagasaki, eu quero mostrar ao mundo que temos o seu homólogo em Anuvrat - um voto básico -; o único que tem o poder de afastar e combater a ameaça de uma bomba atômica." O apelo teve um efeito favorável sobre os jainistas e muitos aceitaram fazer os votos e, realmente, pô-los em prática. O Movimento  Anuvrat desde então tem crescido como uma figueira poderosa com seus ramos se espalhando em todas as direções.
Anuvrat  significa um voto básico ou um mandamento em que a pessoa se propõe a renunciar a suas deficiências e falhas morais.      


Uma Personalidade Única     

A vida de Acharya Tulsi  é a história de uma alma nobre, um pacificador, um grande expoente da religião do humanismo do século passado. O seu lema era: "O ser humano  é antes de tudo um ser humano. Ele pode pode ser um hindu, um muçulmano, mas depois." Acharya Tulsi acreditava que a excelência do homem reside na sua capacidade de julgar o que é certo e o que é errado. O homem está imbuído de poder discriminatório que lhe permite exercer o autocontrole. Ele tem em si a capacidade de decidir sobre o que deve ser abandonado e ficar com aquilo que acha útil. Sendo assim, ele pode fazer de seu caráter algo sublime. Certa vez pessoas que não conheciam o Acharya Tulsi lhe perguntaram quem era ele. Ele se apresentou com as seguintes palavras: "Em primeiro lugar eu sou um ser humano e, em seguida, um homem religioso. No que diz respeito  a ser um jaina e um chefe de uma seita jaina, eu coloquei essas posições no terceiro e quarto lugares, respectivamente." Para o Acharya Tulsi a seita a que pertencia foi relegada para o quarto lugar.   As pessoas que outorgam o primeiro lugar para a sua seita cobrem apenas a luz da religião com um manto de escuridão.    

O segredo da força e vitalidade de Acharya Tulsi estava em sua personalidade extremamente generosa. De estatura média, tez clara, testa ampla, grandes olhos brilhantes, orelhas longas - esse homem a todos fascinava. De disposição alegre, de uma pureza inata, de um sentimento de equanimidade para com todos, de um sempre sereno estado de espírito - mesmo em meio a oposição hostil - de uma completa ausência de estreiteza paroquial, sectária, racial ou linguística, de uma constante doação de amor espiritual, assim podem ser resumidos seu caráter e sua personalidade. A grandeza de um homem não reside na elevação do cargo que ocupa, mas no impacto que sua vida e obra causam à sociedade. Quando aplicamos este parâmetro para medir a grandeza de alguns personagens que viveram em nosso último século podemos colocar Acharya Tulsi entre os que ocupariam os primeiros lugares - ele, de fato, era uma alma refulgente. A vida de todos os grande homens mostram uma característica comum, ou seja, eles se dedicam a nobre causa do bem-estar humano e trabalham, incansavelmente, para a  realização de seu objetivo final. Sofrem em silêncio no decurso de sua luta para livrar o povo de sua angústia e agonia, que tem como causa a pobreza, o egoísmo, as doenças e o desejo de poder. A história comprova a verdade da crença universal de que grandes homens emergem no cenário do mundo sempre que uma crise ameaça a existência da humanidade. As enciclopédias nos fornecem amplo material desses personagens heróicos, dignos de louvor. E o que distingue esses grandes homens uns dos outro é o método ou a maneira que adotam para livrar as pessoas das dificuldades. Quando Punjab estava pegando fogo por causa do descontentamento dos militantes sikhs, Acharya Tulsi convenceu o ex-primeiro ministro, na época, Rajiv Gandhi e o líder religioso sikh Hacharan Singh Longowal* para fazerem um acordo. Seus esforços foram bem sucedidos e o Rajiv-Longowal Accord** foi assinado. Esse acordo trouxe paz para esse estado altamente perturbado por agitações e motins.

* Harcharan Singh Longowal (02 de janeiro de 1932 - 20 de agosto de 1985) foi o presidente do Akali Dal (movimento que reivindicava direitos para os sikhs) durante a insurgência Punjab na década de 1980 (séc. XX).

** Rajiv-Longowal Accord, também conhecido como Punjab Accord (Acordo de Punjab) foi um acordo assinado por Rajiv Gandhi e Harcharan Singh Longowal em 24 de julho de 1985. O governo aceitou as exigências do Akali Dal que por sua vez concordou em acabar com as agitações. O acordo atraiu a oposição de vários líderes ortodoxos sikhs e de líderes do governo. Algumas promessas não puderam ser cumpridas devido a essas divergências, mas os tumultos terminaram. Menos de um mês após a assinatura do acordo de Punjab, Harcharan Singh Longowal foi baleado e morto por militantes sikhs que se opunham ao acordo.

