terça-feira, 30 de junho de 2015

NAVKAR MANTRA III


 NAVKAR MANTRA

Namo Arihantanam
Namo Siddhanam
Namo Ayriyanam
Namo Uvajjhayanam
Namo LoyeSavvaSahunam

Eso PanchNamoKaro
Savva Pava Panasano
Mangala Nancha Savvesim, Padhamam Havai Mangalam





NAVKAR MANTRA

Eu me curvo às almas liberadas
Eu me curvo às almas iluminadas
Eu me curvo aos líderes religiosos
Eu  me curvo aos mestres religiosos
Eu me curvo a todos os monges do mundo
Essas cinco reverências
destroem todos os pecados
entre todas as coisas auspiciosas esse louvor é o mais auspicioso


MEDITAÇÃO SEGUNDO AS ESCRITURAS JAINAS


MEDITAÇÃO SEGUNDO AS ESCRITURAS JAINAS

por Dr. Rajendra Kumar & Mrs. Neelu Jain




Meditação (dhyan) é o processo de concentrar a mente em um único tema, impedindo-a de vagar. A meditação correta pode ser praticada por uma pessoa que tenha uma constituição física que lhe permita manter uma atividade de pensamentos, ou linha de raciocínio, sem desvios e que se concentre, exclusivamente, sobre a natureza do eu (self). Na verdade, a meditação correta implica esquecer todas as preocupações, desejos e conflitos e estabilizar a mente. Nessa tipo de meditação procura-se conhecer a natureza da alma - reconhecer a diferença entre a alma e o corpo material, e aprofundar-se no que seja o verdadeiro eu. Ela purifica a mente, a fala e o corpo (equilíbrio nos pensamentos, palavras e atos). No entanto, não é de nenhum proveito infligir dor ao corpo - meditar em posturas difíceis - se não existe pureza de pensamentos. Aquele que estabiliza a mente através do processo meditativo alcança a libertação. Quando a alma consegue se desembaraçar de todas as intenções e dilemas, sejam eles auspiciosos ou desfavoráveis, e atinge um estado de absorção imparcial, todos os laços que a prendem ao carma se rompem. 

Existem 4 tipos de meditação:

- a meditação dolorosa (aarta)
- a meditação impiedosa (raudra)
- a meditação justa (dharma)
- a meditação espiritual (shukla)

Os dois primeiros tipos não são muito positivos pois atraem carma indesejável. Já os dois últimos (meditação correta) são bastante benéficos; ajudam a destruir carma.




Meditação Dolorosa


A palavra aarta em sânscrito significa, dor, tristeza. Quando a atividade dos pensamentos giram em torno de temas que causam sofrimento tem-se a meditação dolorosa. Ela se apresenta de 4 maneiras:

- Janya anishtasamiog  - pensamentos persistentes de preocupação  oriundos de situações e eventos desagradáveis e ansiedade por tentar resolvê-los.


- Janya ishtaviyoga - pensamentos persistentes devido a angústia pela perda de alguma pessoa amada, objetos, riqueza, etc. e ansiedade por tentar recuperá-los.


- Janya vedana - pensamentos persistentes devido a impaciência, angústia e agonia diante da doença, etc. e ansiedade para que a saúde seja restabelecida.


- Nidaanaj - pensamentos persistentes devido a desejos por prazeres sensuais e todos os tipos de conforto.





Meditação Impiedosa


A palavra rudra em sânscrito significa inclemente, duro, sem misericórdia. Quando a atividade dos pensamentos giram em torno de temas que causam prazer em pensar ou fazer o mal tem-se a meditação impiedosa. Ela se apresenta de 4 maneiras:

- himsa anand - pensamentos persistentes devido ao prazer de provocar, ferir ou matar animais. Pensamentos persistentes de vingança contra pessoas - prazer em bater, matar ou guerrear. Pessoas cruéis, irascíveis, imorais, não religiosas, passionais entregam-se muito a esse tipo de meditação.


- mrisha anand - pensamentos persistentes devido ao prazer de mentir e enganar os outros. Esse tipo de meditação abrange uma vasta gama de intenções e alternativas baseadas na inverdade.


- chaurya anand - pensamentos persistentes devido a vontade de roubar ou apropriar-se indevidamente da riqueza ou pertences de outra pessoa. Esse tipo de meditação arquiteta como usurpar os bens alheios.



- vishaya samrakshan - pensamentos persistentes devido a planejar esquemas de como usufruir de prazeres sensuais, conforto e como acumular riquezas materiais.


Meditações dolorosas e impiedosas impedem ou dificultam a elevação espiritual. Elas obscurecem os atributos da alma. Fazem com que a disposição natural do verdadeiro eu desapareça e surjam disposições corruptas e enganosas. 




Meditação Justa


Pensamentos  construtivos e sobre uma conduta correta para si mesmo e para os outros é a meditação justa. É uma das causas da purificação da alma. Ao praticar essa meditação em todos os seus aspectos o verdadeiro espírito das três joias jainas que são - fé (ou percepção) correta, conhecimento correto e conduta correta - é alcançado e acontece o desprendimento do carma. A meditação justa é de quatro tipos:


- aajnavichaya - meditação orientada pela doutrina, isto é, meditação sobre a realidade tal como descrito nas escrituras.


- apayavichaya - meditação que envolve pensar  sobre  sobre como ajudar a si mesmo e aos outros a se livrar de vícios tais como apego, aversão, ilusão. 


- vipakavichaya - meditação que implica concentrar-se na natureza e fruição de diferentes tipos de carma, observando  o prazer e a dor mundanos.


- sansthanvichaya - meditação sobre a natureza e a estrutura do universo.


