terça-feira, 28 de abril de 2015

AS SEITAS DIGAMBARA E SVETAMBARA


DIFERENÇAS ENTRE AS SEITAS
DIGAMBARA E SVETAMBARA



monge Svetambara



monges Digambaras


Os jainistas encontram-se divididos em dois grupos principais: os Digambara e os Svetambara.  Alguns pontos de diferença entre essas duas seitas são:

- Os Digambaras acentuam a prática da nudez como exigência inquestionável para a trajetória do monge, bem como para alcançar a salvação (moksha).

- Os Digambara creditam que as mulheres não tem virtuosidade bastante, nem força de vontade necessária para atingir a libertação (moksha); por isso  elas terão que renascer sendo do sexo masculino para que isso seja possível.  Já os Svetambaras não pensam dessa forma e sustentam que as mulheres são capazes, na vida atual, das mesmas realizações espirituais que os homens.

- Segundo os Digambaras, quando um santo se torna um "kevali" ou kevala-jnani", ou seja, onisciente ele não mais precisa comer.  Esse ponto de vista não é compartilhado pelos Svetambaras.

- Os Svetambaras acreditam que Mahavira tenha nascido de uma mulher da casta Ksatrya, de nome Trisala, embora a concepção tenha ocorrido no útero de uma mulher da casta Brâmane, de nome Devananda.  A mudança de embrião teria sido feita pelo Deus Indra oitenta e três dias depois da concepção.  Os Digambaras , no entanto, descartam essa versão como não confiável e absurda.


- Os Svetambaras creem que Mahavira casou, com a princesa Yasoda, quando ainda era bem jovem e com ela teve uma filha de nome Anojja ou Priyadarsana;  Mahavira levou uma vida normal de pai de família até os trinta anos, quando se tornou asceta.  Os Digambaras negam esta afirmação completamente.


- Os Svetambaras dizem que Mallinatha, a 19ª Tirthankara foi uma mulher.  Já os Digambaras dizem que foi um homem.


- A tradição Svetambara retrata os ídolos, estátuas e imagens que representam os Tirthankaras, vestindo-os com uma tanga, enfeitando-os com jóias e com os olhos abertos.  Os Digambaras retratam os Tirthankaras nus, sem quaisquer adornos e com os olhos fechados (representando o estado contemplativo).


- Os Svetambaras  acreditam na legitimidade e no caráter sagrado da literatura canônica, ou seja, os doze "angas" e "sutras", como existem agora.  Mas os Digambaras afirmam que os textos originais e genuínos foram perdidos há muito tempo.  Os Digambaras, também, se recusam a aceitar as reformas do primeiro conselho que se reuniu sob a liderança do Acharya Sthulabhadra e, consequentemente, a reformulação das "angas".


- Os Svetambaras utilizam o termo "Charitra" para as biografias dos grandes mestres.  Os Digambaram fazem uso do termo "Purana".


- Os monges Svetambaras coletam seus alimentos em diferentes casas.  Os monges Digambara tomam os alimentos em pé e com a palma da mão voltada para cima, servindo, esta, de recipiente para o que irão comer.  Eles só podem receber alimentos de uma casa apenas.


- Os monges Svetambaras vestem roupas brancas, porém os monges Digambara, principalmente os da seita Nirgrantha vivem nus.


- É permitido aos ascetas Svetambaras terem quatorze posses (uma tanga, um tapa boca, etc.).  Aos ascetas Digambara só lhes é permitido dois bens (um "pichhi" que é espanador de pena de pavão e um "kamandalu" que é um cântaro de madeira.


- Existe, também, diferença na maneira como as duas seitas recitam o Namokar Mantra - o mantra mais importante do jainismo.  Os Digambaras acreditam que somente as primeiras cinco linhas devem ser recitadas.  Já os Svetmbaras recitam as nove linhas.



Para entendermos melhor sobre aspectos desses dois grupos jainas transcrevemos aqui um artigo de Jayaran V - mestre e autor de artigos sobre religiões indianas, filosofia, misticismo e espiritualidade:


Jainismo - Seitas e sub-seitas



Uma das características das tradições religiosas indianas é haver mudanças e disputas com relação a doutrina e prática. Muitas vezes, isso levou a formação  de novas seitas, sub-seitas e escolas de pensamento regulares e periódicas.  O jainismo não foi exceção.  Durante o tempo do próprio Mahavira houve algumas controvérsias a respeito dos aspectos mais delicados de seus ensinamentos.  Alguns de seus seguidores não concordavam com ele inteiramente e formaram suas próprias seitas.