Como Madre Teresa e o Bispo Tutu, Acharya Tulsi dedicou toda a sua vida a causa nobre da paz, da não-violência. Ele inspirou milhões de pessoas a abster-se da discórdia, do ódio, da exploração, da ganância, das drogas nocivas. Na verdade, ele era um humanista e um grande humanitário. Sua missão de espalhar a mensagem da não-violência, da paz e da amizade entre os povos, além de ter sido sublime foi uma necessidade vital naquela hora. Com a humanidade aturdida, ameaçada, com a perspectiva direta da aniquilação nuclear, ele foi um farol e mensageiro do amor. A vida do Acharya Tulsi e seu estilo de trabalho, também, foram únicos. Ele era um líder religioso e um asceta. Usava o manto de uma seita particular - Svetambara Terapanth. É difícil para uma pessoa fora da Índia conceber as limitações e o esforço heróico que se impuseram para que ele tentasse trazer a paz à um mundo dilacerado por conflitos e violências. Ele caminhava descalço e não aceitava refeições que fossem cozinhadas especialmente para ele (essas são regras que os monges jainas tem de seguir). Ele não fazia uso de um ventilador para se refrescar do calor escaldante nem usava roupas de agasalho para proteger seu corpo dos rigores do frio. E para além destes sinais externos de restrição, Acharya Tulsi tinha que lutar contra a tenacidade e o conservadorismo de uma tradição religiosa e enfrentar a sua dura resistência sempre que introduzia uma inovação. A julgar pelas precárias condições em que tinha que trabalhar (mas, ainda assim, conseguiu unificar as forças da não-violência) nós podemos dizer, com certeza, que ele era um líder espiritual muito diferente. Só quem teve a sorte de passar um dia com esse santo inigualável pode perceber o quanto ele estava tentando promover uma transformação psicológica em massa com o instrumento do Anuvrat (votos básicos). Suas assembleias matutinas eram, verdadeiramente, uma reminiscência das celebradas por Mahatma Gandhi. As pessoas de todos os setores da sociedade se reuniam aos milhares para ouvi-lo. Para as vastas multidões a mensagem  do Acharya Tulsi era uma convocação contra o ódio e a violência disseminada em todo o mundo em nome da religião. Sua convicção era que, se o indivíduo se transforma, a sociedade, a nação e o mundo, naturalmente, se transformam. Então, ele conheceu pessoas, grupos de indivíduos comuns e líderes, e persuadiu-os a se comprometerem a aderir a um código básico de moral, isso para o bem de uma causa maior, a sobrevivência humana. A pacificação ou a resolução de conflitos se manifestaram em todos os níveis, ininterruptamente. Ele visitou côlonias harijans*, conheceu "os nossos irmãos" muçulmanos e conversou com as famílias - exortou  a que cada indivíduo fizesse  uma oferenda de todas as suas fraquezas e transgressões no altar do Anuvrat que simboliza a pureza interior e a elevação espiritual.

* harijans (tradução: filhos de Hari / Vishnu ou filhos de Deus ) - é um termo popularizado pelo líder revolucionário indiano Mahatma Gandhi para referir-se aos dalits (considerados, tradicionalmente, "os intocáveis". Harijan ou dalit é pois qualquer pessoa pertencente a uma ampla gama de grupos hindus da  casta mais baixa (shudra) e os indivíduos  que são expulsos de sua casta por violarem as suas regras ou cometerem delitos graves.





Sua Contribuição Para a Sociedade

Acharya Tulsi estabeleceu vários programas de educação. Ele deu início a que as sadhvis (freiras), a quem, tradicionalmente, era negado o benefício da instrução, tivessem acesso ao ensino tanto quanto os monges. Historicamente, este foi um passo radical e a partir daí sadhvis podiam estudar disciplinas tais como metafísica jaina, filosofia, psicologia, estudos comparativos de filosofias orientais e ocidentais, história, literatura, etc. Foi, também, o fundador do Instituto Bharati Jain Vishva*, em Ladnu.


Instituto Bharati Jain Vishva (ou Jain Vishva Bharati University) - é um instituto de ensino e pesquisa, criado em 1991 pelo Acharya Tulsi. Ele foi o primeiro Anushasta (preceptor) do Instituto e Acharya Mahapragya seu sucessor. O Instituto foi reconhecido como projeto de grande envergadura e por isso sobre recomendação do governo da Índia ganhou o status de Universidade.

Devido a sua preocupação com a sobrevivência humana Acharya Tulsi organizou três conferências internacionais de grande sucesso que visavam a paz e a não-violência. Respectivamente em Ladnu (em 1988), Rajsamand  (em 1991) e, novamente,  em Ladnu (em 1995).

A fim de espalhar a sua mensagem de Anuvrat, Tulsi caminhou descalço por toda a Índia, uma vez que os monges jainas não podem usar transporte ou sapatos. Ele andou cerca de cem mil quilômetros através de terrenos acidentados, em estradas poeirentas e trilhas de areia no intuito de alertar e inspirar milhares de pessoas a viver uma vida de paz baseada na ahimsa. Ele promoveu a reconciliação entre várias religiões, iniciando uma série de diálogos inter-religiosos. Ele encorajou seus discípulos a servirem harijans e trabalharem para sua elevação. Devido a isso, uma nova organização chamada Bhartiya Sanskar Nirman Samiti surgiu para proporcionar uma vida melhor a eles. Centenas de harijans e pessoas pertencentes a setores inferiores da sociedade renunciaram a drogas e álcool em resposta ao apelo de Acharya Tulsi para a abstinência total. Para promover a harmonia entre as religiões visitou  igrejas, templos e mesquitas; convidava os representantes dessas religiões para tomarem seu lugar e falarem sobre os princípios de suas tradições religiosas. No curso de suas longas caminhadas e reuniões com as pessoas percebeu que apenas as pregações não produziam os resultados desejados. Ele acrescentou Preksha Meditacão e Jivan Vygian (Ciência da Vida) para sua missão de transformação interior dos indivíduos, principalmente para as gerações mais jovens.