Uma das formas da meditação justa é baseada  na contemplação sobre a alma que reside no corpo. Na realidade, a alma é consciente e tem percepção absoluta e conhecimento. No entanto, ela tem apegos e aversões por conta do carma (relação de causa e efeito). O corpo físico também é uma manifestação do carma. Embora a alma seja distinta do corpo material e é sem forma é dito ter uma forma devido a sua  associação com a matéria. Pensar sobre isso  constitui a base da meditação justa. A meditação justa leva a purificação da alma. As cinco visualizações (dhaaranas) que podem ser utilizadas para esse tipo de meditação são:


- paarthvi - visualização da terra

- aagneyi - visualização do fogo
- vaayu - visualização do ar
- jala - visualização da água
- tattvaroopvati - visualização da realidade

Visualização da terra - consiste em visualizar- criar uma imagem mental - de um oceano  de água pura no meio do universo; sobre o oceano uma enorme flor de lótus dourada de mil pétalas que representa a terra; no centro da flor de lótus um bosque, no bosque uma alta montanha e  em cima da montanha uma enorme pedra; imagine sobre essa pedra um trono de cristal branco. O aspirante deve visualizar-se sentado em posição de lótus no trono de cristal e meditar sobre os meios de destruir o carma.


Visualização do fogo: Sentado no trono de cristal, descrito acima, o aspirante deve imaginar uma flor de lótus branca de dezesseis pétalas subindo de seu umbigo. As dezesseis letras de ouro da escrita alfabeto-silábica devanagari* estão gravadas nas pétalas e a palavra sânscrita "Hram" está escrita no centro da flor. O aspirante deve ainda visualizar um outro lótus de oito pétalas perto de seu coração, considerando que, as oito pétalas representam os oito tipos de carma.


Nota:

devanagari (lê-se devanágari) é uma palavra composta com duas raízes: "deva" que significa divindade e "nagari" que significa urbanidade, polida, cortes.  A escrita devanagari portanto quer dizer - escrita dos deuses ou escrita religiosa sofisticada. O devanagari é um abugida, isto é, um conjunto de sinais utilizados para representar os fonemas de uma língua (Está a meio caminho de um alfabeto e um silabário). Algumas línguas da Índia como o hindi e o sânscrito utilizam o devanagari. O devanagari é escrito e lido da esquerda para a direita.

Em seguida o aspirante deve visualizar fumaça saindo da parte superior da palavra "Hram" e chamas queimando o lótus do coração. Isso simboliza que o carma está sendo queimado. Visualiza, depois, que essas chamas também atingem sua testa. Essas chamas se dividem  em duas metades que atingem o topo da cabeça dos dois lados. Esse fogo triangular acaba por engolfar todo o corpo. Imagina que esse fogo consiste de chamas na forma da letra devanagari "ra". No triângulo de fogo, nos três vértices,  do lado de fora estão inscritos  os símbolos da vida; no lado de dentro  o mantra "Om Hram". O praticante deve pensar que a chama interior está destruindo o carma, enquanto que a chama exterior  está consumindo o corpo; que todo o seu carma e todo o seu corpo são reduzidos a cinzas. Com isso as chamas abrandam.


Visualização do ar - Dando continuidade a meditação acima, o aspirante deve imaginar um poderoso turbilhão. O ciclone em torno dele tem a palavra sânscrita "Swayn" escrita em oito lugares. Cada uma dessas palavras está soprando as cinzas do karma e do corpo. Depois disto a alma se purifica.


Visualização da água - Na fase seguinte o aspirante deve imaginar que nuvens escuras encheram o céu. Há uma tempestade acompanhada de relâmpagos e trovões. Uma poça de água, se forma em torno do meditador. A letra devanagari "pa" está escrita em muitos lugares dessa poça de água. Riachos de água, agora, estão fluindo.  As cinzas cármicas estão sendo lavadas e a alma está sendo, completamente, limpa.


Visualização da realidade - Na fase final , o aspirante pensa que ele é perfeito, onisciente, puro e a alma consciente, livre de todas as associações materiais cármicas. 


Os cinco exercícios acima constituem a meditação justa baseada na realização. Essa meditação contribui para eliminar o carma e gradualmente revela os atributos da alma (conhecimento, percepção, felicidade e energia).


A meditação justa baseada em Mantras é o pensamento concentrado sobre as cinco personalidades supremas (Arihantas, siddhas, acharyas, upadhyayas e sadhu) e sobre a natureza da alma com a ajuda de um som, sílaba, palavra, frase ou texto. O aspirante visualiza um mantra escrito num local pré-determinado, por exemplo, na frente do nariz ou entre as sobrancelhas e concentra-se nele. Nesta meditação o pensamento fixo nas cinco personalidades supremas tem o intuito de inspirar-se nelas para que consiga atingir o mesmo grau de elevação espiritual; dessa maneira o meditador elimina carma e  purifica sua alma. Uma forma fácil de praticar essa meditação é visualizar uma flor de lótus com oito pétalas perto do coração. Em cinco pétalas da flor estão escritas as cinco linhas do Namokar Mantra:


Nós reverenciamos os seres humanos supremos (arihantas)

Nós reverenciamos as almas perfeitas (siddhas)
Nós reverenciamos os mestres espirituais (acharyas)
Nós reverenciamos os sábios acadêmicos (upadhyayas)
Nós reverenciamos todos os ascetas (sadhus)

E nas três restantes pétalas do lótus está escrito em cada uma:


Nós reverenciamos a percepção correta

Nós reverenciamos o conhecimento correto
Nós reverenciamos a conduta correta

O aspirante deve se concentrar no mantra de cada pétala o máximo de tempo possível.


A meditação justa baseada em imagens visualiza o arihanta (o ser humano supremo) sentado na postura de meditação na assembléia religiosa (samavasharan) que tem doze seções. O aspirante se conceentra em que o arihanta possui o quarteto infinito (chatushtaya anant), isto é, a percepção infinita, a felicidade infinita, o poder infinito e está além de todo apego. 


