segunda-feira, 4 de maio de 2015

DIGAMBARA E SVETAMBARA - SUB-SEITAS

AS SUB-SEITAS DIGAMBARAS E SVETAMBARAS






Por Jayaram V

(Jayaran V - é mestre e autor de artigos sobre religiões indianas, filosofia, misticismo e espiritualidade)



Os jainistas encontram-se divididos em dois grupos principais: os Digambara e os Svetambara.  


Com o passar do tempo, houve mais divisões dentro de cada uma dessas duas seitas, devido a diferenças nas interpretações dos ensinamentos, nas práticas dos rituais e devido a insatisfações com a liderança das comunidades.  Apesar do jainismo ter sido constituído, predominantemente, de tradições ascéticas, durante o período medieval, vários fatores influenciaram o crescimento de práticas rituais em templos, semelhantes às práticas  devocionais hindus e seus métodos de adoração.  Isso levou à um movimento antagônico dentro da comunidade, pois muitos membros não gostavam da ideia de ritualismo, o culto de imagens e práticas supersticiosas.  A seguir estão algumas das sub-seitas que se formaram dentro de ambas as seitas no período medieval.


Seitas Digambara


- Bisapanth - ou seja, vinte vezes Path (esta seita segue os ensinamentos e tradições originais do jainismo.  Eles seguem os textos originais da religião baseados nos ensinamentos de Mahavira  - os "Agamas". Enquanto os Digambara Terapanth professam 13 maneiras de alcançar a libertação, eles reconhecem 20.  Daí o nome Bis + panthi = vinte + vias do caminho).  Esta seita depende dos serviços de um "bhattaraka" (bhattarakas são pessoas - homens santos - que dirigem e administram as instituições tradicionais dos jainas Digambara. São responsáveis pela divulgação dos ensinamentos jainas, manutenção de  bibliotecas, gestão de doações e presidem cerimônias de culto e outras.  Diferentemente, de um monge Digambara , um bhattaraka veste um manto laranja e fica em um único lugar).  Os "bhattarakas" dirigem os rituais de culto das imagens dos Tirthankaras e de outras deidades celestiais de forma similar aos realizados nos rituais de adoração de deidades pelos sacerdotes hindus, isto é - com flores, frutas, incenso, doces, chama sagrada (arati), etc.  No final do evento essas ofertas são distribuídas aos devotos que participaram dele.  Essa sub-seita é popular em Maharashtra, Kamataka, Andhra Pradesh, Rajasthan e Gujarat.


Terapanth Digambara - ou seja, os treze caminhos para alcançar a salvação. Esta sub-seita ganhou destaque, no início do século XVII, devido a crescente insatisfação da comunidade Digambara que manifestou-se contra a institucionalização dos "bhattarakas".  Os seguidores desta seita se encontram principalmente, em Uttar Pradesh, Madhya Pradesh e Rajastan.  Eles adoram apenas as imagens dos Tirthankaras. Fazem isso com materiais secos, como cereais; evitam oferecer flores, frutos, etc.  Eles, também, não realizam a adoração com a chama sagrada (arati), nem distribuem os restos das oferendas aos adoradores.


Taranapanth - Esta sub-seita leva o nome de seu fundador Tarana Swami (1448 - 1515 d.C.)  Essa seita, também, é conhecida como Samaiya Panth, já que os seu seguidores, ao invés de imagens e ídolos, adoram os textos sagrados (Samayia Sara).  Essa adoração é realizada em lugares, que foram erigidos, especialmente, para essa finalidade, chamados Salões das Escrituras (Scripture Halls).  Nos  Scripture Halls eles recitam não só os principais textos do jainismo, mas, também, os quatorze textos escritos por Tarana Swami.  Conforme escrito acima, esta seita não adora imagens ou ídolos, mas centra-se no conhecimento religioso.  Ela tem uma base limitada em Madhya Pradesh e Maharashtra.  Vidisa, que fica em Madhya Pradesh, e que foi o local onde morreu o Swami, é o principal centro de peregrinação desta seita.


Gumanapanth - Esta sub-seita é bem pouco conhecida.  Foi fundada por Padit Gumnai Rama ou Gumani Rai.  Eles acreditam que a oferta da chama sagrada (arati) nos templos é um ato de  violência já que os insetos podem morrer no processo.  Por isso, apesar de adorar imagens eles não executam "arati", nem fazem outras ofertas na adoração.


Totapanth - o nome significa os "dezesseis caminhos e meio para a salvação".  Essa sub-seita como, propriamente, seu nome diz, foi formada a partir de um compromisso de aceitar, um meio termo, entre os vinte caminhos para a salvação dos Bisapanth e os treze caminhos dos Terapanth. Seus seguidores acreditam em alguns aspectos de ambas as sub-seitas.  Apenas pode ser encontrada em algumas partes de Madhya Pradesh.