Acharya  Tulsi Renuncia

No dia 18 de fevereiro de 1994, em Sujagarh, uma importante cidade do distrito de Rajasthan foi o local de Maryada Mahotsava (um festival espiritual organizado, anualmente, para avaliar o progresso da observância dos votos de monges, freiras, samans, samanis, devotos, sob os auspicios do Acharya da Ordem Religiosa Jain Terapanth). Milhares de pessoas de todas as partes da Índia, bem como do exterior tinham se reunido no enorme estádio da cidade no período da tarde. Como de hábito nessas ocasiões, Acharya Tulsi faria um discurso. De repente ele deu um novo rumo ao seu assunto e surpreendeu o povo, declarando que estava renunciando ao seu posto de líder em favor de Yuvacharya Mahapragya. Este foi um passo sem precedentes na história da tradição religiosa jaina. Um Acharya pode nomear seu sucessor, porém nunca havia acontecido na tradição jaina Terapanth de um deles abdicar de sua liderança em prol de outrem. Não menos atônito ficou o próprio Yuvacharya Mahapragya. Acharya Tulsi acenou para Yuvacharya Mahapragya a fim de que se levantasse. Este, com as mãos postas num gesto de humildade obedeceu. Acharya Tulsi, então, fez  a afirmação histórica: "De acordo com a nobre tradição Terapanth Dharm Sangh, os Acharyas nomeam  os seus sucessores, no entanto nenhum dos meus antecessores os viu elevados à essas posições durante suas vidas, no entanto eu quero ver isso acontecer. Por isso instrui Yuvacharya Mahapragya para assumir as rédeas da liderança jaina Terapanth. Sinto-me relaxado agora. De hoje em diante serei conhecido, somente, como "Saint Tulsi" (Santo Tulsi) e gostaria de me dedicar ao serviço da humanidade." Foi um ato de renúncia raro. Este evento mostrou a sua coragem e sacrifício extraordinário. Austeridade, estoicismo, renúncia sempre foram marcas incontestáveis da vida de Acharya Tulsi. Ele não tinha residência fixa e estava sempre em marcha; não tinha também, qualquer propriedade ou riqueza. Ele foi uma fonte de sabedoria, erudição e compaixão. Mesmo na idade madura de 83 anos ele vibrava de energia e entusiasmo; todo o seu ser exalava amor e compaixão. Ele colocava a si mesmo (a sua humanidade) acima de tudo; acima de seitas  e hierarquias. Estas sempre foram suas palavras: " Eu sou primeiro um ser humano... e qualquer outra coisa, depois."



Etapa Final da Vida de Acharya Tulsi

Apesar de sua idade avançada e já um tanto débil sua saúde ele decidiu continuar a sua marcha. Um asceta jaina não pode estar parado, deve seguir sempre em frente. Assim, ele anunciou a Chaturmas de 1977 para Gangashahar (Bikaner). Pela primeira vez  após Yuvacharya Mahapragya ter-lhe sucedido, Saint Tulsi decidiu chegar aquela cidade sem ser na companhia de seu sucessor. Eles tomaram diferentes itinerários e seguiram em horários diferentes. Enquanto Acharya Mahapragya deixou Ladnu muito mais cedo e embarcou em sua jornada circular cobrindo tantas aldeias quanto podia, Saint Tulsi optou por ficar para trás em Jain Vishva Bharati por algum tempo para descansar e meditar. Só mais tarde juntou-se com Acharya Mahapragya em uma vila a poucos quilômetros de Bikaner. O espetáculo daquela reunião novamente encheu os corações de centenas de seus devotos com alegria. Foi um momento inesquecível. Ninguém sabia, nem mesmo  Acharya Mahapragya, que era a etapa final da longa jornada espiritual do santo Tulsi. Ele decidiu ficar em retiro por uma quinzena. Passou seu tempo na tranquilidade fazendo sadhana e meditação numa casa situada a pouca distância de Terapanth Bhavan (Casa Terapanth). Entretanto, Acharya Mahapragya e ele passavam alguns minutos juntos todos os dias. Os devotos de Tulsi estavam desejosos para verem o seu guru. O seu retiro chegou ao fim no dia 23 de junho de 1997. Saint Tulsi era uma pessoa dinâmica e alegre. Ele concordou em ir para Terapanth Bhavan onde daria darshan à milhares de devotos que o aguardavam. Ele caminhou até Bhavan e foi recebido calorosamente por Acharya Mahapragya. Tulsi o abraçou afetuosamente. Seu rosto resplandecia de felicidade.  As pessoas viram os dois caminhando juntos, alguns passos, de mãos dadas pela sala. Em seguida, Saint Tulsi entrou em seu quarto, sentou-se na prancha de madeira para relaxar e meditar. Instruiu Acharya Mahapragya e Sadhvi Pramukha Kanakprabha* e outros para irem descansar. Então, veio um devoto que desejava falar com ele e entregar-lhe uma carta. Atendeu-o e, depois, pediu os óculos para poder ler a carta... mas o momento destinado para a partida de sua alma havia chegado. Num instante deixou seu corpo, que tombou um pouco. Foi um fim abrupto de uma vida gloriosa que teve um objetivo. A renúncia do corpo por Saint Tulsi foi tão súbita, inesperada e comovente como foi sua renúncia de seu Acharyaship (liderança da seita jaina Terapanth). O mundo jaina ficou mergulhado em tristeza. A notícia se espalhou como fogo e milhares de pessoas invadiram Bikaner; queriam ver, pela última vez aquele homem santo. Uma grande multidão que incluía devotos, estadistas, homens de todas as castas e camadas sociais, políticos e eminentes líderes jainas se juntaram para uma última marcha em sua homenagem. Seu corpo foi colocado em um vaikunthi especialmente confeccionado para ele e levado para um lugar especial para ser cremado. Durante o crepitar das chamas as pessoas recitavam e cantavam os textos sagrados jainas.

