sexta-feira, 10 de julho de 2015

O SEGREDO DA ORAÇÃO - Pujya Gurudevshri Rakeshbhai



O SEGREDO DA ORAÇÃO

Prédica de Pujya Gurudevshri Rakeshbhai



Pujya Gurudevshri Rakeshbhai


Certa vez um discípulo perguntou a seu guru: "Como faço para que minhas orações cheguem até Deus?" O guru respondeu: "Pelo que parece você não entendeu o propósito da oração. A oração é para você alcançar a Deus*, não para a sua oração chegar a Deus. Quando uma flor desabrocha ela espalha sua fragrância. Será que a fragrância chegará até alguém? Você não acha que perguntar isso é dispensável? Afinal, a natureza da flor é florescer e, não, garantir que sua fragrância atinja alguém".


Nota: 

"Alcançar a Deus" segundo o jainismo quer dizer alcançar a condição de um Siddha (uma alma liberada). Veja ao final dessa prédica melhores explicações.



Por que essa questão surgiu? Porque a oração não era um sentimento sincero; era apenas uma exigência. Sendo assim havia uma ânsia de descobrir se a solicitação seria cumprida ou não. Uma oração baseada em reivindicações não é uma oração em absoluto. A santidade da oração reside na ausência de desejos. 

A Verdadeira Oração

Jalal ad-Din Rumi (foi um poeta, jurista e teólogo sufi persa do século XIII) dizia a Deus: "Eu sou fraco, ó Senhor! Se algum dia eu pedir alguma coisa a Ti, não me escutes. E, se me escutares, por favor, não me concedas o que Te peço. Deixa que somente Tua vontade se cumpra. Senhor, minha felicidade está no que Te agrada. Eu nem sequer sei o que é bom para mim! O que quer que Tu faças é certo, ainda que, muitas vezes, não entenda os Teus desígnios."

A oração serve para alterar a vontade de Deus ou para nos transformar espiritualmente? A verdadeira oração é aquela que começa com uma intimação para que mudemos a nós mesmos e culmina em um estado silencioso, tranquilo de beatífica serenidade. Qualquer pedido para mudar as circunstâncias não pode ser chamado de oração.  Isso é pura mendicância.



Somente a Oração é Suficiente?

Outra questão que, eventualmente, poderá surgir é, se, apenas, orar de maneira correta é o bastante para que alcancemos a Deus. A resposta é sim. Orar é o suficiente, desde que a oração venha do fundo do coração, seja uma ânsia da alma. Porque a questão é : a oração é sincera ou é emprestada? É algo que você aprendeu a decorar e recita mecanicamente ou ela vem de dentro, de modo voluntário e consciente? Se ela vem das profundezas do seu coração, seguramente, é o suficiente. 


Afinal, como pode a recitação de palavras decoradas - que outra coisa não é senão a verbalização de emoções e anseios de outra pessoa - ser chamada de oração? Aquilo que é emprestado não pode ser uma oração. Não importa quantas vezes você repita as palavras se o seu coração não está presente, se ele não palpita pelo que você diz. Não importa quantas vezes você recite, maquinalmente, preces e  hinos devocionais se isso não é um ato que o motiva a dançar, que o tira do marasmo de sua existência adormecida. Acreditar que uma oração ilegítima irá beneficiá-lo é uma mera ilusão. Somente as emoções suaves, de amor verdadeiro, advindas de seu coração são capazes de transformá-lo, não palavras emprestadas.



Orações Não Podem Ser Ensinadas

Orações parecem ter desaparecido deste mundo, porque elas são ensinadas, em vez de serem acesas para tornarem-se iluminadas. Pelo ensino as orações se tornam artificiais. E uma vez que não são acesas a partir de dentro, a vida permanece vazia e cheira a podridão. Nunca ensine uma oração - decoreba de palavras - a quem quer que seja. O próprio ato de ensinar torna-se inútil.