A meditação justa intangível é a meditação em que o aspirante se concentra nos atributos abstratos das almas perfeitas (sidhas). Ele recorda que os siddhas são sem forma, emancipados, serenos, são pura consciência, livre de carmas e estão além de todo apego. Eles possuem os oito atributos: o racionalismo absoluto, a percepção absoluta, o conhecimento absoluto, a igualdade de status, a eternidade, a sutileza, a felicidade infinita e a não interferência. Em seguida, o aspirante deve pensar que ele mesmo é, potencialmente, uma alma perfeita, uma alma suprema (paramaatma), um ser onisciente que é livre de cativeiro cármico.






Meditação Espiritual


A concentração alcançada por uma mente imaculada é a meditação espiritual. A meditação espiritual é composta de quatro estados: múltiplo aspecto (prathakatva savitarka savichar), único aspecto (ekatva savitarka avichar), atividade sutil (sookshma krya apratipaati) e absorção  em si mesmo (vyuparat kriya nivarti).


- Meditação espiritual denominada múltiplo aspecto - é realizada pelo aspirante que tem conhecimento das Escrituras e que está tentando atingir os estágios espirituais mais elevados e por isso procura eliminar a conduta ilusória criadora de carma. O aspirante se concentra no significado dos vários aspectos da realidade.


- Meditação espiritual denominada único aspecto - é a contemplação em um único aspecto da realidade com base no conhecimento das escrituras por um aspirante que já está  num estágio espiritual livre de ilusões. Esse tipo de meditação elimina os carmas destrutivos e leva a onisciência.


Meditação espiritual denominada atividade sutil - é realizada por um onisciente que conseguiu eliminar as atividades brutas do corpo, da fala e da mente e possui apenas atividades sutis. Em tais casos a associação da alma com o corpo é manifestada apenas por movimentos sutis de pontos espaciais da alma.

Meditação espiritual denominada absorção em si mesmo - é realizada por um onisciente que conseguiu eliminar até mesmo a atividade sutil da alma, apesar de sua associação, ainda, com o corpo. Todas as atividades (dos pontos espaciais da alma) cessam nesta meditação. Assim, o afluxo que produz carma, fica paralisado e o onisciente alcança a libertação. 

Estas são, pois, os tipos de meditação de acordo com os ensinamentos jainas.

É interessante notar que, embora os jainistas tenham desenvolvido exercícios meditativos altamente producentes eles, tradicionalmente dão pouca atenção para os caminhos mágicos do despertar, caminhos esses, tão fortemente favorecidos por outras escolas indianas. Por isso, não encontramos nos textos antigos jainas qualquer menção sobre o controle da respiração praticada por yogues (pranayama) ou dos centros místicos da energia psíquica (a kundalini ou os chakras, por exemplo). Os mestres jainas parecem ter sentido verdadeiro repúdio pelos poderes ocultos e as práticas que visam gerá-los; tais técnicas, geralmente, são manipuladas para fins destrutivos - egoísmo, ganância, vaidade, etc. - por isso devem ser evitados.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

IMAGENS DE SIMANDHAR SWAMI



SIMANDHAR SWAMI 


O TIRTHANKARA QUE AINDA ESTA ENTRE NÓS


























INTROSPECÇÃO IMPARCIAL - Pujya Gurudevshri Rakeshbhai


INTROSPECÇÃO IMPARCIAL

Prédica de Pujya Gurudevshri Rakeshbhai



 

Pujya Gurudevshri Rakeshbhai


O Começo da Viagem Espiritual


Primeiramente o candidato deve olhar para dentro de si e reconhecer o seu eu verdadeiro. Somente aquele que esta disposto a romper com sua imagem e abandonar o uso de máscaras pode viajar para dentro de si  e perceber o que, realmente, é.

Uma pessoa pode visitar um templo com regularidade e não ser um amante de Deus; talvez seja mais um amante dos prazeres sensuais. Uma pessoa pode praticar caridade, no entanto, talvez, seja gananciosa. Uma pessoa pode observar jejuns, no entanto seu desejo ávido por alimentos pode não ter diminuído, em absoluto. Uma pessoa pode empreender viagens e mais viagens e, no entanto, ainda não se cansou da transmigração de sua alma. Uma pessoa só pode descobrir a verdade quando olha para dentro de si.

Os iluminados dizem que você esconde tanto de si mesmo para si mesmo que você não é mais capaz de perceber o que você realmente é. Não esconda nada de si próprio. Resgate-se para a luz da consciência; este desmascaramento marca o início de sua peregrinação espiritual. Com um espírito aventureiro, aventure-se a conhecer-se. A medida que você se familiarizar com a realidade do seu próprio eu, sua vida começa a mudar radicalmente. Você descobre que fica difícil viver com suas falhas. Você sente que conviver com suas falhas torna-se tão doloroso que fará um esforço sincero para livrar-se delas. As imperfeições somente tem durabilidade porque você as protege e as mantêm escondidas.

Deixe absolutamente claro o que você é e o que você não é. Somente você pode ter esta visão sobre si mesmo. Ninguém mais poderá fazer isso por você. Somente aquele que é capaz de introspecção sem qualquer preconceito e com manifesta disponibilidade para reconhecer os seus erros é qualificado para a libertação. Isso exigirá muita coragem de sua parte, porque seu ego se recusará a ser eliminado; ele suscitará um motim. Mas a medida em que for se tornando puro, devido à introspecção imparcial  e a aceitação de suas debilidades, você experimentará o silêncio extraordinário, a paz, a coragem e a alegria em seu interior. A semente de genuína ânsia de libertação brotará. Sua vida ascenderá e ficará preenchida com o Divino. Aquele que tem coragem para observar seus próprios padrões de pensamento, extirpar suas falhas e dissolver o seu ego, com certeza, alcançará a libertação.