Embora Saint Tulsi não está mais, fisicamente, conosco viverá para sempre através de sua mensagem e sua contribuição para a felicidade humana. Não podemos fazer outra coisa senão agradecer.

MAIS IMAGENS  DE ACHARYA TULSI




















segunda-feira, 19 de outubro de 2015

RELIGIÃO JAINA - Escrito por Satish Kumar


RELIGIÃO JAINA

Escrito por Satish Kumar



Satish Kumar

O jainismo é uma das grandes tradições religiosas da Índia, com milhões de adeptos e dezenas de milhares deles espalhados por todo o mundo. A não-violência para com os seres humanos, bem como para com os animais é uma das contribuições fundamentais que a filosofia jaina deu ao mundo. Mahatma Gandhi e Albert Schweitzer - tomando, apenas, dois exemplos - foram fortemente influenciados pela conceito de não-violência jaina; as origens do vegetarianismo, também, são creditadas ao jainismo.

Segundo os biólogos jainas existem 8,4 milhões de espécies vivas na Terra. Incrivelmente, esta longa lista de espécies foi elaborada pelos jainistas há mais de 2.000 anos atrás. Ela inclui águias, cisnes, baleias, tigres, elefantes, cobras, vermes, bactérias, fungos, ar, água, fogo, pedras e tudo o que é natural e vivo. Os jainistas são animistas* - para eles, tudo que é natural (que pertence a natureza) está vivo, e toda vida é sagrada. Qualquer tipo de dano a qualquer forma de vida deve ser evitada ou minimizada. Claro, o sustento de uma forma de vida depende da morte de outra, mas os seguidores do jainismo obedecem a prática de limitar a destruição de vidas, mesmo que para a sua sobrevivência.

*Animismo é a visão de mundo em que as entidadesnão-humanas (animais, plantas, objetos inanimados ou fenômenos) possuem uma essência espiritual. O animismo abrange a crença de que não há separação entre o mundo espiritual e físico (ou material) e de que existem almas ou espíritos, não só em seres humanos, mas também nos animais, plantas, rochas, características geográficas (como montanhas ou rios) ou outras entidades do meio ambiente natural, como o trovão, o vento e as sombras. Exemplos de animismo podem ser encontrados no xintoísmo, no serer, no hinduísmo, no budismo, no jainismo, na cientologia, no  paganismo e no neopaganismo.

Os seres humanos são apenas uma dessas 8,4 milhões de espécies. Eles não têm mais direitos do que qualquer outra criatura. Todos os seres vivos, sejam eles humanos ou não-humanos, têm o mesmo direito à vida. E não só os seres humanos não têm direitos absolutos - de destruir, controlar ou subjugar outras formas de vida - como, também, têm obrigações adicionais de praticar a não-violência e serem humildes em face do fenômeno misterioso, glorioso, abundante e extraordinário do mundo vivo.




Tirthankara Parshvanatha ladeado pelas divindades protetoras, o casal de cobras Padmavati e Dharnendra

Uma história expressa melhor a atitude jaina para com os animais. Uma vez Parshvanatha, um jovem príncipe que estava noivo chegou com sua comitiva de casamento a casa de sua futura consorte. Ao aproximar-se da residência viu um engradado onde havia alguns animais amarrados à espera de serem abatidos. Chocado com os gemidos dos animais o príncipe perguntou: "Porque esses animais estão sendo mantidos nessas condições tão cruéis?" Seus assessores responderam: "Eles serão mortos para serem servidos no banquete suas bodas."

O jovem príncipe encheu-se de compaixão. Ao chegar a casa foi falar com o pai da princesa: "Todos os animais presos para serem abatidos por causa da festa de casamento devem ser libertados, imediatamente".


- "Por que? A vida dos animais existe para o prazer dos seres humanos. Os animais são nossos escravos e nosso alimento. Como pode haver uma festa sem carne?!", argumentou o pai.

O príncipe Parshvanatha ficou indignado. Ele não podia acreditar no que acabara de ouvir. Exclamou: "Os animais têm alma, têm consciência, eles são nossos amigos e parentes, eles são nossos ancestrais. Eles desejam viver tanto quanto nós; eles têm sentimentos e emoções; têm amor e paixão; eles temem a morte tanto quanto nós tememos. Seu instinto de vida não é inferior aquele que nós temos. Seu direito a vida é tão fundamental quanto o nosso. Eu não posso me casar, eu não posso amar, eu não posso ser feliz sabendo que animais são escravizados e mortos." Sem mais delongas ele rejeitou os planos para seu casamento, descartou a vida confortável de um príncipe e respondeu ao chamado interior para sair e despertar as massas adormecidas que tinham sido condicionadas a pensar de forma egoísta e a matar animais para seu prazer e conforto.