A verdadeira oração se expressa de diferentes maneira - na forma de lágrimas ou como dança. Não tem nada a ver com o vocabulário. Numa autêntica oração palavras podem ou não estar presentes, mas o que vale mesmo é o estado emocional sincero. Este, sim, é necessário. Portanto a oração não pode ser nem ensinada, nem aprendida. Ela não significa memorizar determinados vocábulos e, em seguida, expressá-los verbalmente. A oração não é um conjunto específico de palavras eruditas que você reproduz, tal qual quando faz exames na escola - escreve o que foi memorizado sem ter entendido nada. A oração deve partir de seu íntimo. Dizer algo que se aprendeu de memória é como encenar uma peça teatral. Tudo que for emprestado, memorizado ou preparado com antecedência não é uma oração. Aquilo, sim, que é seu, espontâneo, que não foi ensaiado, é uma oração. Quanto mais você se preparar -  quanto mais sofisticar sua oração - mais superficial você e ela serão. Para orar, não existe um método, uma rotina.


Não há rituais para o amor. Onde existem rituais, há artificialidade. Você aprende a amar? Quando você tenta estudar técnicas e regras de como amar, isso, torna-se um mero ato externo. Ele se torna postiço, falso. Esse tipo de amor não é real. Você nasce com a capacidade inata de amar; não é necessário estudar como amar. Esta canção já está presente em sua existência. Tudo que você precisa é dar uma oportunidade para que ela se manifeste.


Por exemplo, se alguém quer dormir, o que faz? Será que irá ensaiar como dormir? Será que primeiro se exercitará, fará algum tipo de yoga, ou estudará como isso é realizado? Tudo o que fizer sera, apenas, um obstáculo para dormir. No entanto, muito pode ser feito. Ele pode fechar as cortinas para evitar que a luz entre no compartimento onde pretende se deitar. Ele pode arrumar sua cama de forma agradável e acolhedora. Ele pode ligar o ventilador, etc. Todos estes procedimentos não são feitos para ele ter sono, mas, sim, para superar os obstáculos e desconfortos - luz incidindo sobre os olhos, uma cama desconfortável, calor excessivo, etc. -  que, eventualmente, o impeçam de dormir. Todas as providências que tomar para tornar o ato de dormir mais agradável, será útil, no entanto, elas não poderão lhe trazer o sono; o sono vem por conta própria.


O mesmo acontece com a oração. Basta você afastar-se do barulho que vem do lado de fora. Sente-se sozinho por algum tempo, esqueça o mundo e se conecte com seu eu interior. Cutuque-o. Cave fundo esse eu interior.  Inicialmente, você poderá encontrar, apenas, seixos e pedras, porém se você persistir e continuar a cavar, a profundar-se em si mesmo, um dia, uma fonte de bem-aventurança brotará. Aguarde com paciência.



Implorar não é Rezar

Por que as pessoas continuam a ser as mesmas, depois de orarem? É porque a oração tem sido mal interpretada. É lamentável que a palavra "oração" passou a ser sinônimo de implorar ; a palavra "oração" passou a significar reivindicação e petitório. Pedir qualquer coisa com fé é logo interpretado como oração. Agora, vejamos, se rotularmos uma pessoa que implora por algo como sendo uma pessoa de oração, de que maneira poderemos chamar um mendigo? Durante séculos a mendicância foi realizada com o nome de oração, por isso a oração nunca floresceu no coração para proporcionar alegria.

A oração é um estado sereno da mente e não um hino devocional ou a recitação de um mantra para obtermos a realização de um desejo. Alguns oram na crença de que se pedirem com fé irão recebê-lo. Acreditam que mendigando estão orando e através dessa oração realizarão seus desejos. Mas os seres iluminados dizem que se nos entretemos com desejos tais como "Espero obter isto; espero não obter aquilo; espero que isso aconteça; espero que aquilo não aconteça, etc." de modo algum estamos orando. No momento em que seus desejos são anexados a uma oração uma pedra de moinho fica amarrada em volta do pescoço da ave da oração. As asas da devoção são cortadas. Agora, a ave não será capaz de voar. Ela irá lutar, exaustivamente, em vão. Por final, morrerá.