O Homem Preso a Dualidade


A mente humana está presa na dualidade e sofre devido a isso. O homem sofre porque fica confuso entre o que ele é e o ele que deveria ser. Seu pensamento, desejos e inclinações seguem o que ele é; no entanto suas palavras e o seu comportamento estão em conformidade com o que ele acha que deveria ser. Desse modo ele projeta uma imagem de si mesmo que o leva à dualidade e a hipocrisia. Enquanto existir essa divisão dentro dele e a menos que elimine essa dualidade, ele não terá paz e nem progredirá espiritualmente. Portanto, como um buscador da libertação, sua primeira obrigação é reconhecer, de imediato, o que ele é verdadeiramente.


Do lado de fora de um estúdio de fotografia uma placa anunciava: 



"Aqui tiramos sua fotografia. Temos três tipos:
- fotografia de como realmente você é
- fotografia de como gostaria que os outros o vissem
- fotografia de como desejaria ser"

Um aldeão visitando aquela cidade leu o anúncio e, curiosamente, perguntou ao dono da loja: "Quem iria querer o segundo ou o terceiro tipo de imagem? Não seria natural querer o primeiro?" O fotógrafo respondeu: "Não! Na verdade, as pessoas vêm aqui para obter o segundo e o terceiro tipo porque elas acham que assim ficam melhores. E o senhor, qual delas prefere?" O aldeão respondeu prontamente: "O primeiro tipo." O fotógrafo ficou espantado: "Nunca entrou alguém aqui que quisesse uma foto assim." O homem decididamente, então falou: "Eu quero o primeiro tipo porque eu quero a minha imagem, não a imagem de uma outra pessoa."




Mascarando os Defeitos


Quando o homem olha para dentro de si, descobre instintos animais. Infelizmente, seu ego não permite que aceite esta realidade pois a imagem ideal que tem em mente sobre si mesmo não corresponde com esse real estado bruto e selvagem. Uma vez assim, ele tem duas opções: ou esforça-se para aceitar sua verdadeira imagem ou passa a usar uma máscara. A primeira  opção envolve uma grande quantidade de trabalho, por isso ele prefere escolher a segunda, achando que é mais fácil. Só que, retratando-se como muito melhor do que é de fato ele cria dualidade em sua vida. 


O ser humano fica tão espantado quando a verdadeira realidade lhe é revelada que ele usa máscaras em cima de máscaras para encobrir a fera que existe nele. Como as situações mudam as máscara que utiliza, de igual modo, mudam também; ele tem uma máscara para usar quando está na frente de seu patrão, outra quando está com sua esposa, outra quando está com os filhos e muitas outras quando está com os pais, os amigos, seus mestres espirituais, empregados... e, até mesmo, usa uma máscara quando está sozinho. Tudo isso faz com que ele sofra constantemente de ansiedade e stress.


O homem quando vê avareza em si mesmo, torna-se caritativo com os outros e, dessa maneira, consola-se dizendo que não é ganancioso. Mas, na verdade, sua inclinação de cobiçar riqueza permanece a mesma. Quando fica irritado, ele inventa mil desculpas por assim estar e proceder; o interessante é que não se pergunta por que não evita esse comportamento feroz dali por diante. Enfim prefere se ocupar adornado-se com máscaras... e desse modo vive uma vida de fingimentos e enganos... à toa.




Desmascarando os padrões de pensamento


Se você está desejoso de libertação, deve destruir as falsas imagens que criou sobre si mesmo e aceitar a realidade dos fatos, agora. Isso não é algo tão difícil. Basta começar a conhecer-se. Pode parecer que não, mas o uso de máscaras é difícil; tirá-las não é. Torna-se difícil apenas quando você não está disposto a fazê-lo; quando, por temer a sua fealdade, você prefere viver na ilusão. Só que você não percebe que camuflando essa sua fealdade, nem ela é destruída, nem ela se torna bonita. É tudo maquiagem.  


Examine as suas inclinações. Analise a natureza de seus defeitos. No momento em que surgirem suas fraquezas conscientize-se delas, examine-as como se desenvolvem e averigue quando desaparecem. Anote suas tendências  durante esse tempo e procure corrigir seus defeitos. Se fugir da realidade  você será empurrado por suas inclinações e, quando elas forem más, se moverá, meramente, para criticá-las. Acontece que escondendo-as, justificando-as ou criticando-as elas não serão destruídas. Pelo contrário, elas permanecerão quietas, em silêncio, por algum tempo, porém, depois, surgirão com mais força. Ser vigilante e ampliar a consciência da realidade presente, aí, começa a transformação. Ao reconhecer e aceitar o animal que existe em seu interior você se torna destemido. Esse destemor traz o ímpeto de querer romper o processo de identificação com essas inclinações e padrões de pensamento. A partir daí nasce o observador, a testemunha e, isso, traz transformação real. Mas você tem que experimentar se quiser conhecer a verdade.




Experiências com a Realidade


Tome uma emoção ou uma inclinação: por exemplo, você acredita na não-violência - quer ser não violento - e considera a violência algo deplorável e pecaminoso. Agora, monitore os seus padrões de pensamento por 24 horas para descobrir quando e onde a violência surge. Quando surgirem pensamentos de violência, apenas aceite ser violento. Você perceberá que foi violento quando falou palavras duras para o seu ajudante, puxou as orelhas do seu filho, discutiu com o lojista, competiu com alguém e assim por diante. Lembre-se, você terá que praticar a consciência - o estar consciente em tempo integral - então não tente escapar. Esteja presente.


