domingo, 17 de maio de 2015

AHIMSA - NÃO É UMA RELIGIÃO - II



COMO PODEMOS VIVER NESTE MUNDO SEM SERMOS VIOLENTOS?

Escrito por Gurudev Shree Chitrabhanuji



Na filosofia jaina, a resposta está em envidar todos os esforços para minimizarmos todo processo que nos impele a sermos violentos e dirigir nossas ações com a intenção de respeitar a vida. Isto requer vigilância, estar consciente  das causas e coragem de viver em harmonia com as leis da natureza. O verdadeiro sentimento de respeito a vida não é inspirar medo em qualquer ser vivo e, sim, abrirmos nosso coração para todo tipo de vida.

Para isso, a intenção é fundamental. Viver tendo Reverência pela Vida significa não tolerar ou consentir qualquer forma de violência; inclusive se ela partir de outra pessoa. Isto significa que devemos tentar impedir, antes que aconteça, ou parar, caso já tenha começado,  qualquer desmando do agressor. Ao longo da história, os monges jainistas impediam, ou tentavam impedir que sacerdotes de outra religiões arrastassem animais aos altares para serem sacrificados. Sob a influência suave de Mahavira, muitos reis aboliram em suas terras a escravidão baseada no sistema de castas, a degradação das mulheres, a caça, o massacre e o sacrifício de animais; muitas pessoas foram inspiradas a viver a  ahimsa - a não violência.

É verdade que quando respiramos, quando utilizamos a água para diversos fins, quando pisamos a terra, quando nos alimentamos de vegetais estamos contribuindo para que vidas sejam perdidas. A ênfase que damos é: procuremos reduzir, o mais que possível, os danos que causamos aos outros seres em função de nossa sobrevivência.

Nós temos que tomar uma decisão. E ela é: ao invés de nos alimentarmos com a carne e o sangue de animais que já evoluíram os cinco sentidos (que possuem um cérebro altamente desenvolvido, cujo sistema nervoso e vida emocional são tão semelhantes ao nosso e em cujas veias, também corre sangue), procuremos sustentar nosso corpo, sem derramamento de sangue, com a ajuda do reino vegetal (que ainda não desenvolveu qualquer um dos sentidos - nem do paladar, olfato, visão ou audição).


Os seres vivos quanto mais receptores sensoriais têm, mais são sensíveis à dor. Uma vez que peixes, pássaros e animais estão equipados dessa forma, nós temos que nos recusar a ser causa de sua agonia e sofrimento. Quando observamos que os animais, por muito que estejam dominados pelo medo, se agarram à vida lutando pela sua sobrevivência, ficamos obrigados a deixar de lado quaisquer noção de usá-los ou explorá-los. Nós sentimos a sua impotência diante da gula, cobiça, avareza e crueldade do homem. Portanto, Reverência pela Vida é querermos vê-los com vida e sem serem molestados.



***



A maioria das verduras são colhidas no final de seu ciclo de vida natural. Muitos alimentos como bagas, melões, feijões, ervilhas, nozes e frutas das árvores podem ser colhidas sem arrancar  a planta inteira. No entanto, temos que reconhecer com humildade que cada fruta, cada folha ou grão que encontramos no nosso prato teve que perder sua vida para nos dar vida. Sem as plantas, as quais tanto necessitamos seríamos impotentes; não seríamos capazes de sobreviver e, consequentemente, de evoluir. Eis a razão porque os monges jainas recitam, antes das refeições diárias, esta oração:

Aho Jinehim asavvajja vittisahuna Desiya

Mukkha sahana heoosa sahu dehassa dharana

Que quer dizer:


Oh, Jinas! Que ensinamento maravilhoso nos deste!

Tu nos ensinaste a comer somente
o alimento que é puro, benigno e saudável - 
que não foi obtido através do derramamento de sangue.
Tu nos ensinaste o que comer para sustentar nosso corpo
e faze-lo por uma razão principal -
para desobstruir nossa vida e alcançar a libertação final.

Com este sentimento de apreço, comemos com respeito e moderação, sem consumirmos  mais do que precisamos. E,  tal qual os índios americanos, podemos dizer: "Plantas queridas, um dia nossos corpos retornarão à vos para tornarem-se alimento para vossas raízes".