Kanjipanth - Foi fundada por Kanji Swami, que, no princípio foi um Svetambara, mas tornou-se um discípulo leigo da seita Digambara.  Ele criou uma abordagem sintetizada para praticar os ensinamentos ascéticos do jainismo que são de interesse tanto para os Digambaras, como para os Svetmbaras. Ele popularizou os antigos textos de Kundakunda (também conhecido como Kundkund foi um célebre acharya jaina. Monge estudioso escreveu diversos clássicos espirituais.  Além dessas várias obras doutrinárias magistrais, também contribuiu  na compilação de uma série de textos sagrados.  Kundakunda é considerado um dos mais importantes mestres da tradição jaina) e enfatizou o aspecto espiritual da doutrina ao invés de seus aspectos ritualísticos.  A popularidade desta sub-seita está crescendo no norte da Índia e no exterior entre os jainas mais intelectualizados.  Templos Kanjipanth se estabeleceram fora da Índia em lugares como Nairobi e Londres.



Seitas Svetambaras


Murtipujakas - Murtipujakas significa "adoradores de imagens".   como o nome indica, os membros desta sub-seita são predominantemente adoradores de imagens e constituem  a maior sub-seita dos Svetembaras.  Eles também são conhecidos como Deravasis,  Caityavasis (moradores de lugares sagrados, Mandimargis (frequentadores do templo) e Pujakas (adoradores).  A seita mantem as imagens adornadas com jóias, pasta de açafrão, roupas e flores.  Os devotos, durante o culto, fazem oferendas de arroz, frutas, incenso, etc.  Faz, também, parte do culto banhar o ídolo  (Ao limpar as estátuas eles cobrem a boca), tocar nele, ungi-lo e executar o arati. Os Murtipujakas não oferecem os itens comestíveis, mas distribuem esses itens entre as pessoas que servem no templo. Ascetas desta seita cobrem a boca com um pano, ou seguram-no com as mãos, ao falar  com os outros.  Os membros desta sub-seita são encontrados  em todas as partes de Índia, especialmente, nos centros urbanos de Gujarat , Maharashtra e Rajastan.

Sthnakavasi - A seita foi fundada por um monge jaina chamado Viraj no século XVIII.  Viraj, a princípio, foi um discípulo leigo da seita Lonka que foi instituída por Lonkasaha, um comerciante de Allahabad.  A seita rejeitou o culto de imagens e insistiu na estrita adesão aos ensinamentos de Mahavira. Inspirando-se na seita Lonka, Viraj iniciou um novo movimento, o qual aboliu o culto às imagens dos Tirthankaras e a construção de templos para alojá-los.  Os seguidores dessa sub-seita são conhecidos como Sthanakavasis porque eles se reúnem em edifícios comuns, sem adornos, chamados "sthanakas" ou salas de oração, em vez dos elaborados templos decorados, tão comuns em outras seitas jainas.  Eles também são conhecidos como dhundiya (buscadores) e sadhumargis (seguidores do caminho ascético).  Exceto a adoração de imagens, muitas de suas práticas se assemelham aos dos murtipujakas.


Terapanth Svetambara - Esta é uma divisão que ocorreu dentro da sub-seita Sthanakavasi.  O seu  fundador foi Mui Bhkianji, que era, a princípio, um seguidor daquela seita  e um discípulo do Acharya Rahunatha.  Ele  e outros quatro monges divergiram com o Acharya sobre questões éticas o que culminou na fundação dos Terapanth.  Ele enfatizou treze princípios da prática, ou seja, os cinco votos (mahavratas), as cinco observâncias (Samitis) e os três apoios (guptis).  Por causa disso esta sub-seita é conhecida como Terapanth, o caminho dos treze princípios.  Ela é dirigida por um só mestre (acharya) - tradicionalmente, nomeado pelo líder antecessor - que é responsável pelo bem-estar e direção geral.  Os membros desta sub-seita não adoram imagens; o foco é os ensinamentos espirituais dos Tirthankaras.  Eles acreditam em uma vida simples  e no pensamento elevado.  Seus monges não vivem em mosteiros, mas nas casas de seguidores leigos; ocupam seu tempo com a meditação, austeridades e recitação das escrituras.  Eles  veneram os monges mendicantes vivos, pois os consideram símbolos  dos ideais jainas, da não-violência e renúncia.  Para evitar ferir os insetos e pequenos organismos, eles, também, cobrem a boca com um pano conhecido como "muhapatti".  A seita  que é popular  entre as famílias  dos comerciantes da casta de Bisa Oswal, em algumas partes do Rajasthan, também, é conhecida por seus serviços à comunidade e espalhar a mensagem de paz e não-violência através do esforço coletivo.

Os seguidores do jainismo hoje vêm, principalmente, das comunidades de comércio da Índia e são conhecidos por seu alto grau de comprometimento com os ensinamentos de Mahavira.  Seu modo de vida é caracterizado pelo jejum, não-violência, o vegetarianismo, a filantropia, a austeridade, amabilidade e simplicidade.  Eles, também desempenham um papel vital nas atividades religiosas, políticas e econômicas da Índia, sem se distanciarem dos hindus, que formam a maioria, mas que, por sua vez, não encontram qualquer diferença entre eles e os jainistas.

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