Você ficará surpreendido ao ver que a medida que cresce a sua consciência com respeito as suas inclinações violentas, essas inclinações, lentamente, começam a diminuir e são substituídas por inclinações de não violência. Todas as negatividades - como a violência surgem apenas por causa de seu desconhecimento. Quando sua energia não se dissipa em tais negatividades, devido a prática da consciência - estar consciente delas - essa energia concentra forças para que a alma evolua. Ela abre um caminho para a libertação, constrói  uma ponte para conectá-lo com o Divino.


Assim, a consciência por si só é o Dharma (caminho para a Verdade superior), o esforço e a determinação de um buscador da libertação. Aquele que desperta para esta dimensão de consciência alcança a paz sem precedentes, um oceano de néctar, torrentes de felicidade e realização do Eu.


Que a força do ser de Param Krupalu Dev Shrimad Rajchandra traga essa consciência para dentro de nossas vidas.


Que a luz da consciência brilhe em nossos corações removendo a escuridão de todos os defeitos.


Que todos progridam no sentido da libertação.




quarta-feira, 10 de junho de 2015

A ESPIRITUAL ARTE DE MORRER


A ESPIRITUAL ARTE DE MORRER 

Por Yogendra Jain



Benção jaina da seita Svetambara Terapantha
ministrada pelo Acharya Dr. Lokesh Muni
para jainista que optou por fazer sallekhana

A morte pode acontecer a qualquer momento. Se você fosse passageiro de um avião que estivesse prestes a cair e não houvesse nenhuma esperança de sobreviver, quais seriam seus últimos pensamentos? Além de querer ficar posicionado da forma mais segura em seu assento você se lembraria da família, da sua vida ou a possibilidade de vida após a morte? 

A arte de viver bem é prescrita por quase todas as religiões, porém o jainismo vai um passo além. O monge budista Bikkhu Jagdish Kashyap disse certa vez: "Eu aprendi muitas coisas do Budismo, mas eu tenho que aprender a arte de morrer em paz do jainismo". As mesmas ideias foram expressas pelo discípulo de Gandhi, Vinoba Bhave*, que, na verdade, escolheu morrer da maneira jaina.


No jainismo, o ritual espiritual de morrer é conhecido como sallekhana (ou santhara, ou samadhi-marana, ou sanyasana-marana). Na velhice, ou quando é portador de uma doença terminal, o jainista pode optar por praticar sallekhana. Ele retira, gradualmente, os alimentos, os medicamentos e quaisquer outros acessórios que lhe mantem a vida; mas o faz de modo que não se sinta perturbado nem em sua paz interior, nem em seu espírito sereno. Orações e a leitura das Escrituras preparam a pessoa para a sua passagem.


Tal prática gera controvérsia no ocidente; os ocidentais consideram difícil a decisão de controlar a própria morte. Em algumas tradições judaico-cristãs a escolha de morrer é considerada um pecado. Esta prática tabu na religião jainista é comum, não só entre freiras e monges como muitos leigos, também, a seguem. Os jainistas acreditam que a alma é uma entidade viva, já o corpo não é. A morte marca a transição desta alma, do corpo atual  para outro - o que se chama reencarnação. Devido a essa passagem de um corpo para outro o jainismo ensina que a morte pode ser abraçada ao invés de temida. Devemos considerá-la de uma forma semelhante como quando trocamos de roupa ou mudamos para uma nova casa.


Diferentemente do suicídio que é, muitas vezes, resultado de uma reação passional ou de emoções desenfreadas uma pessoa que opte por praticar sallekhana  é calma, imparcial e consciente. Tal pessoa não está ansiosa por encontrar a morte, está, sim, disposta a enfrentá-la com graça e auto-controle. Entre os jainistas, preparar-se para a morte é algo que começa cedo e é pensado com frequência. Uma oração jaina diz: "Eu vim a este mundo sozinho e vou deixá-lo sozinho... Até mesmo reis e ministros e pessoas mais poderosas irão morrer um dia...". Isto é afirmado em muitas religiões, de uma forma ou de outra.. Na Bíblia cristã, por exemplo, está escrito: "Todos irão para o mesmo lugar; todos vêm do pó e, todos, ao pó voltarão. (Eclesiastes 3:20). Outra reflexão de textos jainas diz: "Eu amo minha família, meus amigos e esta vida maravilhosa. Agora é hora de separar-me deles e de minhas posses. Ter uma vida humana era uma grande oportunidade; irei me esforçar para nascer, novamente, como um ser humano e continuar o meu crescimento espiritual. Eu devo abandonar minhas paixões negativas de ciúme, raiva, ganância, egoísmo e falsidade".


Diariamente os jainista dizem "Micchami dukkadam" para todos os seres vivos  com que se deparam. Esta frase significa: "Que todos os seres vivos me perdoem por qualquer dano que eu possa ter feito a eles, intencionalmente ou não." Estas, também, são algumas das últimas palavras que um jaina dirá quando em seu leito de morte. Antes do advento da ciência moderna a hora e a causa da morte eram muitas vezes desconhecidas. Os avanços da medicina, agora, dão ao doente terminal a oportunidade de prever quando a morte se aproxima, alerta-o para quanto tempo tem de vida - meses, semanas, dias, ou, mesmo, horas. Quando esta "janela de morte" é clara, pode-se praticar sallekhana, fazendo a transição para a próxima vida de uma forma espiritual e pacífica. O primeiro passo  é tornar-se livre de apegos - mais especificamente, renunciar a todos os laços que o prendem à família, a casa e a posses. Neste ponto, a pessoa pratica os  três votos principais do jainismo: a não-violência, o não-absolutismo e a não possessão. Deve-se orar pedindo perdão por qualquer violência cometida nesta vida. A segunda, e última etapa, é, juntamente, com o apoio da família, um médico e um guia espiritual ir renunciando, de forma gradativa, aos alimentos e procurar concentrar-se nas orações e hinos. A pessoa que está morrendo pede à família para se juntar a ele nas orações e para evitar quaisquer explosões emocionais que possam tornar difícil sua partida. 