De acordo com a história o reino animal recebeu Parshvanatha como salvador dos fracos e da natureza. Ele falava bondosamente e todos se reuniam em torno dele. As aves pousavam nos galhos das árvores próximas; os peixes vinham para o canto do lago onde Parshvanatha estava sentado. Elefantes, leões, raposas, coelhos, ratos, insetos e formigas prestavam homenagem a ele. Um dia encontrando Parshvanatha sendo encharcado pela chuva forte da monção, o rei das serpentes apoiou-se em sua cauda e criou um guarda-chuva com sua enorme cabeça.


Milhares e milhares de pessoas nas aldeias, vilas e cidades eram movidas pelos ensinamentos de  Parshvanatha. Eles renunciavam a carne e assumiam a tarefa de zelar pelo bem-estar animal. A princesa com quem Parshvanatha ia se casar ficou tão inspirada que decidiu permanecer solteira para dedicar-se ao cuidado dos animais. Depois de ter perdido a filha e o futuro genro para a causa da compaixão animal, o  rei ficou angustiado, mas, ainda assim, experimentou uma transformação. Ele anunciou que todos os animais deveriam ser respeitados em seu reino e que não haveria caça, nem armas, nem animais em cativeiro, nem animais de estimação.


Há vinte e quatro grandes libertadores na linhagem jaina. Adinath foi o primeiro. Parshvanatha foi o vigésimo terceiro. Tais libertadores são chamados de Tirthankaras. O vigésimo quarto foi Mahavira que viveu há 2.600 anos. Ele revigorou a religião jaina estabelecendo como seria sua prática até os dias atuais. Todos os vinte e quatro grandes libertadores têm um animal associado a eles, simbolizando que nos ensinamentos jainas também são prioridade. De acordo com os ensinamentos jainas o amor não é amor se ele não inclui amor pelos animais. Que tipo de compaixão é essa que adora e reverencia a vida humana, mas ignora o massacre de animais? Este é o desafio dos jainistas.

Mahavira foi chamado Jina que significa "o conquistador dos inimigos internos" tais como o ego, orgulho, raiva e ilusão. Daí, os seguidores de Jina serem chamados de "jainistas".

Mahavira que nasceu como príncipe, simplesmente, percebeu que há outros valores na vida sem ser a busca interminável de fama, fortuna e poder. Na verdade, fama, fortuna e poder são portadores de "infelicidade". Eles criam medo e restringem a liberdade. Estas noções não se basearam em nenhuma teoria intelectual ou filosófica; foi baseada, sim, em sua própria experiência. Ele deixou o reino para ir para a floresta em busca de sabedoria, liberação e iluminação. Após uma longa vida de meditação e contemplação, Mahavira chegou à conclusão de que existem três elementos essenciais que trazem a verdadeira libertação da alma. Ele os chamou de ahimsa (não-violência), sanyama (simplicidade) e tapas (a prática de austeridades).



Ahimsa (não-violência)

Mahavira disse que a não- violência deve começar na mente. A menos que a mente seja compassiva, não é possível a não-violência. A menos que haja paz no mundo interior, não se pode praticar a não-violência no mundo externo. Se a nossa mente condena outras pessoas, mesmo que a nossa língua pronuncie palavras doces, isso não é não-violência. As sementes da não-violência vivem dentro da consciência interior. Manter a consciência pura é, portanto, parte essencial da doutrina jaina. A consciência pura significa a consciência incorruptível, não contaminada e nem entretida com o desejo de controlar os outros.

Por que somos violentos? Os jainistas responderiam que é porque as pessoas desejam controlar os outros. As pessoas dizem: "Nós somos possuidoras de tudo aqui. Este mundo existe para nosso benefício". Aqueles que comem carne dizem: "Os animais estão aqui para nosso alimento."  "Tudo é para nós e nós somos os senhores da natureza." Esta é a violência da mente, o que leva a violência física.

Mahavira viu o mundo como um lugar sagrado. Os pássaros, as flores, as borboletas e as árvores são sagradas; os rios, o solo e os oceanos são sagrados. A vida como um todo é sagrada. A nossa interação com as outras pessoas e com o mundo natural deve basear-se numa confiança sagrada e numa profunda reverência pela vida de todos. A não-violência da mente deve ser vertida para a maneira como nos comunicamos.

Um discurso prejudicial, duro, falso, desnecessário, desagradável, ofensivo é violência. O uso habilidoso da linguagem é uma virtude sagrada. Mahavira insistiu que temos de compreender, plenamente, os outros antes de falar. A linguagem  pode expressar, apenas, a verdade parcial; portanto, a não-violência é um guia essencial para as palavras que pronunciamos. Neste contexto, Mahavira dá um alto valor ao silêncio. O monge jaina é chamado "muni" que significa "aquele que é silencioso".

A não-violência da mente e do discurso leva à não-violência da ação. Os fins não podem justificar os meios. Os meios devem ser compatíveis com os fins. Portanto, toda as ações humanas tem que ser amistosas, compassivas e não agressivas. Não causemos nenhum dano. Com relação a isso, não façamos concessões dizendo "mas" ou "se". Assumamos um compromisso. A não-violência de Mahavira é o amor incondicional por todos os seres.


Sendo assim, a não violência é o princípio mais importante dos jainistas. Todos os outros princípios derivam dele. A não-violência está inserida do primeiro até o último. Porque toda a vida é sagrada não podemos violar ou tirar vantagem das formas de vida  que são mais fracas que nós. Ahimsa é muito mais do que "Viva e deixe viver"; é "Viva e ame".



Sanyama (Simplicidade e Moderação)

O segundo princípio é sanyama que significa simplicidade, autocontrole, moderação e frugalidade.