Os Primeiros Cismas


A tradição jaina registra sete movimentos (ou cismas) menores (Nihnava) dentro do jainismo no decorrer de sua história; estes ocorridos durante e após Mahavira.  Registra também o grande cisma - as sementes que, provavelmente, já haviam sido plantadas durante o tempo de Mahavira e que levaram à formação das seitas Svetambara e Digambara.   As sete divisões menores que ocorreram no início do desenvolvimento do jainismo são:


- A  primeira divisão foi organizada por Jamali, sobrinho e genro de Mahavira, por causa de questões de influências pessoais. Havia  desavenças entre os seguidores de Mahavira por não aceitarem a autoridade moral, nem o prestígio  de alguns ascetas que diziam ter atingido a onisciência.


- a segunda divisão foi causada pelo monge Tisyagupta (ou Tissagutta) por causa de questões sobre a natureza atômica da alma.


- A terceira divisão foi iniciada por Asadha, que viveu cerca de 200 anos depois de Mahavira.  Ele considerava que não havia diferenças entre os monges jainistas e os deuses e que, portanto, deveriam ser tratados da mesma forma.  A seita voltou à corrente principal jainista devido aos esforços do Rei Batabhadra.


- A quarta divisão: Asvamitra (ou Assamitta) criou confusão dentro da comunidade jaina, dizendo que todos os seres vivos se extinguiriam um dia; o que  contraria diretamente a crença jaina, já que ela afirma que as almas são imortais.  Asvamitra, posteriormente, admitiu seu erro e pediu desculpas.


- A quinta divisão: Ganga, um monge jaina, propôs que era possível experimentar dualidades (sentimentos ou coisas opostas) da vida, tais como, calor e frio ao mesmo tempo.  Ele foi expulso da comunidade e depois readmitido quando reparou seu erro.


- A sexta divisão: 544 anos depois de Mahavira, um professor chamado Jaina Rohagupta  (ou Rohagutta) propôs que, além dos seres vivos (jivas) e da matéria animada (ajiva) existe uma terceira classe de coisas não-vivas (nojiva).


A sétima divisão: Décadas mais tarde outro professor  de nome Gostamahila (ou Gotthamahila) desviou-se dos principais ensinamentos que diziam como a substância cármica agarra-se à alma e a duração de tempo que se deve praticar a renúncia para que essa substância seja eliminada.  Seus pontos de vista foram rejeitados pelo conselho jaina e ele foi excomungado.



As Seitas Digambara e Svetambara


Quando Mahavira estava divulgando sua mensagem, já havia uma comunidade de monges jainistas que praticavam os ensinamentos de Parsvanatha e dos Tirthankaras anteriores. Não temos certeza se eles se eles se uniram a Ordem estabelecida por Mahavira, ou mantiveram sua identidade separada.  No entanto, parece que eles mantiveram as suas práticas antigas, incluindo a prática de vestir roupas, em contraste com a própria prática de Mahavira de permanecer nu em deferência ao voto de não-posse.  


Essas primeiras divergências se aprofundaram com o tempo e levaram ao grande cisma no jainismo, o que contribuiu em grande medida para o seu, subsequente, declínio.  Após a saída de Mahavira, foram feitos esforços para reconciliar as diferenças entre as duas seitas e organizar o cânon jaina. Porém não tiveram muito êxito.  Com o tempo as discordâncias se agravaram e os dois grupos se separam formalmente.


O grande cisma separou a Ordem em duas divisões verticais.   Um grupo chamou-se Digambaras, ou seja, os nus - os que preferiam não usar qualquer roupa e permanecer deste modo tanto em lugares públicos, quanto em locais privados.  O outro grupo chamou-se Svetambaras, ou seja, os vestidos de branco - os que usavam roupas brancas e cobriam seus corpos como parte de sua disciplina monástica.  A divisão e as divergências entre os dois grupos  continua até os dias atuais.  Eles representam duas correntes distintas de pensamento e duas tradições distintas, apesar de ambos os lados concordarem sobre os aspectos fundamentais dos ensinamentos.  Eles diferem, principalmente, no que diz respeito a algumas práticas e algumas questões relacionadas com a doutrina essencial.  A seguir estão as principais diferenças entre os Digambaras e os Svetambaras.