Como seres humanos, todos nós, um dia, enfrentaremos o momento derradeiro. Como jainista, eu sei como partirei para essa viagem quando chegar a minha hora. Cada tradição tem sua própria maneira de se preparar para a morte, e isso é importante já que, um dia, ela virá para todos.

E de fato, a maneira como você se prepara para a morte, bem antes que ela chegue, muitas vezes, faz com que sinta mais apreço por estar vivo.


(O autor deste artigo, Yogendra Jain é um tecnólogo, um empreendedor em série e um promotor e praticante apaixonado do caminho jaina de vida. Ele começou sua carreira no MIT Lincoln Labs e Texas Instruments antes de fundar e administrar várias empresas de sucesso.)



Para ver fotos referentes a prática de sallekhana clique aqui:



Sanlekhana Santhara - Welcome to Bhagwanshri



*Vinoba Bhave - ou Vinayak Narahari Bhave, nasceu em Gagode, em 1895 e faleceu em Wardha em 1982. Foi um asceta e reformador social hindu. Fervoroso seguidor de Gandhi, era considerado seu sucessor espiritual e, também, um símbolo de autoridade moral para milhões de pessoas na Índia.



Vinoba Bhave

Membro da casta brâmane, Vinoba em 1916 decidiu deixar os estudos para seguir os passos de Gandhi, cuja influencia e ensinamentos o converteram. O jovem Vinoba rendeu-se, totalmente, ao movimento de resistência passiva contra o governo britânico que, naqueles anos, seu mestre havia dado início. Seu ativismo foi punido em várias ocasiões e em 1940  foi condenado à prisão para responder ao chamado de desobediência civil por liderar a resistência não violenta  que Gandhi defendia.

Após o assassinato de seu mentor em 1948, Vinoba lançou um revolucionário projeto de emancipação agrária que incluiu a doação de terrenos para os dalits (membros da casta inferior, anteriormente chamados de "intocáveis" e agora, oficialmente, denominados "Scheduled Castes" (Castas Agendadas). Ele viajou de aldeia em aldeia para transmitir o princípio da não-violência (ahimsa) que ele tinha aprendido de Gandhi e solicitar as classes favorecidas a distribuição de terras entre os camponeses.



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Vinoba Bhave segundo a Wikipédia:

Vinoba Bhave (11/09/1895 a 15/11/1982), considerado o sucessor espiritual de Mahatma Gandhi, foi um defensor da não-violência e dos Direitos Humanos na Índia.

Prometera a Gandhi continuar a obra dele, em outro setor. Depois de alcançada a libertação nacional da Índia, faltava a emancipação econômica, que consistia, principalmente, na solução do doloroso problema agrário. Um grupo de marajás e outros latifundiários monopolizaram a maior parte das terras da Índia sem as fazerem produzir devidamente. Daí os grandes flagelos de carestia e fome que assolavam periodicamente o país, dizimando a população. Vinoba Bhave, dessa forma, iniciou um movimento pacífico e não violento que ficou conhecido como "Movimento Bhoodan", que tinha como lema: "A riqueza e a terra devem ser de todos". Tal movimento consistia em pedir doações de terras aos latifundiários para promover uma reforma agrária. Tratava-se de uma partilha voluntária dos bens, a começar pelo solo. Vinoba Bhave conseguiu a doação de milhares de hectares que foram distribuídos entre inúmeras famílias de agricultores. À tais famílias, eram, também fornecidos outros implementos, como instrumentos agrícolas, sementes e obras de irrigação, financiados por um fundo de doações em dinheiro chamado "Sampattidan".

Vinoba Bhave visitava marajás e latifundiários, a quem tinha o costume de dizer: "Venho saqueá-los com amor". Procurando tirar dos que tinham para dar aos que não tinham, ele realizou uma reforma agrária sui generis. Ensinava que tudo o que possuímos, em matéria de dinheiro, propriedade e conforto, foi conquistado com a ajuda do braço alheio, com o esforço coletivo, e, portanto, não deveríamos hesitar em dividir o que nos sobra com os outros.

Embora tivesse recebido a doação de muitas propriedades e de muito dinheiro, Vinoba Bhave nunca quis ter nada para si, tendo distribuído tudo com os mais necessitados. Andava sempre a pé. Contentava-se com o mínimo possível. Bastava-lhe ter um lençol com que cobrir a nudez e uma pequena tigela de coalhada com mel de abelha em cada refeição. Quando era recebido pelos proprietários de terras, costumava dizer-lhes: "Sou vosso filho, sou um membro da vossa família". E seus apelos diretos quase nunca eram feitos em vão. Foi um saqueador de terras curioso e conquistava o que queria através do amor. Uma espécie de Robin Hood moderno, sem arco e sem flechas, que nada queria para si, mas tudo queria para o povo.



Abaixo fotos de Vinoba Bhave










terça-feira, 2 de junho de 2015

FESTIVAIS E RITUAIS JAINISTAS



RITUAIS E FESTAS

(Texto extraído e traduzido do blog "Jainworld"






O jainismo tem uma agenda muito rica de rituais e festivais. É importante lembrar que estes rituais e festivais não são espetáculos superficiais e frívolos, mas, ao contrário, têm um grande significado e traz muitos benefícios não só para quem deles participa, como, também, para aqueles que, apenas, os assistem. Esses festivais e rituais tem a finalidade de imprimir, de forma permanente, os princípios religiosos na mente de todos. Muitos acontecimentos da vida de Mahavira são encenados, com frequência, de uma forma simbólica; e os símbolos, ações, palavras e imagens de tal encenação se unem para levar a mensagem de Mahavira aos seguidores do jainismo. Para muitas pessoas que consideram os aspectos mais complexos da filosofia religiosa um livro fechado, os rituais oferecem uma direção, um foco que lhes permite expressar a devoção ao Tirthankara. Esses cultos realizados com profunda concentração e pensamentos puros - livres de violências e perversidades - ajudam a dispersar os carmas acumulados da alma.