Sentir-se satisfeito com pouco é sanyama. A ideia de que tudo o que temos, ou por mais que tenhamos, nunca é suficiente é uma fonte de angústia. Os jainistas são levados a guiar-se, não, pelo"mais e mais", porém pelo "isto é suficiente".


Para os jainistas não há nada faltando no mundo. Há abundância na natureza. Só quando queremos possuir, controlar, dominar, criamos escassez. Porque não temos tudo, queremos sempre mais. Esta possessividade é a fonte de escassez. No momento em que estamos satisfeitos e não queremos controlar e possuir temos abundância. Paradoxalmente, esta abundância, de acordo com os jainistas, só está disponível para aqueles que aprendem a viver dentro dos limites de suas necessidades.


Tapas (a Prática Espiritual de Purificação, Austeridade, Sacrifício e Jejum)

O princípio de tapas (literalmente "calor" ou de auto-purificação é uma das contribuições mais significativas da religião jaina. Assim como os seres humanos purificam seu corpo físico, também, precisam purificar sua alma. A mente fica poluída com pensamentos nocivos. A consciência se torna contaminada pelo ego, ganância, orgulho, raiva, medo. As almas sofrem por causa dos desejos, apegos e angústias. Mahavira, então, propôs formas de purificarmos a mente, a alma e a consciência; a isso chamou de "tapas".

O jejum, a meditação, a moderação, a peregrinação e o serviço ao próximo estão incluídos na categoria de tapas. É uma espécie de exercício da alma para que o mundo interior se mantenha saudável e puro.


Há quatro práticas a que o jainista aspira a fim de alcançar a libertação interior. A primeira é satya (verdade), que significa compreender e perceber a verdadeira natureza da existência e a verdadeira natureza de si mesmo. Significa aceitar a realidade como ela é - sendo fiel a essa realidade, vendo as coisas como são, sem julgá-las boas ou ruins. Significa "Não mentir", em seu sentido mais profundo: não tendo ilusões sobre si mesmo. Enfrente a verdade sem medo. As coisas são como são. Um pessoa veraz vai além das construções mentais e percebe a existência tal qual é.


Viver na verdade significa que devemos evitar manipular as pessoas ou a natureza, porque não há uma verdade única que todas as mentes possam apreender ou a língua possa expressar. Ser verdadeiro envolve ser humilde e aberto à novas descobertas e, ainda, aceitar que não existe nenhuma descoberta final, ou definitiva. A verdade é o que é: devemos aceitar o que é como é, falar dele como ele é e vivê-lo como ele é. Qualquer indivíduo ou grupo que reivindica saber toda a verdade está, por definição, enredado na falsidade. 
Finalizando: a existência é um grande mistério.

A segunda é asteya (não roubar), que significa abster-se de adquirir bens ou serviços além das necessidades essenciais. É difícil saber o que são as necessidades essenciais de cada um, por isso a religião jaina pede que avaliemos, analisemos e questionemos, diariamente, o que são nossas verdadeiras necessidades e o que é ambição. A distinção entre necessidade e ganância pode ser camuflada, portanto, o exame de nossas necessidades deve ser realizado com honestidade. O princípio de asteya inclui "não roubar" uma série de coisas. O entendimento jainista deste preceito vai mais longe do que qualquer definição legal. Se tomamos da natureza mais do que as nossas necessidades essenciais requerem, estamos roubando a natureza. Por exemplo, devastar uma floresta inteira seria visto como uma violação dos direitos da natureza e como roubo. Da mesma forma, uma sociedade em que uns possuem excesso de alimentos, roupa, habitação, e outros não, significa que uns privam outros desses requisitos essenciais e isso é roubo. Se estamos usando os recursos finitos a uma velocidade maior do que podem ser repostos, então, estamos roubando as futuras gerações. Os jainistas dão e depois recebem. Receber antes de dar é roubo.


A terceira é bramacarya. Este princípio tem sido intimamente associado com a conduta sexual adequada: bramacarya é o amor sem luxúria. Para os monges bramacarya significa abstinência total e para o leigos significa fidelidade no casamento. Quaisquer pensamentos, palavras ou atos que aviltam, rebaixam ou abusam do corpo são contra o princípio de bramacarya. O corpo é o templo do ser puro, portanto, nenhuma atividade  deve ser realizada que profane esse templo.


A quarta é aparigraha (não-possessividade) que significa a não acumulação de bens materiais. Se ninguém reter ou acumular bens, outros não ficarão privados deles. Aparigraha significa partilhar e viver sem ostentação, sem exibir sua riqueza. O vestuário, a alimentação, os móveis da casa devem ser simples, elegantes, mas mínimos. "Simples os  meios, ricos os fins" é a prática jaina. Quando gastamos muito tempo cuidando de nossas posses não há tempo para cuidarmos de nossa alma.


Aparigraha significa não adquirir o que não é necessário, reconhecendo que tudo o  que granjeamos se unirá a nós com força, nos aprisionando. Livre-se das aquisições que não são essenciais e sinta-se liberto. Para os jainistas é um imperativo moral viver simplesmente para que outros possam, simplesmente, viver.


Há cerca de 5 milhões de jainistas, a maioria no noroeste da Índia. Fora da Índia, jainistas são encontrados na África Oriental, Grã-Bretanha e EUA. Quase todos  eles são de origem indiana. Os jainistas não convertem os outros à sua religião. Eles acreditam que não há uma única verdade, há muitas verdades. Este sistema de múltiplas verdades é conhecido como "Anekantavada" que significa, simplesmente, não há, apenas, uma conclusão, uma realidade única, um deus. Nem monismo, nem dualismo, mas o pluralismo é o cerne da filosofia jaina.