A oração é para você conhecer Deus. A oração é para você alcançar a Deus. A oração, portanto, não deve ser uma cópia porque ela é diferente para cada um de nós. O caminho de cada um de nós é diferente, de igual modo, a maneira como expressaremos o nosso modo de ser e amar é  diferente. Mas uma coisa é certa -  a nossa oração é diferente, o nosso modo de expressá-la é diferente, mas o estado interior de onde elas emergem é o mesmo. A oração é uma dança interior, uma explosão de alegria, um estado de bem-aventurança.


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Deus no jainismo

(segundo a Wikipédia, a enciclopédia livre)

O jainismo rejeita a ideia de uma divindade criadora responsável pela manifestação, criação ou manutenção deste universo. De acordo com a doutrina jaina, o universo e seus componentes (alma, matéria, espaço, tempo e princípios do movimento) sempre existiram. Todos os componentes e ações são regidos por leis naturais universais e uma entidade imaterial como Deus não pode criar uma entidade material como o universo. O jainismo oferece uma elaborada cosmologia, incluindo os seres celestiais (Devas), mas esses seres não são vistos como criadores; eles estão sujeitos ao sofrimento e mudam como todos os outros seres vivos, e, finalmente, atingem a libertação.


Jainistas definem divindade como a qualidade inerente de qualquer alma e é caracterizada por felicidade infinita, poder infinito, conhecimento puro infinito (Kvala Jnana) e perfeita paz. No entanto, estas qualidades são subjugadas devido a carmas da alma. Aquele que atinge este estado de alma perfeito através da crença correta, o conhecimento correto e a conduta correta pode ser chamado de um deus. Esta perfeição é chamada kevalin ou Bodhi. Uma alma liberada - liberta de misérias, dos ciclos de renascimento, do mundo, dos carmas e, finalmente, liberta, também, do corpo - torna-se um deus. Essa libertação chama-se nirvana ou moksha.


Se a divindade é definida como um estado de ser em que a alma se liberta dos karmas e realiza a iluminação aquele que existe em tal estado é um deus; da mesma forma, aqueles que alcançam tal estado, também, são chamados de deuses ou Tirthankaras. Assim, Rishabha, era um deus ou Tirthankara, mas ele não foi o único Tirthankara; houve muitos outros. No entanto, a qualidade divina é a mesma em todos eles. Devido a isso o jainismo pode ser definido como politeísta, monoteísta, não teísta, transteísta ou ateu, dependendo da definição de deus que cada um dê.


O jainismo não ensina que se dependa de qualquer ser supremo para que se atinja a iluminação. O Tirthankara é um guia e mestre que aponta o caminho para ela, porém a luta para atingí-la é encargo de cada um de nós. Recompensas morais e sofrimentos não são tarefas de um ser divino, mas  um resultado de uma ordem padrão inata do cosmos - um mecanismo de auto-regulação em que o indivíduo colhe os frutos de suas próprias ações através do funcionamento do karma.


Os jainistas acreditam que, para atingir a iluminação e, finalmente, a libertação de toda a ligação cármica, deve-se praticar os princípios éticos, não só no  pensamento, mas, também, nas palavras e ações. Tal realização, através de trabalho persistente ao longo da vida, para com nós mesmos, é considerado tal qual observar o Mahavrata (os Grandes Votos).


Os deuses no jainismo podem ser assim classificados: em deuses encarnados - também conhecidos como Arihantas* - e os não encarnados, deuses sem forma, que são chamados de Siddhas. O jainismo considera como devas (deuses) e devis (deusas) as almas que habitam os céus devido aos seus atos meritórios que praticaram em suas vidas passadas. Portanto,  até mesmo estas almas que habitam agora os céus para uma vida fixa  e útil tiveram que se submeter a reencarnações sucessivas como seres humanos para alcançar a libertação final (moksha).



* Os Arihantas podem ser de dois tipos: 

1. Samanya kevali - Arihantas que estão interessados em sua própria libertação.

2. Tirthankara kevali - 24 guias espirituais humanos que depois de se tornarem Arihantas mostram aos outros seres humanos o verdadeiro caminho para a salvação.

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