Os rituais são indissociáveis da vida cotidiana de um devoto jaina. Espalhar grãos para as aves pela manhã, filtrar ou ferver a água para o consumo nas próximas horas são atos rituais  de caridade e não violência. Samayika que é uma prática de meditação que leva a equanimidade, é um ritual realizado no início da manhã, à noite e, às vezes, ao meio dia. Tem a duração de 48 minutos (dois Ghadis - uma trigésima parte do dia - uma unidade indiana de tempo) e envolve, geralmente, não apenas meditação tranquila, mas, também, recitação de orações de rotina. Pratikramana (literalmente em sânscrito quer dizer "introspecção". É um processo reflexivo cuja finalidade é o arrependimento) é um ritual que deve ser realizado - na parte da manhã para o devoto se arrepender dos erros cometidos durante a noite; à noite para arrepender-se dos erros cometidos durante o dia; e em dias específicos do ano. Nesse ato ritualístico o jaina expressa remorso pelas violências que praticou, os danos causados aos outros seres e pelos deveres e obrigações que deixou de cumprir.


A adoração diante dos ídolos jainistas,  curvando-se à eles e acendendo uma lamparina é uma forma ideal de começar o dia para o devoto. Por mais simples que seja a capelinha de adoração doméstica, esta pode lhe proporcionar ambiente adequado para realizar este ritual. Formas mais elaboradas de adoração (puja) são realizadas nos templos. O adorador entra no templo e pronuncia as palavras "Namo Jinanam", que quer dizer "Eu me curvo ao Jina" e repete três vezes a palavra "Nisihi"que quer dizer "desistir". Isto simboliza que ele está renunciando a pensamentos que o reportam a assuntos mundanos e direcionando sua mente e seu coração para os assuntos espirituais. Os membros de algumas seitas jainistas não acreditam na adoração de imagens. Eles preferem expressar sua religiosidade através de meditação e orações silenciosas.


O culto (puja) pode assumir muitas formas. O ritual de banhar a imagem (Snatra Puja) é simbólico. Representa o banho dado pelos deuses celestiais a um ser quando atinge a categoria de Tirthankara. Um ato simbólico, também, praticado pelo devoto é molhar a própria testa com o líquido usado para banhar o ídolo. Banhar o ídolo ocorre, igualmente, durante o Panch Kalyanak Puja, um ritual que celebra os cinco grandes acontecimentos da vida do Tirthankara, ou seja, concepção, nascimento, renúncia, onisciência e moksha. Outro ritual é o Antaraya Karma Puja que compreende uma série de orações para remover os carmas que obstruem o poder de elevação espiritual da alma. Um ritual  demorado, praticado no templo, que pode levar até três dias para ser concluído é o Arihanta Puja - uma demonstração de respeito e devoção aos Arihantas. Existe, também um ritual de oração - o Siddha-chakra Puja - focado nos chakras das cinco categorias de seres louváveis ou iluminados - Arihantas, Siddhas, Acharyas, Upadhyayas e Sadhus (e Sadhvis) - bem como nas quatro qualidades de elevação da alma, ou seja, a percepção, o conhecimento, a conduta e a austeridade.


Deve-se dizer que existe uma estreita linha divisória entre o simbolismo e a superstição. Alguma pessoas que se dizem racionais, abolem todos os rituais tomando-os como supersticiosos. Isso é um grande mal entendido. Os ídolos jainas não têm poderes miraculosos, contudo o esplendor do templo, a beleza das orações e cânticos, tudo, ajuda o adorador a atingir um estado de espírito reverente. Certo, que alguma pessoas podem atingir esse estado sem precisar de adereços externos, mas nem por isso devem desprezar aqueles que os valorizam.


Na Índia o calendário solar (utilizado na Europa e países do Ocidente) é, geralmente, utilizado para as questões empresariais e governamentais, porém as festas religiosas são datadas de acordo com o calendário lunar (indiano). Este calendário é bastante simples, entretanto, como ele é baseado nas fases da lua, as datas não são sempre as mesmas de ano para ano como no calendário solar.






O devoto leigo jainista leva a sério a prática do jejum. Jejuam, parcial ou completamente, e realizam, mesclado a essa prática, outras formas de adoração religiosa em muitos dias auspiciosos do ano. Muitos jainistas, os mais fervorosos, conseguem jejuar até 10 dias em determinado mês do ano, outros, não tão fervorosos, jejuam, mas por um período de tempo menor. O primeiro dia das três estações do ano  indiana é, de especial santidade e os jainistas costumam renunciar aos alimentos nesses dias. Duas vezes por ano - em março/abril e setembro/outubro - também é um tempo de jejum jaina. O tipo de jejum feito nesse período chama-se Navapad oli - é um semi jejum observado durante nove dias; o jainista pode comer apenas uma refeição diária e os alimentos têm que ser os mais simples. O festival de Maun Ekadasi (também conhecido como Maun Agyaras) cai em novembro/dezembro; é um dia de completo silêncio, o jejum é mantido e a meditação é dirigida aos cinco seres iluminados - Arihantas, Siddhas, Acharyas, Upadhyayas e Sadhus (e Sadhvis); este dia é considerado o aniversário do nascimento de muitos dos Tirthankaras.