Gurudev Shree Chitrabhanuji

Os alimentos básicos de uma dieta vegetariana são grãos, legumes, verduras, frutas, nozes e sementes. A proteína que se busca em qualquer dieta alimentar é conseguida facilmente por meio de uma grande variedade de combinações, em especial, cereais e leguminosas. Leguminosas como lentilhas, ervilhas, grão de bico, soja, feijões de vários tipos, podem ser transformadas em sopas, cozidos, hambúrgueres vegetais, etc. e servidas com grãos integrais, como arroz, cevada, milho, trigo, aveia e outros. Outras fontes de nutrição são nozes, sementes de girassol, gergelim, castanha de caju, amêndoa e que podem ser colocadas, inclusive, no pão integral (uma merenda escolar com esses itens é muito saudável para as crianças). Os alimentos acima mencionados fornecem proteínas de alta qualidade e uma vasta gama de vitaminas e sais minerais. 


Na verdade, nós não precisamos de tanta proteína como temos sido levados a acreditar.  O excesso de proteína pode acarretar 
o aumento dos níveis de ácido úrico no sangue.  Isso sobrecarrega todo organismo e gera muitas enfermidades.

Muitos vegetais, tais como, repolho cru, cenoura, beterraba, abóbora, aipo podem ser ralados ou fatiados e misturados às verduras; dão ótimas saladas.  Pode-se agregar a essas saladas tomates frescos, pimentões, couve e sementes de girassol, pois contem importantes nutrientes.  O abacate , também tem sido muito elogiado como alimento completo.  Ricos em ferro vegetais de folhas verdes como abóboras, brócolis, couve-flor, batata estão podem ser cozidos, ou cozinhados no vapor, sem perder suas propriedades nutricionais.  Frutas da temporada são suplementos vitamínicos naturais; alguma pessoas consideram-nas alimentos fundamentais para sua dieta.


Quando as plantas são a fonte direta da alimentação, elas fornecem o combustível mais eficiente para a manutenção do corpo e para o seu bem-estar.  Testemunhamos isso observando o elefante, o touro, o gorila, o cavalo e outros animais de grande porte. Todos são vegetarianos, todos extraem os nutrientes  das plantas; uma vez assim, nós, também podemos.  As plantas recebem energia diretamente do sol, ar, água e solo, o que lhes dá a capacidade de transmitir vitalidade e energia para nós. Quando um animal ingere um vegetal, ele está se nutrindo da energia original desse vegetal.  Os seres humanos que se alimentam de carne tem portanto, uma refeição desvitalizada, uma vez que estão ingerindo energia de segunda mão.




QUAIS OS BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE DE UMA DIETA VEGETARIANA

Mais e mais médicos de todo o mundo estão descobrindo que aqueles que comem uma dieta à base de vegetais ricos em fibras estão comendo, automaticamente, menos colesterol e gordura, e são menos propensos a se tornarem vítimas de ataque cardíaco, câncer, pressão alta, hipertensão e outra doenças.  


Inclusive na terceira idade a saúde e a clareza mental podem ser desfrutadas se o corpo se nutrir com comidas puras, sem derramamento de sangue.  Estes resultados são a regra não a exceção. Na idade avançada a doença, a decrepitude, o tédio não são inevitáveis. Se vivermos corretamente, respeitando as necessidades do corpo - se bebermos água suficiente, se relaxarmos, se usufruirmos de ar puro, se fizermos exercícios diários, se entrarmos em sintonia com os alimentos que melhor serão assimilados por nosso organismo - podemos permanecer saudáveis e cheios de energia até nossos últimos dias. Quando temos vitalidade e reverência, nosso corpo torna-se o nosso templo, irradiando bem-estar e harmonia.






3 comentários:

  1. Só faltou receitas jainas

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    1. Olá, obrigada pela visita a este blog. Quanto a sua sugestão - quem sabe ? - futuramente, coloque uma seção só de receitas. Mas creio que não fará muito sucesso, pois a culinária jaina não utiliza alho, cebola e ovos em seus pratos. Três itens que a maioria dos ocidentais não abre mão, não é verdade? Sabedoria, paz e alegria para você.

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  2. Pode colocar meu amigo
    Eu não como ovos alhos nem cebolas
    Ótimo blog

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