Principais Diferenças Entre os Digambaras e os Svetambaras


Os Digambaras permanecem sem roupas.  Para eles, esta é uma condição sine qua non para  se trilhar o caminho da salvação. Eles aceitam a nudez como uma observação  do voto de não-posse, segundo o qual um monge perfeito deve ser desprovido de quaisquer bens, incluindo roupas e o desejo de proteger o seu corpo de alguma forma.  A julgar pelo mesmo argumento eles sustentam que as mulheres não são qualificadas para a salvação uma vez que não observam o voto de não-posse estritamente.  As que chegam a perfeição em suas práticas ascéticas nesta vida somente alcançarão a salvação quando nascerem como homens e tomarem, novamente, o caminho ascético.


Os Digambaras retratam Mahavira em completa nudez, sem qualquer ornamentação e de olhos baixos.  Eles também acreditam que Mahavira levou uma vida completamente celibatária e nunca se casou.  Eles se recusam a reconhecer as onze "Angas" do cânon jaina, que fazem parte dos 41 Sutras.


Os Svetambaras seguem, principalmente, o exemplo de Parshvanatha (Também conhecido como Parshva foi o vigésimo terceiro Tirthankara do jainismo)  .  Eles aceitam as 11 "Angas", usam vestes brancas e sustentam que a observância do voto da nudez completa não é um pré-requisito para alcançar a libertação.  Alegam que Parshvanatha e seus discípulos, também usavam túnicas brancas  e não praticavam a nudez completa. De acordo com os Svetambaras as mulheres são igualmente qualificadas pra alcançar a salvação e mostram Mahavira trajando vestes brancas.


Outra diferença importante entre os dois grupos é no que diz respeito a onisciência.  De acordo com os Digambara, quando um monge alcança a onisciência, ele (são sempre os monges, pois as freira não são qualificadas para a salvação) não precisa de qualquer alimento para comer.  Isto é refutado pelos Svetambaras, pois estes afirmam que um monge ou monja onisciente, também, precisa se alimentar já que ainda não descartaram seus corpos que, irrefutavelmente, precisam de alimento.


As duas seitas também divergem no que diz respeito a maneira como nasceu Mahavira.  De acordo com os Svetambaras a concepção de Mahavira ocorreu dentro do útero de uma mulher da casta brâmane conhecida como Devananda.  A mando de Indra (rei de todos os deuses)  o embrião foi transferido de seu útero para o útero de Trishala, uma mulher da casta kshatriya.  Os Digambaras consideram esta uma teoria absurda.


Svetambaras, também, acreditam que, antes de renunciar a vida mundana, Mahavira casou-se com a princesa Yasoda e teve com ela uma filha chamada Priyadarsana.  Os Digambaras acreditam que Mahavira nunca se casou e permaneceu celibatário ao longo de sua vida.


Svetambaras estão autorizados a receber, diariamente, alimentos dados a eles de modo voluntário por mais de uma família. Eles, também, estão autorizados a comer mais do que uma vez ao dia.  Quando eles vão em busca de alimento levam um recipiente e nele fazem a refeição.  Os Digambaras coletam sua alimentação, que, também, lhes é fornecida voluntariamente,  apenas em uma casa;  e a cada dia têm que ir numa casa diferente.  Ele não usam nenhuma tigela. Recolhem o alimento com as mãos e com as mãos levam-no a boca.


Em relação à posse de coisas, ambas as seitas discordam.  Os Svetambaras estão autorizados a possuir 14 itens, que incluem roupas e a tigela de mendigar, enquanto que aos Digambaras são permitidos apenas dois bens - um espanador e um cântaro de madeira para água.  No entanto, em ambas as seitas os monges estão autorizados a levar consigo os textos religiosos para estudarem os ensinamentos.



Com o decorrer do tempo, houve mais divisões dentro destas duas seitas, por causa de divergências de várias ordens. Surgiram então as sub-seitas dos Digambaras e as sub-seitas dos Svetambaras.   



3 comentários:

  1. Minha sub seita svetambara vê todas as criaturas como sagradas e usamos amarelo e laranja, nudez não é necessário e observação aos textos

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  2. Algum JAINISTA no Brasil?
    Vamos estudar e representa los por aqui ?

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