Mahavira nasceu provavelmente no ano de 599 a.C.. A data exata que consta nas escrituras é como sendo no décimo terceiro dia da metade brilhante (ou seja, quando a lua estava encerrando) do mês Chaitra. No calendário solar isto cai em março ou abril. O festival comemorativo desta data é conhecido como Mahavira Jayanti e é uma ocasião de grande pompa. Jainistas se reúnem para ouvir a mensagem que Mahavira expôs de modo que possam seguir seus ensinamentos e exemplos. Os sonhos que a mãe de Mahavira teve antes de seu nascimento são teatralizados e as circunstâncias de sua natividade, segundo as escrituras, são explicadas ao povo reunido. O ídolo de Mahavira no decorrer do cerimonial é banhado e balançado em um berço. Em muitos lugares as procissões acontecem pelas ruas com a imagem tendo o lugar de honra; em algumas regiões da Índia este dia é feriado.  


A Paryushana Parva é a festa mais importante para os jainistas. Este é o período em que durante oito dias muitos jainistas jejuam e realizam atividades religiosas. Ele cai nos meses de Sravana e Bhadra (agosto ou setembro). Durante a estação chuvosa na Índia os monges jainas param de andar de uma cidade para outra; eles  se estabelecem em um local fixo com o objetivo de reduzir qualquer dano que possam causar aos outros seres vivos, já que nesta época a natureza eclode prenhe de vida. Muitas vezes, um município convida monges respeitáveis para ficar em suas proximidades (quase sempre por meio de um convite adornado e muito bem escrito); as pessoas recebem-nos com grande gala e rituais. Um ciclo de palestras e sermões ministrados por monges ou alguém venerável são características habituais da Paryusana Parva.


Nota: Paryushana Parva é um dos festivais jainistas mais importantes. É comemorado todos os anos durante o mês auspicioso de Bhadra (meados de agosto e meados de setembro). É um festival de jejum e perdão; um tempo de reflexão e arrependimento para os jainas de todo o mundo. 

A palavra Paryushana tem diferentes interpretações.  Ela pode significar:

- ficarmos mais perto de nossa própria alma.

- queimarmos nosso carma ruim
- suprimirmos nossos pensamentos, palavras e ações negativas.

A Paryushana Parva é um período de arrependimento para os atos errôneos cometidos no ano anterior e de austeridades para ajudar a verter os carmas acumulados. Deve ser lembrado, também, que as austeridades não são apenas para queimar os carmas, mas, concomitantemente, para controlar o desejo dos prazeres sensuais como parte da formação espiritual para evitar a acumulação de novos carmas. Algumas pessoas jejuam durante os oito dias, outras jejuam por períodos menores (é sugerido nas escrituras o mínimo de três dias), no entanto é considerado obrigatório o jejum no último dia da Paryushana Parva. O jejum, geralmente, envolve a abstinência completa de qualquer tipo de comida ou bebida, mas algumas pessoas tomam água fervida durante o dia.


Há cerimônias regulares no templo e discursos do Kalpa Sutra (um dos livros sagrados) durante esse tempo. O Kalpa Sutra contém o relato detalhado da vida de Mahavira e é lido para a congregação. No terceiro dia o Kalpa Sutra recebe uma homenagem muito especial e é levado com muita reverência numa procissão. No quinto dia, em uma cerimônia bastante expressiva os sonhos auspiciosos da mãe de Mahavira são teatralizados. Ouvir a leitura das Escrituras, tomar medidas ativas que impeçam a matança de animais, pedir e ofertar perdão à todos os seres vivos, visitar os templos da região são algumas das atividades importante nesses dias de festa.


O último dia da Paryusana é o mais importante de todos. Isto porque aqueles que observaram os jejuns no decorrer desse evento são especialmente honrados.  Uma outra razão é porque os jainistas, nesta data, pedem perdão aos familiares, amigos e inimigos por quaisquer atos condenáveis que possam ter cometido para com eles no ano anterior. Após essas etapas é costume todos os jainistas confraternizarem e renovarem os laços de amizade uns com os outros - independente de seu status sócio-econômico - num jantar previamente organizado chamado Swami Vatsalya.





Diwali ou Deepawali é o festival mais importante para todos os habitantes da Índia. Para os jainistas é o segundo mais importante (o primeiro é a Paryusana Parva). Para os jainas Diwali marca o aniversário da Moksha de Mahavira. Mahavira atingiu a libertação neste dia no ano de 527 a.C. (neste dia seu seguidor chefe, Gautama Indrabhuti, também, atingiu a realização de total conhecimento e onisciência). Este festival cai no último dia do mês de Ashvina, o final do ano, conforme o calendário indiano (outubro ou novembro). A abertura dessa celebração acontece no início da manhã do dia anterior, pois foi quando Mahavira fez seu último sermão; sermão esse que durou até tarde da noite de Diwali. Segundo narrativas, os dezoito reis do norte da Índia que estavam em sua audiência decidiram que a luz do conhecimento de seu mestre seria mantida viva, simbolicamente, pela iluminação das lamparinas. Por isso é chamado Deepawali (dipa significa lamparina).

O Ano Novo começa no dia seguinte e é a ocasião para encontros alegres de jainistas; todos desejando uns aos outros um Feliz Ano Novo.

O quinto dia do Ano Novo é conhecido como Jnana Paanchami, o Dia do Conhecimento, quando as Escrituras, que transmitem real conhecimento às pessoas, são adoradas com devoção. 

Vamos terminar este capítulo com a oração jaina do perdão. Os jainistas buscam o perdão, não de um deus todo-poderoso e, sim, de todos aqueles seres vivos a quem causaram algum dano.


Eu perdoo todos os seres vivos;
que todos os seres vivos me perdoem;
todos neste mundo são meus amigos;
eu não tenho inimigos.

Khamemi savve jive,
Jiva sawe me khamantu,
Me mitti bhuesu sawa,
Veram majza na kenai.