ASCETISMO DIGAMBARA

ASCETISMO DIGAMBARA

monge Acharya Shri Vidyasagar ji Maharaja

Os monges Digambaras são conhecidos  como "Munis" ou "Muni Maharaj". Eles se organizam em grupos e em cada grupo existe um líder ou mestre espiritual (ou Acharya).

A pessoa homem ou mulher que quer renunciar ao mundo para ser um monge, ou monja jaina tem que, progressivamente, ir se qualificando para atingir esse fim. Devem estar seguros que querem tomar os 11 votos básicos da doutrina. Gradativamente, eles se esforçam por: 

- controlar o seu comportamento, 

- abster-se de praticar qualquer tipo de violência, 

- dizer a verdade, 

- desistir  de posses e apegos 

- e viver uma vida de celibato.  

Depois de certo tempo de preparo e já julgando-se aptos a vida monástica, eles procuram um "Acharya" e pedem sua permissão para realizar "diksha" (ou iniciação). Se o candidato é uma pessoa maior de idade, não tem limitações físicas e se obteve o consentimento de seus familiares - pais ou esposa - ele recebe permissão para renunciar ao mundo.  A comunidade, então, se reúne em uma atmosfera festiva.  O candidato veste-se com pompa e é levado em procissão sobre um carro ou elefante. Depois sua cabeça é raspada e lhe oferecem um traje de monge. A partir daí recebe um novo nome.  O nome deve ser composto, isto é, o nome escolhido acrescentado de outro, que geralmente é "sagara" (oceano) ou ananda (alegria, bem-aventurança). Exemplos:

Santisgara - que quer dizer "o oceano de paz"

Vidyananda - que quer dizer "a alegria do conhecimento"

No monacato Digambara existe três etapas que os monges devem seguir. Os monges na primeira etapa são chamados de "ksullaka" e estão autorizados a usar duas peças de roupa branca.  Os monges no segundo estágio são chamados de "ellaka" e devem usar uma tanga.  Os monges da terceira e última fase chamam-se "munis" e têm que andar nus.

Diferentes graus de ascetismo são esperados dos monges nessas três etapas.  Exemplificando: os "ksullakas" podem raspar a cabeça, diferentemente, dos "ellakas" e "munis" que têm que arrancar os cabelos. Um monge na terceira fase come uma vez ao dia e na postura em pé, já um  "ksullaka" pode comer duas vezes ao dia e na postura sentada.

Rotina de um monge Digambara

Um monge Digambara não tem uma casa fixa, nem posses.  Ele vive nu e os únicos objetos que tem permissão para transportar é um pote com água (kamandalu) e um  espanador (pinchi) geralmente feito de penas de pavão. Para haver certeza que o monge leva uma vida ascética rigorosa, ele sempre vive na companhia de outros monges.  

Normalmente, um monge se levanta antes do nascer do sol. Em um campo aberto ele procura um trecho de terra para fazer suas necessidades diárias. Depois de lavar as mãos e os pés (os monges não podem tomar um banho completo) ele volta para seu quarto (ou outro compartimento) monástico. Nesse local ele realiza meditação, se aplica ao estudo dos textos sagrados. Pode, também,  entrar em reflexões para identificar e avaliar suas falhas, tais como: negligência para com os outros seres vivos, sua conduta ao falar ou agir, etc... Depois dessas atividades introspectivas vai a um templo próximo para cultuar os jinas (chaityavandana).  Na volta pára em alguma residência, onde mora alguma família jaina, a fim de  fazer a única refeição do dia.  É hábito dos monges Digambaras manterem o polegar e os outros quatro dedos da mão direita unidos - e dobrando os cotovelos -  descansa-los sobre o ombro direito  (esse gesto se chama "ahara mudra") para mostrar, por onde passa, que naquele dia ele irá comer. Os "sravakas" (pessoas de família jaina) ao verem essa sua postura, que já é indicativa de que o monge não está em jejum, se estiverem interessados em dar-lhe alimentos, o acolhem e o servem.  Um monge Digambara come em pé; com as próprias mãos recolhe o alimento e o leva a boca; não é permitido que tenha algum vasilhame para depositar a comida. A postura em pé é estabelecida para os monges porque, se eles, devido ao peso da idade ou doença terminal não aguentarem mais ficar nesta posição, todos entenderão o motivo que o leva a optar pelo Salekhana (jejum até a morte).  A comida que lhe é oferecida tem que ser estritamente vegetariana.  Ao término da refeição ele volta ao templo para, novamente, entrar em meditação durante, uma hora.  Essa meditação, geralmente, tem a finalidade de treinar a mente para a equanimidade - isto é, para que nem dor, nem alegria possam afetá-lo ou perturbá-lo. Se o monge não quiser continuar a sua viagem - um monge não pode permanecer no mesmo lugar por muito tempo - ele pode, após a saída do templo, reunir as pessoas da comunidade para fazer pregações ou oferecer-lhe aconselhamento espiritual. Mais tarde, os monges já reunidos, leem juntos alguma escritura e debatem assuntos religiosos.

monge Shri Vibhanjan Sagar Ji

Os monges, geralmente, passam a noite em uma cela sem janelas perto dos templos.  No verão eles dormem no chão e no inverno se utilizam de uma placa de madeira plana, coberta com palha.  Caso sintam frio eles praticam exercícios de yoga que aquecem o corpo.

Nas estações secas o monge é nômade; ele não deve se fixar num só lugar para que não crie apegos.  Porém, durante os quatro meses das monções (meses de chuvas) deve permanecer junto com seu Acharya, seu mestre espiritual, junto a uma comunidade jainista.  Isso porque no período das chuvas o crescimento e o desenvolvimento da vegetação, dos insetos e outros pequenos seres se torna portentoso; para que não venham a prejudicar ou matar vidas com as suas caminhadas, preferem se fixar numa cidade ou aldeia. 

Os monges não podem utilizar veículos - carro, barco, avião, etc. - para efetuar os seus percursos.  Eles têm  que andar descalços e evitar andar em ruas de grande movimento.  Para atravessar  rios têm que caminhar ao longo da margem até encontrar um pedaço de terra, onde sejam capazes de o cruzar. Ainda assim, a água não deve ser mais profunda do que o nível dos joelhos, pois aos monges não lhes é permitido nadar.

Os monges Digambaras não devem ter cabelos; por isso, quatro vezes ao ano eles têm que se desfazer deles.  Para tanto, eles próprios arrancam os seus. É quase uma cerimônia ou ritual. Isso é feito, comumente, na frente das pessoas das comunidades por ondem passam.  Primeiro eles esfregam cinzas sobre a cabeça, em seguida, eles arrancam os cabelos em mechas.  No caso de um monge já ter idade avançada ou ser fraco demais para isso, ele pede a alguém para puxar.  Hoje em dia essas tarefas são realizadas pelos administradores do templo com grande pompa.  O cabelo é coletado em bacias ou potes e é leiloado aos devotos que pagam altas somas por ele.

Quando um monge fica doente ele não come, nem bebe água. Devotos ficam em torno do moribundo para cantar canções religiosas. Após sua morte, o corpo é colocado na  postura sentada em um palanquim de madeira chamado "chakdo".  Ele é levado em procissão pelas ruas da comunidade e cremado em uma pira de sândalo.  De acordo com as escrituras antigas, no entanto, o corpo morto de um monge deve ser colocado em uma margem do rio para que possa ser levado nas águas e comido pelas aves.