Alguns jainistas são adoradores de imagens. Estes construíram templos gigantescos de rara beleza e arquitetura exótica. Templos como o de Ranakpur - Mt. Abu, no Rajastão, são exemplos de realizações artísticas e esculturais. Há outros jainistas que não seguem o caminho da adoração de imagens. Para eles, a construção de templos e rituais de adoração à divindades esculpidas é demasiado mundano. Eles são os minimalistas da tradição jaina e preferem o caminho da meditação.




Templo de Ranakpur


sábado, 3 de outubro de 2015

COMPREENDENDO O QUE É AMOR - Pujya Gurudevshri Rakeshbhai


COMPREENDENDO O QUE É AMOR

Prédica de Pujya Gurudevshri Rakeshbai



Pujya Gurudevshri Rakeshbhai


Amor - uma palavra que é usada para descrever uma das emoções humanas mais naturais. No entanto, esta mesma palavra, muitas vezes, é mal interpretada e aviltada. Pujya Gurudevshri nos convida a examinar o amor que experimentamos e compará-lo com aquele que é definido pelos seres iluminados - o verdadeiro amor.

O Dharma (a religião, a doutrina ou o caminho para a Verdade Superior) é o resumo do amor puro. O mundo acredita que o amor só é possível entre seres compatíveis, que tenham um mesmo estilo de vida ou sejam da mesma opinião. No caso de uma relação Guru-discípulo, existe, entre os dois, uma diferença categórica. O discípulo se identifica com o seu corpo e é um escravo de sua mente, já o Sadguru* está além da identificação com o corpo e transcendeu a mente. Embora, haja uma diferença enorme entre esses dois estados de ser (o do discípulo e do guru), o amor pelo Sadguru tem a capacidade de dissolver todas as distâncias.

* Sadguru ou Satguru significa verdadeiro guru, verdadeiro mestre. O título significa que os estudantes têm fé que o guru é confiável e os guiará até o moksha ou iluminação ou a paz interior. Este conceito é baseado em uma longa e importante linha de conhecimento e entendimento das filosofias religiosas indianas - a de que o mestre, o guru é um sagrado guia para a autorrealização.

Quando dois amantes se encontram seus olhos brilham, parece haver música no ar e seus corações dançam de alegria. Mas esse brilho no olhar de ambos dura somente enquanto estão juntos; quando estão longe um do outro, o brilho desaparece. No entanto, a luz que se acende no coração do discípulo ao conhecer o Sadguru não se extingue mais. A melodia não cessa de tocar. Toda a sua vida se torna uma dança.

O Dharma evolui quando o discípulo está cheio de amor pelo Sadguru. Há muitos exemplos que ilustram isto. Quando Sariputra se inclinou diante do Senhor Buda, quando Ali sentou-se  aos pés de Maomé, quando Mansur buscou refúgio em Junaid, quando Gautamswami se aproximou de Bhagwan Mahavira, quando Pujyashri Sobhagbhai foi até Param Krupalu Dev (Srimad Rajchandra), o que resultou disso foi o nascimento do Dharma nos corações destes discípulos.

O Dharma se manifesta quando o amor do discípulo pelo Sadguru floresce, convertendo-se na causa para a realização do Ser Supremo. Portanto, a introdução do discípulo  no Dharma - o caminho para a Verdade Superior - se dá através do amor pelo Sadguru. O amor pelo Sadguru cresce gradualmente e acaba por se estender a todo mundo. Portanto o amor é precioso.



Equívocos Sobre o Amor

Apesar do amor ser algo glorioso, para alguma pessoas, ele é uma emoção pecaminosa, para outras, é  causa de dor. Por causa disso essas pessoas são incapazes de acreditar que o Divino possa ser alcançado através do amor.


Quando se compara o amor com pecado, aí existem duas conotações negativas: 


- a  primeira é  que você subtrairá o amor das orações porque uma oferenda ao Senhor não pode ser contaminada com "pecado". No entanto, as orações sem amor irão torná-las secas, fracas e sem vida. Tornar-se-ão meras formalidades. A força vital da oração é o amor... mas se você o rotula como sendo pecado... Inevitável que as portas da oração se fecharão. As orações morrerão lentamente. Esta é uma das razões porque o mundo está se tornando desprovido de Dharma.


- em segundo lugar, se o amor é visto como uma impureza, será encarado como um crime e dará origem a sentimentos de culpa e auto-desprezo. Mas o amor é uma virtude inerente a todos os seres e considerá-lo um pecado tornará a vida difícil. Toda relação na sociedade será vista através dos olhos do desprezo.


Para alguns o amor é doloroso - isso não é por causa do amor em si, porém por causa das impurezas em seu amor. É verdade que o amor pode ser como néctar ou pode se transformar em veneno nas mãos de  alguém imaturo e leviano. A experiência de alegria ou de dor no amor depende somente de você.



Luxúria Versus Devoção

O amor quando dirigido de forma superior é conhecido como devoção, enquanto que o amor com que o mundo está familiarizado, o que é dirigido de forma inferior, é chamado de luxúria. Embora, ambos, sejam formas de amor, eles são contrários em sua natureza. O amor na forma de luxúria é doloroso e cria o inferno. Sublimado em devoção é feliz e divino. Você colhe o que planta. Você, com certeza, suporta ou se regozija com as consequências do tipo de amor que tem estimulado.


Portanto, para experimentar alegria no amor, há que dirigi-lo, sabiamente, para a forma superior. A forma inferior jamais poderá fazê-lo feliz. O aprisionará e é certo que lhe trará infelicidade em algum momento ou outro. Aprenda com seus erros; do contrário você será vítima da luxúria sempre e sempre. Ela reduz você a um ser mendicante de amor. Os amantes dessa forma inferior de amor suplicam amor e felicidade àqueles que, também, são mendicantes. Daí vê-se que nenhum deles tem nada a oferecer. Como, então, poderão ser felizes?





A Etiqueta do Amor

O amor é dar e não mendigar. Você só pode amar os outros se estiver cheio de amor por si mesmo. Quando seu coração está cheio de ódio, medo, ciúme, egoísmo, antagonismos e expectativas, o amor não ascende dentro dele porque sua atenção está dirigida para estas negatividades. E quando você não sente o amor ascendendo dentro de seu coração, então rotula de amor somente aquilo que é capaz de sentir - luxúria, possessividade , apegos mundanos, etc. As pessoas vivem sob o mesmo teto e afirmam amar umas as outras; ainda assim procuram o amor e a felicidade em outro lugar? Isto é realmente amor? Procure certificar-se!  O que está no cerne daquilo que você chama de amor? Você, realmente, ama alguém? O que você tem dado para o outro em prol desse amor? Você abandonou suas expectativas egoístas no amor? Ou você se rendeu ao seu ego?


Quando você fala de amor se refere àqueles de quem recebeu alguma coisa. Para você, o amor tem sido um "tomar" ou um "exigir" dos outros. O verdadeiro amor não impõe condições, nem exige nada. Onde há o desejo de tomar ou de exigir não é amor puro - é luxúria. E a luxúria sempre permanece insatisfeita.


A luxúria traz embutida negatividades como o ciúme, etc... E, uma vez assim, num dado momento esse chamado amor assumirá a forma de ódio. Quando o seu ego não está satisfeito ou quando suas expectativas não são atendidas, você pode tornar-se tão violento a ponto de matar o ser amado por quem, a princípio, estava disposto a morrer. Não se surpreenda, pois, quando esse tipo de amor traz-lhe dor.


O verdadeiro amor não pode ser fonte de dor. Os santos  o experimentam como néctar. Eles não apenas enaltecem o amor, mas, o têm como um forma de realização de si mesmos. Se o seu amor dá alegria e paz a todos, então o amor, certamente, não é causa de dor. Tem que haver algo mais do que o amor do tipo que traz dor. Mas você já se perguntou sobre o por que de seu sofrimento? O que é que o causa? São as negatividades. Se o seu coração está repleto do veneno das negatividades, isso contaminará seu amor também. Então o que deve fazer é remover do seu amor o que não é amor: o egocentrismo, o desejo de posse, etc. É isso que dá origem a dor, no entanto, você interpreta mal o amor que sente e quer fugir dele. O Dharma (a religião, a doutrina ou o caminho para a Verdade Superior) o chama, não para que fique longe do amor e, sim, para que você  elimine as negatividades que o corromperam. Os santos pedem-nos para transformarmos o nosso amor, purificarmos o nosso amor  e não para destruí-lo. Pode haver impurezas nesse amor. Mas essas impurezas não são amor. São meras sujeiras e não justificam a rejeição do amor em si.





Abra Seus Olhos

Faça uma transformação fundamental em sua vida. Mergulhe, profundamente,  dentro  de si mesmo e encontre a verdadeira causa da dor. Se há sofrimento, você pode ter certeza que isso não é amor. Elimine todas as negatividades e deixe que seu amor floresça. Isso por si só é o seu dever. Examine o seu amor à luz da compreensão do amor puro dado pelos santos. Abra seus olhos para o que é verdadeiro.

O amor por um Sadguru o ajudará a ver suas negatividades e removê-las. O amor por um Sadguru é o amor por seus ensinamentos, por seus mandamentos e a ânsia de viver em alinhamento com eles. O ouro pode estar impuro, mas continua sendo ouro e não ferro. Ele só precisa ser purificado. Quando passa pelo processo de refinamento, tudo que é inútil se separa e tudo que é útil e puro permanece. Da mesma forma, as impurezas no amor são apenas sujeira. Quando seu amor passar pelo calor da sabedoria e dos ensinamentos de um Guru, as suas impurezas se desprenderão e você experimentará o verdadeiro amor.

Quando o amor se transforma e se manifesta em sua forma pura as portas do Divino se abrem. Este despertar é Dharma, após o qual tudo parece maravilhoso e sublime. Mesmo aqueles a quem não gostava você os tomará como seres sagrados e dignos.

Invista seu amor no mais alto. Pode ter certeza que você jamais se arrependerá deste investimento. Na verdade, você já tem amor, tudo o que precisa é dirigi-lo para o Divino. Atreva-se a embarcar nesta viagem. Embora você comece com o amor que está cheio de impurezas, ao trilhar o caminho do amor para o Sadguru - ao seguir seus ensinamentos e permanecer em oração - certamente, chegará ao destino do amor puro. E o amor puro é um estado livre de luxúria, uma vida de verdadeiro Dharma, uma experiência ininterrupta de bem-aventurança e realização do Supremo.